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terça-feira, 14 de setembro de 2021

Descida ao inferno

Quem desce ao inferno vai só.

Permanece só

E se o abandonar, regressa só.

É solidão que mata pela ausência

Do ser amado.

Nenhuma mão pode travar

A queda vertiginosa 

Paradoxalmente desejada

Porque no lodo do fundo da alma,

Na mais profunda dor,

Se encontra a verdade, 

A desolação destruidora, amante do cinismo.

Um absurdo sem retorno ou redenção

Uma alma cega, surda e muda,

Uma alma morta e desfeita

Partida em ínfimos pedaços 

De impossível reparação.

O inferno é isto.

Se dele se regressa, 

É-se ténue lembrança de quem se foi,

De carcaça rija a amparar indiferente

Os golpes e as dores da existência...

Porque a dor maior ficou lá caída,

Último grito de resistência.

Porque o inferno é isto...

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