O peso da existência
Uma
essência consciente é pesada. Há dias em que verdadeiramente se carrega o mundo
às costas e até para os mais otimistas (como é o meu caso) se torna difícil.
Sartre tinha razão ao dizer que a existência precede a essência. Primeiro
existe-se, depois, o homem faz-se, enquanto ser livre, que se vê obrigado a
escolher.
Com
as escolhas chega a angústia. Quase se pode fazer uma brincadeira linguística: todo o Homem
nasce livre; todo o Homem é obrigado à escolha; A escolha do Homem é livre!
De
facto, assim é. Somos obrigados a fazer escolhas durante toda a nossa vida, com
a liberdade a que somos condenados ou livre arbítrio, para os cristãos, e com
elas (as escolhas) aparecem as angústias. Como seria bom podermos reunir o
melhor de dois mundos, porém, como todos sabemos é impossível! Tal maravilha
não existe. Essa consciência também dá vontade de pontapear a vida até à
exaustão, só para mostrar que o seu cinismo não vinga. Também se sabe que é
falso. O cinismo da vida, normalmente, vence. Nós, simples mortais, vêmo-la
rir-se com escárnio e indiferença face às nossas preocupações, como míseros
pontos insignificantes na vastidão do Universo. O dia é amargo e quando se tem
um filho de 12 anos a questionar-nos sobre o sentido da vida: “Mamã, já te
perguntei, mas não respondeste! Porque estou aqui? Porque existo? Qual o
sentido?”. Honestamente, eu tenho que lhe responder que isso terá ele que
descobrir, porque a mãe também anda à procura do seu há muitos anos. O sentido,
cada um de nós o deve construir e o dele será, com toda a certeza, diferente do
meu.
Diabo
do garoto, que até parece adivinhar os dias bons para colocar as perguntas
certas! Digo-o com um misto de orgulho e de preocupação. Ter alguém que me
ocupou as entranhas durante nove meses a interrogar-me sobre o sentido da vida
deixa-me satisfeita, mas também preocupada pela consciência que se adivinha
precoce. E sei que uma consciência aprimorada com a obrigação de fazer escolhas
é uma ligação perigosa. Não poderei socorrê-lo sempre nem retirar-lhe as pedras
que irá encontrar pelo caminho e sei a dimensão do trabalho emocional que o espera
se a inquietação não se acomodar, mas também sei que será o seu caminho e que terá
que o percorrer sozinho…
De modo
que a existência/essência, sempre pesada, necessita como o diabo da cruz de uma
certa leveza. Porém, cuidado, porque quando a leveza é em demasia, torna-se insustentável!
Que o digam Sabina ou Thomas da “Insustentável
Leveza do Ser”, do fabuloso Kundera.
O equilíbrio
entre a leveza e o peso deve ser o segredo para uma boa vida, no entanto, como todo
o mistério, difícil de desvendar!
Que
cada um tente a sua sorte. Por hoje, lavarei a alma com um resto de branco fresco,
à espera que me traga a leveza, porque há dias difíceis de digerir! Um golinho pode
sempre ajudar. Santé!
Nina
M.
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