A
Páscoa já chegou e não parece
Já
é Páscoa e não parece! Não há festividades nem família reunida, apenas o
agregado familiar restrito, ou não deverá haver, porque ao que vamos assistindo
por aí, nada me espantaria!
Com
o regresso da Páscoa, chegará o regresso às aulas, de forma diferente, mas não
deixa de ser um regresso. Tempo muito difícil para as escolas, que foram
obrigadas a uma readaptação rápida e eficaz para terminar o período e colocar
em marcha nova estratégia de atuação, com todos os constrangimentos inerentes e
sobejamente conhecidos. Impor às crianças pequenas uma dinâmica de ensino à
distância, que continuará (e bem) a ser dirigido pelas escolas (a telescola é
um mero complemento), é um desafio enorme para pais, alunos e também
professores.
Deixar
claro que nenhuma tecnologia substituirá o contacto direto, independentemente,
do ano de ensino. Ver a expressão feliz do aluno que conseguiu superar as
dificuldades e alcançar um bom resultado, enquanto o professor lhe entrega o
teste e tenta camuflar o sorriso, sem que o discente saiba que o professor já
vibrou sozinho quando lhe corrigiu a prova, é o nosso prémio. Colocar-lhe a mão
no ombro se o resultado não é o melhor e dizer ao aluno que ainda não foi
desta, mas está perto e se continuar a trabalhar o seu esforço será
recompensado, é reforço positivo. O aluno precisa de saber que acreditamos nele
e no seu potencial. O nosso sucesso é o sucesso do aluno. Todo o professor quer
que o seu discente aprenda. É por isto que luta diariamente e como em tudo na
vida, algumas lutas são irremediavelmente perdidas, mas outras também são
ganhas. São estas pequenas vitórias que nos alimentam a alma e que nos fazem
desejar, apesar de muitas contrariedades, as salas de aula! Já escrevi uma
crónica em que dizia que os professores são uns loucos e reitero! Só um
lunático pode continuar a insistir dia após dia com quem não quer de facto
aprender. Atenção! Não subvertam a mensagem. Não digo com quem tem dificuldade
nas nossas matérias, mas com aqueles que revelam potencial e não querem
decididamente aprender! São muitos, infelizmente. Normalmente, quando se cruzam
connosco, anos mais tarde, também reconhecem que não pensaram bem, que deveriam
ter feito de forma diferente… Sempre a maldita imaturidade que tantas vezes
hipoteca futuros brilhantes, o que não significa que possam ser menos felizes!
Resiliência é a palavra que melhor conhecemos e alguma generosidade também,
porque muitas vezes, em nome do futuro, faz-se como o professor universitário
de Miguel Torga, ainda Adolfo Rocha, na altura, em Coimbra: “Olhe, passa no
exame, não pelo que sabe, mas pelo que pode vir a saber!” Assim seja.
Espero
que por esta altura os pais já possam ter experimentado do próprio veneno, tal
como a minha filha me diz repetidas vezes e percebam que o que sofrem com dois
ou três, às vezes, apenas com um, é a vida diária de um professor, multiplicada
por trinta, ao longo do dia… Certamente, teremos a nossa paciência treinada ao
limite, mas como talvez agora possam compreender, é perfeitamente natural que
em determinados momentos ela possa escassear…
Cumpre-nos
a tarefa de regressarmos e de instituirmos alguma normalidade na vida dos
alunos. Se aos pais lhes causarem admiração as inúmeras tarefas que vão ser
pedidas aos filhos, entre videoconferências (para os mais velhos) e trabalho
autónomo, semanalmente, lembrem-se que nem os professores nem os alunos estão
de férias, o que significa que aos docentes é exigida a preparação de
atividades em conformidade com a carga letiva da disciplina, umas vezes em trabalho
autónomo dos alunos e outras vezes em atividades síncronas com o professor,
através dos variados canais de comunicação à nossa disposição. Assim sendo,
para que serve a telescola? Na minha opinião, para pouco. Salvaguarda
legalmente a posição do Governo, que não pode deixar qualquer aluno excluído. A
educação é um direito de toda a criança. No entanto, se os restantes meses
ficassem a cargo da pressuposta telescola estaria tudo muito mal! Exemplo
prático: os alunos têm a carga letiva semanal de quatro ou cinco blocos de
cinquenta minutos de Português ou de Matemática. Na telescola passarão a ter
dois blocos de trinta minutos por semana. A partir disto retirem a vossas
ilações. Nem poderia ser de outra forma! Somos nós que sabemos o que foi dado e
o que falta dar, somos nós que conhecemos o rosto de cada aluno e também a suas
manias, compete-nos, obviamente, dar continuidade ao nosso trabalho. É o nosso
dever!
Esclarecida
esta questão, cumpre-me dizer, porém, que apesar do estado de emergência não
vale tudo e tanto condeno o colega que julga que pode não trabalhar tão
ativamente quanto o que num excesso de voluntarismo e comiseração contrai
empréstimos, se assim for necessário, para a compra de um PC topo de gama e mesa
de digitalização e multiplica o seu horário laboral. Todos nós fazemos horas
excedentárias. Quem é professor sabe disso, mas haja bom senso! Os professores
usam os seus meios privados para trabalhar com os alunos. Nas empresas, esses
meios são fornecidos aos seus funcionários. Não passa pela cabeça de nenhum de
nós deixar de o fazer. Sempre o fizemos e continuaremos a fazer (ainda que às
vezes apeteça, pela falta de respeito para com a classe), no entanto, não se
ponham numa competição absurda por quem faz menos ou quem faz mais e,
sobretudo, num comportamento feio de fiscalização de colegas. As administrações
sabem e vão fazê-lo. Aliás, tal como foi pedido pelo Ministério que se fizesse
a monitorização, porém, não confiar nos parceiros de trabalho não me parece
muito louvável. A haver razões para isso, nada como uma conversa com quem não
corresponde e as coisas resolvem-se, à boa maneira de gente adulta. Esta
reflexão prende-se com o fel que se destila nas redes sociais, a propósito de
certos desabafos, dividindo-se imediatamente o reino docente nos proscritos
párias ou nos bons samaritanos, quase jesuítas imbuídos de espírito de missão.
Irra!
No meio disto será difícil haver alguma ponderação e bom senso, ficando-nos
pelo meio-termo?!
Haja
serenidade, saúde e lembrem-se de que há mais vida para além da escola! Para
miúdos e graúdos.
Nina
M.
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