É um retrato antigo como
As mãos encarquilhadas
E os olhos rasos de água
Que o olham...
Distante longínquo
Um tempo que já foi
E não se tem...
Olha-se o velho retrato
Tem engelhas como o rosto já envelhecido
As pontas viradas do desgaste
A imagem de um tempo feliz
O riso fácil que se solta da folha a sépia
E bate áspero no rosto
A lembrar como dói
A lembrar que jamais voltará a ser como era
E esse fragmento de tempo o segundo do disparo
Eternizado num pedaço gasto de papel
Uma felicidade atrevida nos dias que passam hoje
E não é mais esse tempo da memória
Que se quer trazer agarrado à mão
Nem essa felicidade perdida de antes
Impossível de resgatar
Nada disso se lamenta porque
Há a viagem da memória que recupera
Os fragmentos de vida intactos e redondos
É antes a ingenuidade perdida que agora nos escapa
É a alegria tonta solta e inconsciente
A encobrir as inquietações
Mas isso...
Isso não se resgata.
Nem mesmo se decrescêssemos na idade
A caminhar para a infância ao invés da velhice
É esse o maior roubo de Cronos
Esse gatuno de beleza juventude e de pureza
Nada nunca será como foi
Nem vivido num eterno retorno
Nem nunca o maior encanto
Terá o brilho de outrora
Tudo será triste canto
Se vem de um coração que chora
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