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sábado, 13 de julho de 2019

Crónica de Maus Costumes 140


O peso da existência

Uma essência consciente é pesada. Há dias em que verdadeiramente se carrega o mundo às costas e até para os mais otimistas (como é o meu caso) se torna difícil. Sartre tinha razão ao dizer que a existência precede a essência. Primeiro existe-se, depois, o homem faz-se, enquanto ser livre, que se vê obrigado a escolher.
Com as escolhas chega a angústia. Quase se pode fazer uma brincadeira linguística: todo o Homem nasce livre; todo o Homem é obrigado à escolha; A escolha do Homem é livre!
De facto, assim é. Somos obrigados a fazer escolhas durante toda a nossa vida, com a liberdade a que somos condenados ou livre arbítrio, para os cristãos, e com elas (as escolhas) aparecem as angústias. Como seria bom podermos reunir o melhor de dois mundos, porém, como todos sabemos é impossível! Tal maravilha não existe. Essa consciência também dá vontade de pontapear a vida até à exaustão, só para mostrar que o seu cinismo não vinga. Também se sabe que é falso. O cinismo da vida, normalmente, vence. Nós, simples mortais, vêmo-la rir-se com escárnio e indiferença face às nossas preocupações, como míseros pontos insignificantes na vastidão do Universo. O dia é amargo e quando se tem um filho de 12 anos a questionar-nos sobre o sentido da vida: “Mamã, já te perguntei, mas não respondeste! Porque estou aqui? Porque existo? Qual o sentido?”. Honestamente, eu tenho que lhe responder que isso terá ele que descobrir, porque a mãe também anda à procura do seu há muitos anos. O sentido, cada um de nós o deve construir e o dele será, com toda a certeza, diferente do meu.
Diabo do garoto, que até parece adivinhar os dias bons para colocar as perguntas certas! Digo-o com um misto de orgulho e de preocupação. Ter alguém que me ocupou as entranhas durante nove meses a interrogar-me sobre o sentido da vida deixa-me satisfeita, mas também preocupada pela consciência que se adivinha precoce. E sei que uma consciência aprimorada com a obrigação de fazer escolhas é uma ligação perigosa. Não poderei socorrê-lo sempre nem retirar-lhe as pedras que irá encontrar pelo caminho e sei a dimensão do trabalho emocional que o espera se a inquietação não se acomodar, mas também sei que será o seu caminho e que terá que o percorrer sozinho…
De modo que a existência/essência, sempre pesada, necessita como o diabo da cruz de uma certa leveza. Porém, cuidado, porque quando a leveza é em demasia, torna-se insustentável! Que o digam Sabina ou Thomas da “Insustentável Leveza do Ser”, do fabuloso Kundera.
O equilíbrio entre a leveza e o peso deve ser o segredo para uma boa vida, no entanto, como todo o mistério, difícil de desvendar!
Que cada um tente a sua sorte. Por hoje, lavarei a alma com um resto de branco fresco, à espera que me traga a leveza, porque há dias difíceis de digerir! Um golinho pode sempre ajudar. Santé!
Nina M.

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