A Europa da (des)união
Como vantagem trazida pela pandemia,
poderia perfeitamente começar por referir o facto de não ter de me levantar às
sete da manhã! Nunca gostei e julgo que nunca gostarei. Nem na velhice! Será
por isso normal que andem a achar-me menos resmungona ao acordar…
Evidentemente, o feitiozinho antissocial do despertar não se alterou por
completo… Adoro tomar a minha caneca de café puro com duas ou três tostas com
compota e um sumo de laranja natural sozinha, em silêncio e sem qualquer ruído ou
interferência. É a minha hora de meditação, sem meditação qualquer, porque o
café serve precisamente para tornar o meu cérebro funcional. Depois, como
indisciplinada incorrigível, borrifo-me para essa coisa de manter as rotinas e
não as mantenho tanto assim… Tanto almoço à 13:00 como às 14:00… Porém,
mantenho-me ocupada. Não me lamento por falta do que fazer, porque até ao
momento ainda não o senti. Na verdade, até se admiram comigo. Julgavam que ia
padecer dos males do confinamento, mas tenho mantido a serenidade. Talvez o
segredo se chame responsabilidade social e maturidade. Se isto tivesse
acontecido na minha juventude, enquanto estudante universitária, julgo que
teria efetivamente passado mal. A dificuldade em estar em casa era enorme!
Enfim, dona de uma ingenuidade absoluta e ainda com muitos sonhos à mistura,
talvez não sentisse verdadeiramente o espaço onde residia como meu… Hoje, se
pensar bem, a não ser o facto de não ter a escolha de poder sair quando quero,
a minha rotina em casa não mudou extraordinariamente! Enquanto houver
corridinhas higiénicas, leituras e escrita para fazer, tudo se leva com
tranquilidade. As tarefas domésticas também nunca faltam, assim as deseje!
Sobra mais tempo para olharmos o mundo vazio e mais silencioso e percebemos que
o que de facto é verdadeiramente importante para nós não está lá fora, mas
dentro. Falta o abraço amigo, o toque, as reuniões familiares, mas há mais
telefonemas. Na verdade, na impossibilidade de poder abraçar fisicamente as
pessoas, abraço-as com a alma e percebo como estão comigo, apesar do isolamento
social. Neste momento, é preciso foco para que tudo corra bem com os nossos e o
que tiver de ser feito, seja feito. Façamos tudo para que o momento em que
possamos abraçar novamente os que amamos, olhar a corrente do rio de que
gostamos ou as ondas do mar que acompanharam a nossa infância seja pleno de
significado e de sabor. Serão momentos mais límpidos.
Assim como devemos aprender algo
particularmente, que é a valorizar o que desvalorizávamos porque o tínhamos
como garantido, também a Europa precisa de aprender a sua lição. Sinto deceção
e tristeza e a (des)união europeia não voltará a ser a mesma. Esta crise
deveria servir para unir a Europa tal como deveria servir para unir as pessoas,
no entanto, há quem permaneça desavindo e assim vai este velho continente. A
suposta união só serve para garantir benefícios económicos a alguns países.
Continuamente os países mais ricos são os mais beneficiados e não se escusam de
atirar a pedra aos que foram mais incautos e não tomaram as medidas de
emergência mais cedo. Não é o momento de se atirarem pedras. Também julgo que
alguns países europeus se deveriam ter preparado mais cedo e que houve alguma
negligência (incluindo Portugal, ao contrário do que querem fazer parecer),
porém, no momento, pede-se entreajuda e não críticas destrutivas. Chega a
destruição massiva que vivemos: a mortandade, a crise económica que virá, as
dificuldades de muitas famílias, a sobrelotação do sistema de saúde… Enfim, são
tantos os problemas que para resolvê-los com o mínimo de impacto possível para
o português, o espanhol ou italiano tanto quanto para o alemão, o holandês ou o
francês, só com espírito de comunidade e de fraternidade. Qualidades que o povo
português tem de sobra, como as tempestades que nos assolam de vez em quando o
comprovam. O português sabe ter amor nos olhos e nas mãos e dizer presente
quando assim é necessário. Sabe arregaçar as mangas e encontrar soluções,
porque estamos habituados do pouco fazer muito e em poucos dias temos linhas de
produção de ventiladores e de máscaras e do que for necessário…
Talvez
a Europa perceba que os Estados membros têm capacidade e saber para produzir o
que quer que seja. Basta que o capitalismo deixe de ser tão feroz e deixe de
procurar lucros desmedidos à custa de mão-de-obra barata. Talvez, depois disto,
se consiga implementar o custo justo, terminar com uma globalização que engorda
meia-dúzia e se aproveita dos restantes. Talvez seja a oportunidade para
fomentar um mundo mais equilibrado e mais justo ou talvez o meu cinismo me diga
que a janela foi aberta e que a Europa a preferiu fechar. A continuar assim, a
ideia precursora de comunidade acabará por se extinguir e, no fim de contas,
tudo ficará como agora, cada um por si!
Nina M.
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