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sábado, 18 de abril de 2020

Crónica de Maus Costumes 178


Lembranças…

            Há lembranças boas que vêm ter connosco quando menos esperamos. Hoje, há pouco, fui surpreendida com uma galeria de fotos de há mais de vinte anos de um espaço que frequentei bastante nos meus tempos de juventude, enquanto estudante universitária: Ritmin.
            Curiosamente, já tinham partilhado essa foto comigo (há tempos) e, no outro dia, em arrumações, veio-me parar às mãos… Momentos partilhados com muita gente que gostava de frequentar o mesmo local que eu!
            É bom quando nos deparamos com esses instantes cristalizados, geradores de nostalgia. A vida de todos seguiu o seu curso natural. Somos um grupo de pessoas que não se encontra há mais de vinte anos, nalguns casos… Seremos todos pessoas diferentes. Crescemos e evoluímos. Ninguém permaneceu igual, certamente. Faz parte do nosso desenvolvimento e, no entanto, é curioso verificar como o sentimento de pertença a um tempo partilhado e vivido em comum impera. O sentimento de pertença a uma memória.
Decorre um direto com o DJ do nosso tempo que, numa produção caseira, faz correr as músicas que ouvíamos ao longo da noite. Invariavelmente terminará com o “Vitinho” a lembrar que é hora de dormir, apesar de o dia clarear.
            Como não sentir saudade do tempo em que a vida mal despontara e as responsabilidades eram tão poucas? A época em que se é feliz sem ter consciência disso e talvez, por isso mesmo, pela ausência de consciência, diria Pessoa, se é tão feliz… A vivência na leveza sem conhecer e sentir ainda o peso mundo?
E os “gosto” e os “adoro” no facebook são mais que muitos! Não fui a única a ser feliz ali! Julgo mesmo que éramos todos muito felizes à época!
            Na verdade, fui imensamente feliz na faculdade. Muito mais do que no Secundário e consegui conciliar a brincadeira e a diversão com a responsabilidade que sempre me foi imposta do cumprimento do meu dever. Não sou mais a mesma. Hoje não teria tanta disponibilidade para uma noitada imensa com a música a desrespeitar os decibéis aconselháveis… Na verdade, desenvolvi uma intolerância considerável ao ruído e gosto de apreciar o silêncio. Se é para confraternizar que seja num grupo pequeno e intimista, no conforto do lar, acompanhados por um bom vinho, bons petiscos e uma boa conversa. Sempre gostei de uma boa conversa e isso não mudou desde a juventude, com conteúdo interessante e que me prenda. O que mudou talvez foi a minha exigência, que surgiu com a maturidade. Uma noitada inteira de anedotas, apenas, perdeu a piada. Movem-me outros assuntos, outros interesses…
            Todos crescemos e nos tornamos ligeiramente diferentes, mas os bons momentos vividos em determinada altura e que se inscreveram na alma ficam para sempre. Há pessoas que carrego comigo pela importância que tiveram em determinada fase da minha vida, mesmo que não partilhemos mais os mesmos espaços. Aprendi, cresci e fui convosco. O que hoje sou não é quem já fui apenas, mas também o que sou hoje. Porém, o que sou hoje não seria sem o que já fui e muita gente fez parte desse passado e deixou o seu legado. Se assim não fosse, não haveria nostalgia.
Imensamente grata.
Nina M.



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