Mixórdia, satisfação e caprichos
Talvez o melhor da vida seja o imprevisto, aquilo que nunca
esteve nos planos ou até quem sabe sempre se rejeitou e que afinal vem a ser.
Para hoje, tinha previsto falar
sobre a estupidez humana e lá chegarei, mais tarde, mas agora, neste instante,
acabadinha de ouvir Miguel Araújo, no final da sua tournée “Casca de Noz”, na cidade que é a sua e
que o viu crescer e da qual muito gosta, a alma cheia recusa virar-se para
assuntos menos agradáveis, porque vem imbuída de beleza.
Apesar de pagar um serviço e assim
permitir a alguém viver da sua arte, fico com a sensação de que lhe devo muito,
de que o dinheiro despendido é uma ínfima parte do que merece, pois há coisas
tão valiosas que o dinheiro é mera insignificância. Nunca será suficiente para
pagar o regozijo da minha alma. As letras das músicas do Araújo têm história e
têm uma infância muito semelhante à minha. Eu não cresci no Porto, mas ia lá
amiúde e o Centro Comercial Brasília ou Dallas e as suas luzes de néon também
iluminam as minhas memórias. A primeira vez que andei de escadas rolantes foi
no Brasília! Para mim, na altura, símbolo da extraordinária evolução dos tempos
e uma afirmação clara de modernidade. Pois é, Araújo, também vi em direto, em
87, e guardo bem na memória o passe do Juary e o golo de calcanhar do Madjer,
na final de Viena contra o Bayern de Munique. Emoções sentidas e vividas que
nunca mais se esquecem e que reaparecem com a memória. Hoje, assisti não a um
simples concerto, mas a um recuar no tempo e a um convite de recuperação de
lembranças guardadas no baú. Símbolos da infância da minha geração e que
constituem uma memória coletiva que permite uma identidade comum. E foi bom,
muito bom, partilhá-las em silêncio com o artista em palco e com as cerca de
duas mil e quinhentas pessoas que encheram o Coliseu!
Depois disto, falar da estupidez
humana torna-se difícil, porque estive rodeada de luz, apesar do ambiente
íntimo e de alguma escuridão.
A estupidez humana enerva-me essencialmente
por dois motivos: primeiro, conduz a situações de conflito e eu detesto
desarmonia ao meu redor; depois, se o homem é um ser inteligente deveria
recusar-se terminantemente a ser estúpido! Porém, não o faz, o que me aborrece.
Há pessoas que se agastam e aborrecem os outros por pequenas coisas que não
fazem a mínima diferença! Se tiverem que se zangar que seja por assuntos que
realmente importam! Que se enervem com a injustiça, com a miséria, com a desigualdade,
com o mundo cada vez mais feio e destruído que deixamos aos nossos filhos e em
nome destes assuntos podemos e até devemos irritarmo-nos e pedir
responsabilidades a quem de direito, mas ficar agastado, vociferar despropositadamente
e causar mal-estar por minudências que não fazem diferença, parece-me sobretudo
estúpido. Normalmente não resolve o que quer que seja e indispõe muita gente. Qual
a necessidade? Acho que muitas vezes já nem é preciso ter razão, é preciso é ter
paz!
Ajamos
de acordo com as regras da boa educação e da tolerância, reconhecendo a nossa própria
falibilidade, e assim não sermos tão exigentes com os outros e tão pouco connosco!
Todo o Homem falha. É da condição humana! A consciência desse facto talvez permita
relevar e passar à frente do que não importa.
Caprichos de egos inflamados, mas estúpidos por
natureza!
Nina
M.
Sem comentários:
Enviar um comentário