Seguidores

terça-feira, 9 de julho de 2019

Crónica de Maus Costumes 139

Ingratidão

A ingratidão é um comportamento feio que diz muito sobre quem o pratica.
Julgo que se confunde tanta coisa que é vulgar apresentar a gratidão como se de
subserviência se tratasse.
Ser grato não é ser servil, mas antes o reconhecimento de um gesto agradável e
generoso que alguém teve connosco em dado momento e que nos ajudou, ou
conforme o dicionário, “reconhecimento por um benefício que se recebeu”. O
subserviente serve por obrigação, opressão, medo, ignorância e até bajulação. Não o
faz por delicadeza, generosidade ou amor, no entanto, aquele que fica grato e que
sente estar em dívida, mesmo sabendo que o autor da graça não espera recompensa,
na primeira oportunidade, retribuirá a atenção. Desta forma, ser grato é ficar obrigado
e como o Dr. Sampaio da Nóvoa já explicou uma altura, o nosso “obrigado(a)”,
expressão de agradecimento, implica o sentido de ficar obrigado a retribuir a gentileza,
ou seja, ficar grato. Na minha terra, dos ingratos, diz-se serem cães que não conhecem
o dono (sem ofensa para os cães). Aquele que não reconhece o bem que lhe é feito
não é digno do benefício concedido, porém, não se arrependa o benemérito, porque
as ações ficam sempre com quem as toma. Se alguém fez uma boa ação e o outro não
a soube valorizar, facilmente se percebe quem falhou. Evidentemente, esse
reconhecimento desejável deverá ser sentido e prestado dentro da razoabilidade. Não
se pretende que o objeto da graça seja servil, mesmo contrariando os seus princípios,
mas também não deve cuspir no prato onde comeu. Infelizmente, não raramente, se
observam comportamentos ingratos e indignos, o que me leva a concluir que aquele
que falha miseravelmente com o seu benemérito, como será com alguém a quem não
deve nada? A ingratidão não revela apenas uma falha esporádica à qual todo e
qualquer ser humano está sujeito, dada a sua natureza e fragilidade. Que atire a
primeira pedra quem nunca errou, porém, o ingrato ultrapassa em larga medida a
desresponsabilização que se possa atribuir à sua condição de humano, logo ser
imperfeito, porquanto tem a consciência de que foi ajudado e, portanto, exige a ética
que se ponha também ao dispor.
Mais tarde ou mais cedo, de ingratidão em ingratidão, afasta-se quem nos quis
bem e quando dermos conta estamos sós. Se não houver retribuições a fazer, também
não haverá ninguém a quem recorrer e ninguém é autossuficiente o bastante para
conseguir viver sem o outro. Queiramos ou não vivemos em sociedade. Se esta pode
ser castradora? Pode, mas há que escolher o mal menor. Regras para uma boa
convivência que convém aprender.

Nina M.

Sem comentários:

Enviar um comentário