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domingo, 19 de abril de 2020

No silêncio pesado da noite

No silêncio pesado da noite
Quando a alma se sente mais leve e livre
Voltam passados presentes e futuros
Numa dança a passo incerto
E o maestro rígido, a vida,
Insatisfeito pelo descompasso na sinfonia
Numa perfeita insensatez dirige a orquestra
Ao sabor do seu compasso...
Escolhe os mezzo piano, mezzo forte ou pianíssimo
Como quer...
O pobre músico abnegado obedece ao regente
E a cada toada em si bemol
Estremece o coração
Desgostoso da funesta posição
A cada toada limpa agudiza-se a sua dor
Tal é a tirania da razão
O músico embora a saiba a lição
Alheio a tudo e concentrado em sua mão
Liberta a sua violência
Acaba com a sua prudência
Em inusitada destoada
Pasmam-se de espanto 
O maestro lívido de terror
Crava-lhe os olhos duas balas
E ele, o abnegado músico,
Num gesto cândido de ternura
Faz uma vénia sentida
Antes da inexorável despedida

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