Amanheço e é outono
Lugar de folhas castanhas
Desperta a alma do seu sono
Procura ver-se nas entranhas
Cores quentes outonais
Sob o pálido céu azul
Caem das nuvens vendavais
Vai-se a alegria com o vento do sul
O sol já não brilha como outrora
Chega a pequena brisa que fustiga
Torna-se mais opaco pela aurora
E a sua ausência castiga
Prenúncio do fim do dia
Mesmo se este vai a meio
Instalou-se a melancolia
Assim que o outono veio
Sem chilreios nem outras vozes
Só as bátegas nas vidraças
Bagas que escorrem velozes
A dar conta de desgraças
Fica sempre um vazio
No sensível coração
Com a partida do estio
Parece instalar-se a solidão
Estação mais triste, esta
Apesar das cores quentes
Sossego de fim de festa
Primeiro frio indecente
Não cansa um céu límpido
Nem o brilho de um sol quente
Desejo de um mar tépido
De uma alma sempre ardente
É outono. É velhice.
Nostalgia sem idade
Inverno precoce e cúmplice
Da nossa efemeridade.
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