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sábado, 15 de junho de 2019

Crónica de Maus Costumes 136


Mixórdia, satisfação e caprichos


                Talvez o melhor da vida seja o imprevisto, aquilo que nunca esteve nos planos ou até quem sabe sempre se rejeitou e que afinal vem a ser.
            Para hoje, tinha previsto falar sobre a estupidez humana e lá chegarei, mais tarde, mas agora, neste instante, acabadinha de ouvir Miguel Araújo, no final da sua tournée “Casca de Noz”, na cidade que é a sua e que o viu crescer e da qual muito gosta, a alma cheia recusa virar-se para assuntos menos agradáveis, porque vem imbuída de beleza.
            Apesar de pagar um serviço e assim permitir a alguém viver da sua arte, fico com a sensação de que lhe devo muito, de que o dinheiro despendido é uma ínfima parte do que merece, pois há coisas tão valiosas que o dinheiro é mera insignificância. Nunca será suficiente para pagar o regozijo da minha alma. As letras das músicas do Araújo têm história e têm uma infância muito semelhante à minha. Eu não cresci no Porto, mas ia lá amiúde e o Centro Comercial Brasília ou Dallas e as suas luzes de néon também iluminam as minhas memórias. A primeira vez que andei de escadas rolantes foi no Brasília! Para mim, na altura, símbolo da extraordinária evolução dos tempos e uma afirmação clara de modernidade. Pois é, Araújo, também vi em direto, em 87, e guardo bem na memória o passe do Juary e o golo de calcanhar do Madjer, na final de Viena contra o Bayern de Munique. Emoções sentidas e vividas que nunca mais se esquecem e que reaparecem com a memória. Hoje, assisti não a um simples concerto, mas a um recuar no tempo e a um convite de recuperação de lembranças guardadas no baú. Símbolos da infância da minha geração e que constituem uma memória coletiva que permite uma identidade comum. E foi bom, muito bom, partilhá-las em silêncio com o artista em palco e com as cerca de duas mil e quinhentas pessoas que encheram o Coliseu!
            Depois disto, falar da estupidez humana torna-se difícil, porque estive rodeada de luz, apesar do ambiente íntimo e de alguma escuridão.
 A estupidez humana enerva-me essencialmente por dois motivos: primeiro, conduz a situações de conflito e eu detesto desarmonia ao meu redor; depois, se o homem é um ser inteligente deveria recusar-se terminantemente a ser estúpido! Porém, não o faz, o que me aborrece. Há pessoas que se agastam e aborrecem os outros por pequenas coisas que não fazem a mínima diferença! Se tiverem que se zangar que seja por assuntos que realmente importam! Que se enervem com a injustiça, com a miséria, com a desigualdade, com o mundo cada vez mais feio e destruído que deixamos aos nossos filhos e em nome destes assuntos podemos e até devemos irritarmo-nos e pedir responsabilidades a quem de direito, mas ficar agastado, vociferar despropositadamente e causar mal-estar por minudências que não fazem diferença, parece-me sobretudo estúpido. Normalmente não resolve o que quer que seja e indispõe muita gente. Qual a necessidade? Acho que muitas vezes já nem é preciso ter razão, é preciso é ter paz!
Ajamos de acordo com as regras da boa educação e da tolerância, reconhecendo a nossa própria falibilidade, e assim não sermos tão exigentes com os outros e tão pouco connosco! Todo o Homem falha. É da condição humana! A consciência desse facto talvez permita relevar e passar à frente do que não importa.
 Caprichos de egos inflamados, mas estúpidos por natureza!
Nina M.




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