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domingo, 1 de dezembro de 2019

Crónica de Maus Costumes 157


Sono Matinal

                Gosto de ler um pouco de tudo, pelo que o tempo que vou perdendo nas redes sociais serve para ler algumas das coisas interessantes que por lá se vão partilhando. Aí está uma benesse desse meio de comunicação. Não aparecem apenas supostos “influencers” meio parvos e sem nada de útil para dizer, mas também gente de bom gosto, que aprecia boas leituras.
Assim me deparei com uma entrevista a uma poetisa que dizia que o mundo se dividia em dois géneros de pessoas: as que preferem Paris e as que preferem Londres. Fiquei a pensar que talvez preferisse Paris, mas pensei para mim que a divisão em dois grupos é feita com base noutros critérios: as pessoas que acordam muito bem-dispostas pela manhã, a cantar, se for o caso e as outras! Aquelas que põem o despertador cinco ou dez minutos mais cedo, mas invariavelmente o corpo se recusa a levantar de supetão e os dez minutos transformam-se, sem se saber muito bem como, em vinte. Depois, é a azáfama habitual, sem a qual uma manhã não seria manhã. Preferivelmente, em silêncio absoluto até se tomar o abatanado obrigatório para começar a acordar. Há gente assim… Esticam a noite mais do que o que devem e as manhãs, até determinada altura são terrivelmente sofredoras. Pertenço a este grupo e gosto pouco que me louvem as vantagens de acordar cedo. Deveria ser proibido ter que começar a trabalhar antes das nove e meia. Não mudaria muito, porque o impacto de acordar ninguém consegue minimizar. Não que não queira despertar pela manhã! Pretendo continuar a fazê-lo durante muito tempo! Gostaria era de o fazer com calma e mais tarde. De modo que sou acusada de alguma agressividade matinal, principalmente, antes do café!
Perdoem-me as pessoas que pertencem à outra fação, mas são verdadeiramente irritantes! Ouvir canto matinal ou verborreia desenfreada em volume proibitivo para aquela hora da manhã é tortura!
A higiene pessoal deve ser efetuada em absoluto silêncio e sem ter que se pensar nas tarefas imediatas, quando o cérebro ainda está a acordar. Depois, o café, se for tomado na solidão silenciosa tem um gostinho especial. Depois deste, aos poucos, a vontade de agir e a energia vão aumentando gradualmente e logo que se chega ao local de trabalho, começa-se a  estar preparado para o dia, mas sem abusos! O silêncio recolhido continua a ser bem-vindo! Um simples bom-dia educado chega.
Normalmente, a caminho do trabalho, no carro, ouço a rádio e não posso deixar de ficar espantada com a energia dos locutores e as suas gargalhadas matinais. Depois, penso: Estes já acordaram às seis da manhã, os níveis de energia já estão regulados! Haja coragem!
Assim, logo pela manhã, quem convive comigo sabe que não é hora de muitas perguntas nem de observações, porque pode ter a maior razão e a maior delicadeza do mundo, mas eu não serei propriamente simpática. Digamos que um mau feitio, que se desvanece depois de efetivamente acordar, toma conta de mim e atira umas respostas secas e ásperas. Quem convive comigo não liga, até porque sabe que o tempo de me interpelar não é esse. Sabe que a noite passou demasiado rápido sem respeitar o meu biorritmo. Por isso, se me perguntam: Já acordaste a criançada? A que horas? Obterão como resposta um “Sei lá! À hora que o relógio marcava e que não vi!”
Na infância, nada me irritava mais do que quando o meu pai, para nos acordar, se punha a cantar desenfreadamente, como se não houvesse amanhã! Que nervos! Que vontade de fechar a porta do quarto, de virar para o lado e continuar como se nada tivesse ouvido!
Não se trata de uma apologia à má-disposição matinal, apenas uma sugestão de regulação de comportamentos excessivos! Grata.

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