Pulhitiquices
Não consigo passar ao lado do tema
da semana, uma vez que não vivo alheada da realidade que me circunda, na qual
me movo e que é a realidade do meu país e dos meus filhos.
Faço desde já a minha declaração de
interesses para não ser mal interpretada na reflexão que farei, que é apenas
isso, a minha visão e análise, à luz do que sou e do que sei e do que vou
procurando saber. Naturalmente, haverá quem concorde e quem discorde e ainda
bem. A democracia admite sempre o pensamento divergente e plural. Normalmente, eu
tenho problemas com o inverso: a admissão de um pensamento único e totalitário.
Porém, para não me perder, começo por referir a minha absoluta independência
partidária. Não sou, nunca fui e não tenciono ser filiada em qualquer partido
político, pelo motivo mais egoísta que pode haver: a manutenção da minha
liberdade, da minha individualidade, da minha consciência e da minha
integridade. Teria muita dificuldade em seguir a orientação do partido, se não
concordasse com o sentido de voto. Seria vender a minha alma ao diabo e ela
pode não ser a melhor coisa do mundo, mas é minha e não está à venda. Há quem a
tenha toda, mas é uma dádiva que faço, no exercício da minha liberdade. Dito
isto, acrescentar que repudio todo e qualquer regime repressivo das liberdades
e qualquer regime totalitário, seja ele de direita ou de esquerda.
A polémica
estalou com o acordo feito pelo PSD Açores relativamente a algumas matérias com
todos os partidos do espectro político alinhado à direita, incluindo o CHEGA.
Eu compreendo as razões, mas discordo da estratégia. Penso que o PSD de Rui
Rio, enquanto partido passível de ser eixo governativo, não deveria ter
sucumbido à tentação. Fez o mesmo que o primeiro-ministro na sua primeira
legislatura. Na altura, também não me pareceu ético a geringonça arranjada. Foi
mero assalto ao poder, tal como o é agora, mesmo que a legislação o preveja.
Estou completamente à vontade para o poder dizer, já que não votei em nenhum do
candidatos. Ora, os socialistas estão a provar do próprio veneno e fazem-se de
virgens ofendidas e o PSD a fazer o que tanto criticou. Hipocrisias políticas
que detesto solenemente. Levantaram-se de imediato vozes contra (incluindo
dentro da própria estrutura partidária) e a opção pode ser criticada (eu mesma
já afirmei discordar da estratégia), já o argumento de que o CHEGA é um partido
de direita radical e que não deveria sequer existir, lembro que se existe,
obteve o aval do Tribunal Constitucional, instituição idónea e que, certamente,
analisou cuidadosamente o seu programa e não encontrou matéria de fundo para
impedir a formação do novo partido. Se gosto dele? Não. Se o aceito? Pois se
vivo em democracia e a defendo, tenho de o tolerar. Posso ter o dever cívico de
contestar a sua ideologia, mas a democracia não abre exceções para o que se não
gosta. Tal como não gosto deste partido conotado com a direita radical, também
não gosto dos partidos de extrema-esquerda e que, na minha humilde opinião,
também existem em Portugal, mas tolero-os e, neste momento, até são parte da
geringonça. Instalada a polémica, não faltaram debates e comentadores a saltar
a terreiro utilizando o argumento de que o CHEGA não pode ser viabilizado na
nossa democracia e que não se pode confundir o PCP ou o BE com ele. É
apresentado o argumento da luta do partido comunista contra o fascismo e do papel
vital da ex-União Soviética no combate contra o nazismo. De facto, não se pode
negar nem uma coisa nem outra, todavia, é preciso lembrar que os russos
libertaram diversos países europeus, mas de seguida impuseram o seu
totalitarismo. Não falta literatura a relatar os malefícios feitos ao povo, que
se viu livre do jugo alemão para passar a estar sob o jugo soviético. Quem lê
Milan Kundera, por exemplo, no seu romance mais famoso, A Insustentável Leveza do Ser, percebe o que foi e como foi e
compreende porque o escritor checo se mudou para Paris e escreve, atualmente,
em francês. De salientar que ele viu a sua nacionalidade retirada pelo partido
comunista da ex-Checoslováquia e que lhe foi restituída há relativamente pouco
tempo, quarenta anos depois. Tudo gente muito democrática! E se acaso se lembra
o genocídio perpetrado por Estaline, as ditaduras atuais na Venezuela, Coreia
do Norte, China e Rússia e a miséria daquele povo, bem como a falta de
liberdade, perante este contra-argumento, surge a justificação de que o
comunismo português não tem as mesmas características nem é um partido
extremista. Pois muito bem… Lembram-se que Chávez também começou por ser
democraticamente eleito, certo?! Lembram-se da situação da Venezuela antes de
Chávez e depois dele e pior ainda com Maduro, correto?! Também era suposto
esses senhores respeitarem a democracia e os seus valores! Em Portugal, o
partido comunista nunca conseguiu fazer o mesmo, felizmente! Porém, foi só por
falta de oportunidade, pois quem lutou por um verdadeiro regime democrático, no
25 de abril não deixou! O que foi o 25 de novembro? Uma tentativa
revolucionária falhada para instaurar uma ditadura de esquerda, apoiada no
regime soviético! O que foi a COPCON e de que forma foi utilizada? De repente,
parecem todos uns meninos de coro e já não há paciência para essa complacência
para com uma esquerda totalitária e castradora da dignidade e da liberdade do
Homem! Não significa isto que defendo o Ventura ou fascismos (detesto a sua
figura machista e hipócrita). Pelo contrário, repudio-os com toda a força da
minha alma e bastou uma época de terror e de perseguições e de morte cruel! A
era das trevas já passou e que fascismos e nazismos sejam definitivamente
sepultados. Porém, não acredito na ideia romantizada que muitos portugueses
fazem do movimento comunista no nosso país. Dei-me ao trabalho de ler os
programas políticos portugueses e, pela forma como estão redigidos, parece que
qualquer um deles serve! Todos preconizam as liberdades, o desenvolvimento
político, social e económico, a melhoria das condições de vida dos cidadãos,
etc. Só não especificam exatamente como pretendem fazê-lo. O PCP lá vai falando
na reforma agrária e no combate aos latifúndios e criação de cooperativas
(significa isto nacionalizações e expropriações, acabando com a iniciativa dos
privados, com a propriedade e, logicamente, matando a economia) e o CHEGA fala
no liberalismo como antónimo de totalitarismo, no direito à diferença e não à
igualdade imposta por regimes totalitários, na não obrigatoriedade da escola
pública ou de serviços de saúde pública (significa isto retirar a saúde e a
educação das mãos do Estado, setores que lá devem permanecer por uma questão de
justiça e de equidade social e capitalismo mais selvagem ainda). Refira-se que
no programa deste não há qualquer menção xenófoba ou racista, porém, sabemos
bem o terreno que pisam. Sempre a diferença entre o que se escreve e o que se
poderia fazer e a eterna hipocrisia… Curiosamente, são estes dois partidos tão
antagónicos que mais usam as palavras liberdade e democracia. Nos programas do
PS e do PSD ela não é uma constante. Concluo, portanto, que para o “bloco
central” a liberdade já está instituída e deve ser respeitada e para os outros
dos extremos seja um conceito novo a reinventar e, por isso, o PCP fala numa
“democracia avançada” e o CHEGA na “IV República”!
Pela minha parte, espero que nenhum
deles chegue ao poder como a maior força política e espero bem que façam os
dois maiores partidos portugueses olharem para dentro e corrigirem seriamente
as suas asneiradas sucessivas. A corrupção massiva a que se assiste nestas duas
forças políticas (e estas verdadeiramente democráticas), as negociatas, os
conluios, os esquemas que desgraçam este país são os responsáveis pelo extremar
de posições e pela procura de alternativas que não o são verdadeiramente.
Recuperem rapidamente os verdadeiros ideais e de pouco mais precisaremos! Por
esta altura, Francisco Sá-Carneiro e Mário Soares conversam um com o outro,
levando as mãos à cabeça, apesar das suas diferenças…
Se não for viável a reestruturação
destes dois partidos sem socratismos, Varas, Loureiros, Duarte Limas e afins,
talvez prefira encomendar um Governo à Europa: Finlândia, Suíça, Suécia, Luxemburgo…
Qualquer um deles servia, a avaliar pelo nível de vida desses cidadãos e das suas
liberdades inquestionáveis! A dada altura, o nosso Eça, através do seu
alter-ego, João da Ega, desejou a bancarrota e a invasão espanhola. A
bancarrota, já veio por três vezes depois do vinte e cinco de abril (sempre
pelas mãos dos mesmos, em abono da verdade), quanto aos espanhóis, a avaliar
pelos últimos escândalos, a corrupção que temos já nos é suficiente! Deve ser
mal endémico da Península!
O panorama político português é um
vazio de ideias e de valores. Os partidos abandonaram os ideais pelos quais
valia a pena lutar. De modo que é sempre uma dor a cada eleição, por ver a hipocrisia estampada
entre o que afirmam e o que fazem. Temos tecnocratas que se tornaram políticos
de profissão, muitos deles nunca fizeram mais nada na vida e estão lá para se
servirem e não para prestarem um verdadeiro serviço aos seus concidadãos. É um
desalento, uma decadência moral sem fim à vista… Porém, apesar de tudo e ainda
assim, prefiro uma democracia doente a qualquer totalitarismo saudável. Os que
apregoam os benefícios de tais regimes e muitos encontram-se fora da sua
pátria, não sei o motivo que os leva a escolherem países de matriz totalmente
democrática em vez de experimentarem as infinitas liberdades oferecidas nesses
lugares idílicos! Não me cansarei de repetir à exaustão: totalitarismos nunca
mais! Nem de direita nem de esquerda.
Nina M.
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