Seguidores

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Retrato

 É um retrato antigo como 

As mãos encarquilhadas

E os olhos rasos de água

Que o olham...

Distante longínquo 

Um tempo que já foi

E não se tem...

Olha-se o velho retrato

Tem engelhas como o rosto já envelhecido

As pontas viradas do desgaste

A imagem de um tempo feliz

O riso fácil que se solta da folha a sépia

E bate áspero no rosto

A lembrar como dói

A lembrar que jamais voltará a ser como era

E esse fragmento de tempo o segundo do disparo

Eternizado num pedaço gasto de papel

Uma felicidade atrevida nos dias que passam hoje

E não é mais esse tempo da memória

Que se quer trazer agarrado à mão

Nem essa felicidade perdida de antes 

Impossível de resgatar

Nada disso se lamenta porque

Há a viagem da memória que recupera

Os fragmentos de vida intactos e redondos

É antes a ingenuidade perdida que agora nos escapa

É a alegria tonta solta e inconsciente

A encobrir as inquietações

Mas isso...

Isso não se resgata.

Nem mesmo se decrescêssemos na idade

A caminhar para a infância ao invés da velhice

É esse  o maior roubo de Cronos

Esse gatuno de beleza juventude e de pureza

Nada nunca será como foi

Nem vivido num eterno retorno

Nem nunca o maior encanto

Terá o brilho de outrora

Tudo será triste canto

Se vem de um coração que chora


Sem comentários:

Enviar um comentário