Às belas mulheres maduras
Apesar da gripe que me debela e me tem
deixado combalida desde sexta, julgo que a recuperação se dará a partir desta
noite. Quem me conhece saberá porquê.
Já há algum tempo que queria abordar
esta temática, no entanto, por motivos que não interessam aqui explorar, foi
sendo relegada para outra altura. Pois bem, chegou o momento.
A sociedade ocidental é implacável
com as mulheres em qualquer idade, mas principalmente, a partir do meio século,
parece que lhes querem passar um atestado de óbito antecipado. Se há uns anos,
no tempo em que o atraso de Portugal em relação a outros países europeus era
notório, a imagem da mulher portuguesa não era a mais atrativa, de lá para cá
muita coisa mudou. Lembro-me sempre das palavras da companheira de um dos meus
primos, nascido em França, acerca das mulheres portuguesas. “Afinal, não é como
dizem, afirmava ela.” Perguntei o motivo da admiração e a resposta foi que as
portuguesas eram tidas em França como as mulheres de bigode. Ainda estudava na
Universidade, por essa altura. Tive de lhe explicar, em traços largos, o
Salazarismo e os seus malefícios. A falta de alimento, que era uma preocupação real,
a mão-de-obra pouco qualificada e era essa que emigrava nos famigerados anos
sessenta e a lenta recuperação após a entrada na União Europeia, à data CEE.
Lembro-me também das mulheres de quarenta ou de cinquenta anos quando era
criança e, de facto, a sua aparência denotava uma vida difícil, em que se adivinhavam
os poucos cuidados que dedicavam a elas mesmas. As saias justas de costureira
com pouco gosto e pouco ornamento reinavam. A maquilhagem era pouco usual e
então as calças só chegaram nos anos sessenta! Que ousadia revelaram as
primeiras mulheres ao vesti-las nos meios rurais! A educação religiosa e
repressiva no que diz respeito ao papel da mulher teve os seus efeitos nefastos
na sua imagem. Impunha-se a mulher recatada, que não usava decotes nem saias
curtas e mostrava pouca pele… Esta era a imagem da mulher de família, esposa e
mãe. À socapa , os homens procuravam o
atrevimento de outros braços desnudos e menos rígidos e bem mais livres. Eram perfeitas
para os entusiasmos da alcova, mas não para andar de braço dado na rua, onde a
hipocrisia reinante impunha os seus cânones. A revolução demorou a chegar, mas
veio!
Hoje, as mulheres de quarenta e de
cinquenta anos estão bem cuidadas. São belas e não se vê despontar qualquer
pelo! Estranho, por isso, que a sociedade as considere acabadas. Lembro-me das
palavras de um parvo jornalista francês que disse, a certa altura, que as
mulheres de cinquenta anos não lhe interessavam. Desconfio bem que seria
exatamente o oposto. Provavelmente, as mulheres de cinquenta anos,
independentes, seguras, belas e exigentes é que não se interessariam por um
suposto macho-alfa, que tem mais de parvo do que de macho. Poderá fazer boa
figura ao pé de meninas de vinte, ainda tão ingénuas e sem saber nada da vida,
quanto as ausências de marcas do tempo no seu corpo. Dá vontade de
responder-lhe como certa altura respondi a alguém que criticava uma miúda mais
fortezinha: “deves achar-te a última bolacha do pacote! Tu, bem mais redondo do
que ela e atreves-te a emitir um juízo de valor pouco simpático sobre a sua
silhueta!”
Na
verdade, a generalidade dos homens não revela grandes problemas de autoestima.
Não se incomodam com a barriguinha que omite os abdominais! Por que razão as
mulheres se torturam constantemente com pequeninos pneus que não lhes retiram a
feminilidade? Por que motivo algumas de entre nós julgam que a vida termina aos
cinquenta, se essa poderá ser mesmo a nossa melhor fase? Há jovialidade
suficiente, segurança, sabedoria e independência. Há consciência de si e do seu
valor. Maturidade para saber fazer escolhas acertadas e não dar conversa a quem
não o merece. Cada etapa da nossa vida é importante e o amadurecimento faz
parte da vida. O que se perde em elasticidade e rigidez ganha-se em sabedoria e
interesse. Não tenho qualquer dúvida de que gosto mais de mim agora do que aos
vinte! Mais culta, mais interessante, em relação a mim mesma. Se começo a fazer
comparações, de cada vez que ouço ou leio George Steiner, Leandro Karnal,
Eduardo Lourenço, Pacheco Pereira, entre tantos outros, meu Deus, sinto-me
muitíssimo pequenina e tão ignorante, com a humildade suficiente para
reconhecer que nunca lhes chegarei aos pés… O sentimento feio da inveja surge
nesses momentos. A única inveja que me reconheço é a do conhecimento e a da cultura.
Nada mais. Ainda assim… Tão melhor do que aos vinte!
Queria essencialmente fazer um apelo
às mulheres maduras hodiernas: não se fechem para nada. Talvez o melhor da vida
vos esteja reservado a partir deste momento. Continuem livres, belas e seguras de
vós… A vida trará o resto. Só não vale ser cadáver enquanto por cá andarmos com
saúde!
Nina M.
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