As desventuras do André…
Não publiquei qualquer foto de beiços
vermelhos. Com máscara, não uso batom e quando uso, normalmente, não é
vermelho… No entanto, não significa que concorde com as palavras de André
Ventura, bem pelo contrário, o André representa o que eu não quero para o país.
Considero indecente recorrer ao
insulto pessoal para desprestigiar os adversários e o comentário sexista feito
à candidata do Bloco de Esquerda, revela um machismo que deveria estar em
desuso num candidato à Presidência do país. A Marisa e toda a mulher podem usar
o batom da cor que quiserem e, pelo facto de o André não apreciar a cor (ainda
que não compreenda, já que é a mesma do clube que cegamente defende), não lhe
confere o direito de insinuar o que quer que seja. Debata ideias, André, não a
cor do batom ou do traje. Posso concluir que o André é do tipo de homem que,
aparentemente, não gosta da mulher que se faz salientar. Se a Marisa se
salienta, certamente, não terá nada a ver com a cor do batom que usa. Já não
estamos no tempo em que a mulher pode ser tudo, desde que não ultrapasse o
homem em visibilidade. Depois, senhor Ventura, a mulher é esse ser
extraordinário, que além de inteligente, ainda pode ser belo e, veja lá, pode inclusivamente
gostar de valorizar os seus atributos, seja com batom, seja com roupas justas
que lhe evidenciem a silhueta ou com o salto alto que lhe traz imponência. Ou o
André é um heterossexual indiferente à beleza curvilínea da mulher (parece-me,
francamente, improvável, pelo que vou conhecendo da natureza masculina e que
toda a mulher poderá confirmar pelo que vai ouvindo dos seus amores e paixões)
ou então é um fingido! Lembra-me aqueles homens que da esposa exigem o
comportamento mais casto e depois procuram a luxúria que lhes interditam nos
braços das devassas dos prostíbulos. Não precisa de ter medo de uma mulher
bonita, apelativa e inteligente, caro André! Isso só revela a sua insegurança,
o medo de que o ofusquem…
Pode
haver quem diga que o André também tem sido vítima de insultos, principalmente,
nas redes sociais. Acredito, porque quem as frequenta sabe que a elegância não
é a principal virtude do povo português. As pessoas julgam-se no direito, em
nome da liberdade, pois confundem o conceito com má-educação e má-formação, de
dizerem o que lhes apetece por se encontrarem refugiadas atrás de um ecrã.
Porém, dirigir-se de forma insultuosa aos seus adversários, num comício,
insinuando má conduta por parte deles e tecendo juízos de valor, é inaceitável!
Eu não gosto de si, André, pelos ideais que defende e pela sua hipocrisia. O
Ventura vive da mesma hipocrisia de que acusa os outros e, para mim, isso é
intolerável. O André quer-se fazer passar por suposto moralista, por defensor
dos oprimidos e por defensor irrepreensível do que chamará de justiça social.
Em primeiro lugar, não há maior pecador do que o moralista fanático. É preciso
lembrar-lhe a existência da Inquisição e do Tribunal do Santo Ofício, André?!
Tudo gente de bem, defensora da religião cristã e tão moralista, que na
prática, fez o contrário da moral apregoada.
O André fala das aprovações do
Parlamento, mas falta constantemente às votações de projetos de lei. O André
fala da falta de ética existente na acumulação de funções, tendo defendido
acerrimamente o regime de exclusividade, mas faz trabalho de consultoria, onde
explica a gente séria como fugir aos impostos e colocar dinheiro em offshores. O André fala da pedofilia
(crime que eu abomino e me revolve as entranhas e também considero que a
justiça deveria ter mão bem mais pesada), mas defende a sua descriminalização a
partir dos catorze anos. O André finge-se preocupado com as forças de segurança
e com os professores, mas lendo o seu programa político, percebe-se que nem uma
nem outra classe teriam muita sorte, caso governasse este país. O André vive da
polarização da sociedade e do seu estudo sociológico. O André compreende os
principais receios do povo português e joga com eles. O seu eleitorado, sedento
de ver a sua perceção confirmada, ou finge não saber desta hipocrisia ou
escolhe memorizar apenas os discursos de Ventura, esquecendo os seus
comportamentos. Qualquer português quer um combate sério à corrupção (mas não é
um candidato incapaz de admitir as estranhezas que ocorrem nos meandros do
clube que apoia, bem como o envolvimento do seu presidente, que estará nas
melhores condições para o fazer). Os que não se apercebem disto são, porém, os
mesmos que aplaudiam o Rui Rio, quando ele decidiu separar totalmente o
exercício político do meio futebolístico, virando as Costas a Pinto da Costa e
ao Futebol Clube do Porto… Eu penso que o Rio esteve bem, nesta matéria, embora
pecasse por exagero. Para manter a distância não havia necessidade de fechar a
Câmara aos festejos do clube que também é baluarte da cidade e que lhe leva o
nome lá fora. Todavia, nada disto servirá para combater o André Ventura, porque
ele conhece os discursos que mobilizam a população e usa-os a seu favor.
Fomenta a ira contra as minorias. Todos nós, meros plebeus, conhecemos os
discursos contra os que não querem trabalhar, porque preferem estar em casa a
usufruir dos apoios sociais a terem que se pôr a pé cedo para ir trabalhar e,
ao final do mês, trazer um salário mínimo vergonhoso para casa… Há esta
perceção e o Ventura, sem qualquer estudo, que o comprove, atira a pérola do
“ser metade do país a trabalhar para outra metade”. Pelo meio, esquece-se de
que, independentemente de poder haver alguma razão, há muitas vezes crianças
que não podem padecer pelos erros dos progenitores. Se uma sociedade perde a
capacidade de fornecer proteção social aos seus cidadãos, então, desumaniza-se.
O que é preciso é haver um acompanhamento e uma fiscalização séria, mas isso é
o mais difícil e o André também não sabe como fazer, portanto, é mais fácil
cortar a eito, sem condescendência nem ponderação.
Os
outros candidatos e os outros partidos têm de mudar de estratégia. Devem
começar por combater a hipocrisia e a corrupção internas, ter uma postura
responsável e de diálogo sério e honesto com as diferentes classes
profissionais. Têm de ser mais transparentes nos seus propósitos e mais
zeladores do Estado.
O André é um pirómano social e os seus
adversários não estão a ser capazes de lhe retirar a tocha da mão.
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