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sábado, 23 de janeiro de 2021

Crónica de Maus Costumes 216

 Confinamento e bravatas de irmãos…

         Voltamos ao mesmo. O calendário parou e, de repente, parece que estamos novamente em março. Quase tudo encerrado e, naturalmente, as escolas também…

 Há quem conteste a medida inesperada do encerramento com pausa nas atividades letivas. Porém, sabemos que as condições para que ninguém ficasse sem equipamento não foram acauteladas atempadamente. Para evitar a crítica do fosso que novamente se criaria entre os que podem facilmente ter aulas online e os que não podem, o Governo decidiu não avançar. As escolas estavam preparadas e têm os seus planos de contingência há muito elaborados, mas os computadores ainda não chegaram a todos. Alguns já os receberam, mas outros permanecem à espera. Não discordo do Governo nesta matéria. Como professora, considero esta paragem horrível. Andamos um período para fazer com que os alunos voltassem a adquirir alguns hábitos de trabalho. Eles não estão habituados a ser autónomos. Mesmo dentro da sala de aula é uma luta para que cumpram com as tarefas que se solicitam. Fazem-no devagar, devagarinho, sempre na procrastinação. Dão-me cabo dos nervos, porque apesar de procrastinar algumas vezes, quando começo a trabalhar é para levar até ao fim o melhor que puder… É difícil gerir estas diferenças... Falo essencialmente do 3º ciclo, porque os alunos do secundário, normalmente, fazem-me mais feliz. Têm outras expetativas e começam a perceber que têm de trabalhar mais seriamente, para além de poder falar de outra forma de Literatura e de articular com a História e a Filosofia, que é o que verdadeiramente me dá prazer. No entanto, não havendo outra possibilidade, a escola fechou e o Governo entendeu que os alunos estão de férias. Naturalmente, estes dias serão compensados, portanto, efetivamente, os alunos estão de férias. Há quem conteste, porque os miúdos estarão novamente quinze dias à mercê das tecnologias. Compete aos progenitores assegurar que tal não aconteça. Para aqueles pais que estão também em casa será mais fácil, quanto aos outros, os que se ausentam para trabalhar deverão arranjar estratégias. Uma das razões pelas quais não gosto do ensino à distância é precisamente por me obrigar a passar o dia em frente a um ecrã e se não é nada bom em termos de saúde que os miúdos passem assim o dia a jogar, também não é melhor que o façam para estudar. Não acredito, mas quem me dera que no final destes quinze dias regressássemos ao presencial! Não será possível e creio que pelo menos outros quinze dias ou três semanas de ensino à distância, ninguém nos tira. O que fazer? Há que ter paciência e esperar que a população perceba que o não cumprimento dos cuidados dá nisto: escolas fechadas e miúdos em casa!

Não é fácil… Acabei de gerir conflitos…

- Deixa-me passar! – Grita a miúda.

- Diz a senha: o Rodrigo é lindo!

- Não digo. O Rodrigo é feio…

E é esta guinchadeira à qual se tenta pôr cobro, primeiramente, de forma racional, mas a partir de certa altura, não resultando a famosa pedagogia do diálogo compreensivo, passa-se à ameaça de colher de silicone em riste (a de pau parte facilmente… Já parti duas no balcão para não as partir no rabo de alguém) e a coisa ameniza, porque a mãe, apesar de carinhosa, fora de si, não é muito certa!...

Quinze dias disto, trancados em casa, sem terem como libertar as energias na rua, sem autorização para passarem demasiado tempo nos ecrãs e com a obrigação de continuarem a estudar alguma coisa, não vai ser fácil… O aspeto positivo é que passados quinze minutos são novamente os maiores amigos do mundo! É como se nunca se tivessem aborrecido um com o outro e a paz volta a reinar…

Irmãos são feitos destes desaguisados, mas também cheios de amor! Ser irmão é também sair da cama, já depois de estar deitado e quente, para se certificar de que a irmã não se esqueceu de desligar o cobertor elétrico para não morrer assada! É viver esta relação de amor-ódio, em que se aprende a defender a nossa posição, mas também a ceder e a partilhar e, por mais que o outro nos aborreça, ele é também um pedaço de nós a quem queremos bem.

Olho para os meus filhos e recuo no tempo… Vejo-me a mim e ao meu irmão mais velho, exatamente assim… Sempre pegados e sempre atrás um do outro… O mais novo não dava vida… Queria paz e sossego… Sempre acusado por nós de ser o menino… Logicamente, desde quando é que o sossego dá problemas? O problema era causado por nós, sempre a implicar, mas a ficar contrito quando se via o outro a apanhar uns tabefes…

O que dizer?! Há que respirar bem fundo, pausadamente, e comer quilos de paciência ao pequeno-almoço!

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

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