Em jeito de despedida
Aproxima-se o final de um ano letivo e
as merecidas férias. A sensação é a de encerrar dois anos letivos consecutivos,
quase sem paragem. O Ensino à Distância (E@D) deixou marcas em todos: alunos e
professores.
Estendeu-se
o ano letivo e houve um terceiro período imenso e sem paragens. Os alunos
pararam quinze dias, sem necessidade, logo na retoma do segundo período, porém,
os professores, durante esse tempo, estiveram em reuniões pedagógicas e a
preparar material que precisariam de usar nas aulas “on-line”, porque as aulas
em presença e as aulas digitais exigem recursos, preparação e tempos
diferentes. As últimas são mais trabalhosas e menos eficazes (pelo menos com
crianças de pouca maturidade ainda). Valeu, porém, a experiência passada,
motivo pelo qual esses quinze dias de encerramento foram absurdos e
prejudiciais para todos. O problema do Governo era a falha nos computadores que
tinham sido prometidos e demoraram a chegar, mas a lacuna continuou a existir e
ainda não está resolvida.
Como
mãe, apesar de me preocupar estes dois anos cruciais, mas atabalhoados que a
minha filha viveu, em que a consolidação das aprendizagens (3º e 4º anos) foi
posta em risco, considerei um disparate o prolongamento até oito de julho. Nas
últimas duas semanas, a minha pequena só pedia que a escola terminasse, já
cansada de tudo e com vontade de ficar em casa. Muito nunca significou bem
feito e é essa a sensação com que fico. O Ministério quis compensar o tempo
perdido, mas para haver aprendizagem é necessário que haja predisposição para
aprender e motivação. Nas últimas semanas, não as sentia na minha pequenota.
Ela, sempre tão responsável e briosa! Havia sobretudo cansaço. Tal como o meu,
que respirei fundo quando as aulas chegaram ao fim (escrevi aulas e não
trabalho). Porém, quando o ano letivo já vai longo, o trabalho que não exige a
permanência com alunos em sala de aula parece mais suave.
De
modo que estas férias são, certamente, muito desejadas. Espero que sejam o
encerramento de um ciclo e o início de um novo capítulo. Preferencialmente, sem
confinamentos e sem ecrãs entre alunos e professores. Precisamos todos de
resgatar as nossas vidas e a nossa normalidade. Depois, termina o quadriénio, o
que significa que para os professores de quadro é ano de concurso. Para os
professores contratados é-o todos os anos! Muitas vidas ainda por resolver.
Para mim, a angústia é um pouco menor do que já foi, pois há o vínculo à zona,
mas não há o vínculo à escola. A minha egoísta angústia é a de ter o vínculo
emocional construído ao longo de seis anos e de não o querer desfeito. É tempo
de esperança, mas de incerteza também. Mantenho a real esperança de poder
regressar aonde gosto de estar, mas não há certezas, de modo que me resta
agradecer, antes de mais, à direção, a simpatia, a cordialidade e a
disponibilidade com que sempre me receberam. Tentei fazer o meu melhor. Terei
falhado, eventualmente, e peço desculpa se aconteceu, porém, parto de
consciência tranquila por ter dado de mim o melhor que pude e soube fazer.
Aos
colegas de trabalho, dizer-vos que foi um prazer privar e trabalhar convosco.
Grata pela colaboração, pelo espírito de entreajuda e pela simpatia. Nalguns
casos, grata pela amizade que nos liga. Uma boa escola vai para além do
edifício confortável, porque a boa escola é construída com bons seres humanos.
A qualidade do relacionamento interpessoal entre pares, entre as estruturas
intermédias e as estruturas de gestão nunca me faltou. Também eu tentei não vos
falhar e colaborar da melhor forma que soube. Perdoai se, eventualmente, não o
consegui. Pura incapacidade e não qualquer espécie de ronha.
Resta-me,
então, desejar umas boas férias a todos, com a esperança de reencontrar muitos
em setembro próximo. Faço votos para que a vida vos traga o que desejais. Deixo
um abraço apertado aos contratados, ainda mais dependentes da boa vontade dos
deuses dos concursos do que eu e também aos recém-chegados ao quadro de zona.
Que as moiras (as três irmãs, deusas gregas do destino) estejam connosco.
Por
fim, dizer aos que me acompanham nas lides da escrita que a rubrica “Crónica de
Maus Costumes” parte também para férias, no próximo fim de semana. Preciso de desintoxicar-me e o número 242
representa quase cinco anos de textos semanais. Ainda hei de descobrir como os aguentais…
Nina M.
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