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domingo, 15 de novembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 206

 

Pulhitiquices

 

            Não consigo passar ao lado do tema da semana, uma vez que não vivo alheada da realidade que me circunda, na qual me movo e que é a realidade do meu país e dos meus filhos.

            Faço desde já a minha declaração de interesses para não ser mal interpretada na reflexão que farei, que é apenas isso, a minha visão e análise, à luz do que sou e do que sei e do que vou procurando saber. Naturalmente, haverá quem concorde e quem discorde e ainda bem. A democracia admite sempre o pensamento divergente e plural. Normalmente, eu tenho problemas com o inverso: a admissão de um pensamento único e totalitário. Porém, para não me perder, começo por referir a minha absoluta independência partidária. Não sou, nunca fui e não tenciono ser filiada em qualquer partido político, pelo motivo mais egoísta que pode haver: a manutenção da minha liberdade, da minha individualidade, da minha consciência e da minha integridade. Teria muita dificuldade em seguir a orientação do partido, se não concordasse com o sentido de voto. Seria vender a minha alma ao diabo e ela pode não ser a melhor coisa do mundo, mas é minha e não está à venda. Há quem a tenha toda, mas é uma dádiva que faço, no exercício da minha liberdade. Dito isto, acrescentar que repudio todo e qualquer regime repressivo das liberdades e qualquer regime totalitário, seja ele de direita ou de esquerda.

            A polémica estalou com o acordo feito pelo PSD Açores relativamente a algumas matérias com todos os partidos do espectro político alinhado à direita, incluindo o CHEGA. Eu compreendo as razões, mas discordo da estratégia. Penso que o PSD de Rui Rio, enquanto partido passível de ser eixo governativo, não deveria ter sucumbido à tentação. Fez o mesmo que o primeiro-ministro na sua primeira legislatura. Na altura, também não me pareceu ético a geringonça arranjada. Foi mero assalto ao poder, tal como o é agora, mesmo que a legislação o preveja. Estou completamente à vontade para o poder dizer, já que não votei em nenhum do candidatos. Ora, os socialistas estão a provar do próprio veneno e fazem-se de virgens ofendidas e o PSD a fazer o que tanto criticou. Hipocrisias políticas que detesto solenemente. Levantaram-se de imediato vozes contra (incluindo dentro da própria estrutura partidária) e a opção pode ser criticada (eu mesma já afirmei discordar da estratégia), já o argumento de que o CHEGA é um partido de direita radical e que não deveria sequer existir, lembro que se existe, obteve o aval do Tribunal Constitucional, instituição idónea e que, certamente, analisou cuidadosamente o seu programa e não encontrou matéria de fundo para impedir a formação do novo partido. Se gosto dele? Não. Se o aceito? Pois se vivo em democracia e a defendo, tenho de o tolerar. Posso ter o dever cívico de contestar a sua ideologia, mas a democracia não abre exceções para o que se não gosta. Tal como não gosto deste partido conotado com a direita radical, também não gosto dos partidos de extrema-esquerda e que, na minha humilde opinião, também existem em Portugal, mas tolero-os e, neste momento, até são parte da geringonça. Instalada a polémica, não faltaram debates e comentadores a saltar a terreiro utilizando o argumento de que o CHEGA não pode ser viabilizado na nossa democracia e que não se pode confundir o PCP ou o BE com ele. É apresentado o argumento da luta do partido comunista contra o fascismo e do papel vital da ex-União Soviética no combate contra o nazismo. De facto, não se pode negar nem uma coisa nem outra, todavia, é preciso lembrar que os russos libertaram diversos países europeus, mas de seguida impuseram o seu totalitarismo. Não falta literatura a relatar os malefícios feitos ao povo, que se viu livre do jugo alemão para passar a estar sob o jugo soviético. Quem lê Milan Kundera, por exemplo, no seu romance mais famoso, A Insustentável Leveza do Ser, percebe o que foi e como foi e compreende porque o escritor checo se mudou para Paris e escreve, atualmente, em francês. De salientar que ele viu a sua nacionalidade retirada pelo partido comunista da ex-Checoslováquia e que lhe foi restituída há relativamente pouco tempo, quarenta anos depois. Tudo gente muito democrática! E se acaso se lembra o genocídio perpetrado por Estaline, as ditaduras atuais na Venezuela, Coreia do Norte, China e Rússia e a miséria daquele povo, bem como a falta de liberdade, perante este contra-argumento, surge a justificação de que o comunismo português não tem as mesmas características nem é um partido extremista. Pois muito bem… Lembram-se que Chávez também começou por ser democraticamente eleito, certo?! Lembram-se da situação da Venezuela antes de Chávez e depois dele e pior ainda com Maduro, correto?! Também era suposto esses senhores respeitarem a democracia e os seus valores! Em Portugal, o partido comunista nunca conseguiu fazer o mesmo, felizmente! Porém, foi só por falta de oportunidade, pois quem lutou por um verdadeiro regime democrático, no 25 de abril não deixou! O que foi o 25 de novembro? Uma tentativa revolucionária falhada para instaurar uma ditadura de esquerda, apoiada no regime soviético! O que foi a COPCON e de que forma foi utilizada? De repente, parecem todos uns meninos de coro e já não há paciência para essa complacência para com uma esquerda totalitária e castradora da dignidade e da liberdade do Homem! Não significa isto que defendo o Ventura ou fascismos (detesto a sua figura machista e hipócrita). Pelo contrário, repudio-os com toda a força da minha alma e bastou uma época de terror e de perseguições e de morte cruel! A era das trevas já passou e que fascismos e nazismos sejam definitivamente sepultados. Porém, não acredito na ideia romantizada que muitos portugueses fazem do movimento comunista no nosso país. Dei-me ao trabalho de ler os programas políticos portugueses e, pela forma como estão redigidos, parece que qualquer um deles serve! Todos preconizam as liberdades, o desenvolvimento político, social e económico, a melhoria das condições de vida dos cidadãos, etc. Só não especificam exatamente como pretendem fazê-lo. O PCP lá vai falando na reforma agrária e no combate aos latifúndios e criação de cooperativas (significa isto nacionalizações e expropriações, acabando com a iniciativa dos privados, com a propriedade e, logicamente, matando a economia) e o CHEGA fala no liberalismo como antónimo de totalitarismo, no direito à diferença e não à igualdade imposta por regimes totalitários, na não obrigatoriedade da escola pública ou de serviços de saúde pública (significa isto retirar a saúde e a educação das mãos do Estado, setores que lá devem permanecer por uma questão de justiça e de equidade social e capitalismo mais selvagem ainda). Refira-se que no programa deste não há qualquer menção xenófoba ou racista, porém, sabemos bem o terreno que pisam. Sempre a diferença entre o que se escreve e o que se poderia fazer e a eterna hipocrisia… Curiosamente, são estes dois partidos tão antagónicos que mais usam as palavras liberdade e democracia. Nos programas do PS e do PSD ela não é uma constante. Concluo, portanto, que para o “bloco central” a liberdade já está instituída e deve ser respeitada e para os outros dos extremos seja um conceito novo a reinventar e, por isso, o PCP fala numa “democracia avançada” e o CHEGA na “IV República”!

            Pela minha parte, espero que nenhum deles chegue ao poder como a maior força política e espero bem que façam os dois maiores partidos portugueses olharem para dentro e corrigirem seriamente as suas asneiradas sucessivas. A corrupção massiva a que se assiste nestas duas forças políticas (e estas verdadeiramente democráticas), as negociatas, os conluios, os esquemas que desgraçam este país são os responsáveis pelo extremar de posições e pela procura de alternativas que não o são verdadeiramente. Recuperem rapidamente os verdadeiros ideais e de pouco mais precisaremos! Por esta altura, Francisco Sá-Carneiro e Mário Soares conversam um com o outro, levando as mãos à cabeça, apesar das suas diferenças…

            Se não for viável a reestruturação destes dois partidos sem socratismos, Varas, Loureiros, Duarte Limas e afins, talvez prefira encomendar um Governo à Europa: Finlândia, Suíça, Suécia, Luxemburgo… Qualquer um deles servia, a avaliar pelo nível de vida desses cidadãos e das suas liberdades inquestionáveis! A dada altura, o nosso Eça, através do seu alter-ego, João da Ega, desejou a bancarrota e a invasão espanhola. A bancarrota, já veio por três vezes depois do vinte e cinco de abril (sempre pelas mãos dos mesmos, em abono da verdade), quanto aos espanhóis, a avaliar pelos últimos escândalos, a corrupção que temos já nos é suficiente! Deve ser mal endémico da Península!

            O panorama político português é um vazio de ideias e de valores. Os partidos abandonaram os ideais pelos quais valia a pena lutar. De modo que é sempre uma dor  a cada eleição, por ver a hipocrisia estampada entre o que afirmam e o que fazem. Temos tecnocratas que se tornaram políticos de profissão, muitos deles nunca fizeram mais nada na vida e estão lá para se servirem e não para prestarem um verdadeiro serviço aos seus concidadãos. É um desalento, uma decadência moral sem fim à vista… Porém, apesar de tudo e ainda assim, prefiro uma democracia doente a qualquer totalitarismo saudável. Os que apregoam os benefícios de tais regimes e muitos encontram-se fora da sua pátria, não sei o motivo que os leva a escolherem países de matriz totalmente democrática em vez de experimentarem as infinitas liberdades oferecidas nesses lugares idílicos! Não me cansarei de repetir à exaustão: totalitarismos nunca mais! Nem de direita nem de esquerda.

 

Nina M.

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