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sábado, 24 de julho de 2021

Crónica de Maus Costumes 242

 Em jeito de despedida

            Aproxima-se o final de um ano letivo e as merecidas férias. A sensação é a de encerrar dois anos letivos consecutivos, quase sem paragem. O Ensino à Distância (E@D) deixou marcas em todos: alunos e professores.

Estendeu-se o ano letivo e houve um terceiro período imenso e sem paragens. Os alunos pararam quinze dias, sem necessidade, logo na retoma do segundo período, porém, os professores, durante esse tempo, estiveram em reuniões pedagógicas e a preparar material que precisariam de usar nas aulas “on-line”, porque as aulas em presença e as aulas digitais exigem recursos, preparação e tempos diferentes. As últimas são mais trabalhosas e menos eficazes (pelo menos com crianças de pouca maturidade ainda). Valeu, porém, a experiência passada, motivo pelo qual esses quinze dias de encerramento foram absurdos e prejudiciais para todos. O problema do Governo era a falha nos computadores que tinham sido prometidos e demoraram a chegar, mas a lacuna continuou a existir e ainda não está resolvida.

Como mãe, apesar de me preocupar estes dois anos cruciais, mas atabalhoados que a minha filha viveu, em que a consolidação das aprendizagens (3º e 4º anos) foi posta em risco, considerei um disparate o prolongamento até oito de julho. Nas últimas duas semanas, a minha pequena só pedia que a escola terminasse, já cansada de tudo e com vontade de ficar em casa. Muito nunca significou bem feito e é essa a sensação com que fico. O Ministério quis compensar o tempo perdido, mas para haver aprendizagem é necessário que haja predisposição para aprender e motivação. Nas últimas semanas, não as sentia na minha pequenota. Ela, sempre tão responsável e briosa! Havia sobretudo cansaço. Tal como o meu, que respirei fundo quando as aulas chegaram ao fim (escrevi aulas e não trabalho). Porém, quando o ano letivo já vai longo, o trabalho que não exige a permanência com alunos em sala de aula parece mais suave.

De modo que estas férias são, certamente, muito desejadas. Espero que sejam o encerramento de um ciclo e o início de um novo capítulo. Preferencialmente, sem confinamentos e sem ecrãs entre alunos e professores. Precisamos todos de resgatar as nossas vidas e a nossa normalidade. Depois, termina o quadriénio, o que significa que para os professores de quadro é ano de concurso. Para os professores contratados é-o todos os anos! Muitas vidas ainda por resolver. Para mim, a angústia é um pouco menor do que já foi, pois há o vínculo à zona, mas não há o vínculo à escola. A minha egoísta angústia é a de ter o vínculo emocional construído ao longo de seis anos e de não o querer desfeito. É tempo de esperança, mas de incerteza também. Mantenho a real esperança de poder regressar aonde gosto de estar, mas não há certezas, de modo que me resta agradecer, antes de mais, à direção, a simpatia, a cordialidade e a disponibilidade com que sempre me receberam. Tentei fazer o meu melhor. Terei falhado, eventualmente, e peço desculpa se aconteceu, porém, parto de consciência tranquila por ter dado de mim o melhor que pude e soube fazer.

Aos colegas de trabalho, dizer-vos que foi um prazer privar e trabalhar convosco. Grata pela colaboração, pelo espírito de entreajuda e pela simpatia. Nalguns casos, grata pela amizade que nos liga. Uma boa escola vai para além do edifício confortável, porque a boa escola é construída com bons seres humanos. A qualidade do relacionamento interpessoal entre pares, entre as estruturas intermédias e as estruturas de gestão nunca me faltou. Também eu tentei não vos falhar e colaborar da melhor forma que soube. Perdoai se, eventualmente, não o consegui. Pura incapacidade e não qualquer espécie de ronha.

Resta-me, então, desejar umas boas férias a todos, com a esperança de reencontrar muitos em setembro próximo. Faço votos para que a vida vos traga o que desejais. Deixo um abraço apertado aos contratados, ainda mais dependentes da boa vontade dos deuses dos concursos do que eu e também aos recém-chegados ao quadro de zona. Que as moiras (as três irmãs, deusas gregas do destino) estejam connosco.

Por fim, dizer aos que me acompanham nas lides da escrita que a rubrica “Crónica de Maus Costumes” parte também para férias, no próximo fim de semana.  Preciso de desintoxicar-me e o número 242 representa quase cinco anos de textos semanais. Ainda hei de descobrir como os aguentais…

 Nina M.

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