Obrigada, Miguel Duarte
Durante a semana, poucos terão sido os que não
viram o pedido de apoio de Miguel Duarte, nas redes sociais. O Miguel não
cometeu qualquer erro nem pede ajuda por ser carenciado. O Miguel pede ajuda,
porque salvou vidas. Imensas. Independentemente do ato heroico, O Miguel e os
seus companheiros respondem perante a justiça italiana, acusados de promoverem
a imigração ilegal. Estes cidadãos vulgares, iguais a tantos de nós, mas mais
corajosos, pois largaram a suas vidas e dedicaram-se a salvar a de outros, são
dignos de reconhecimento e de admiração, não de admoestação!
De
minha parte, caramba, que inveja da sua valentia e predisposição para ajudar os
mais desfavorecidos! Como gostaria de ser capaz de fazer o mesmo! No entanto, o
Miguel, que fez o que qualquer pessoa de bem faria se pudesse, corre o risco de
ficar preso durante vinte anos! Neste país, a pena máxima, por homicídio, é de
vinte cinco anos de prisão. O Miguel sujeita-se a vinte, não por matar alguém,
mas antes por salvar gente da morte certa! Se isto não é a maior inversão de
valores humanistas e cristãos, então, eu já não sei em que mundo vivo, mas sei
com toda a certeza de não querer pertencer a este!
A
política e a justiça internacionais não podem ser tão cegas e cortar a eito sem
olhar para toda a conjetura. Sabemos que a Europa não poderá comportar todo o
êxodo que se tem feito sentir, porém, castigar quem salva a vida de pessoas
perdidas no alto mar, não me parece a resposta mais lúcida. Os líderes europeus
o que aconselham? Que se feche os olhos e se faça de conta que o problema não
existe? Que se deixe morrer quem embarcou para fugir da guerra, também da
miséria e da pobreza extrema? A Europa, incapaz de lidar com o problema da
migração, opta por sancionar os cidadãos europeus que se recusam a ver morrer
gente sem nada fazer. Eis os novos vendilhões do templo: as elites que afastam
o cidadão comum da política por pressentirem o seu cheiro fétido! Fazemos
questão de lembrar o horror que foi o Holocausto, mas permitimos que outros
semelhantes aconteçam. Miguel Duarte e os seus companheiros escolheram dizer
não à banalização do mal, revestida de legalidade. Merecem a minha profunda
admiração pela coragem, pela audácia, pela generosidade e pelo coração imenso.
É o amor que mora dentro desta gente que combate o horror presente no mundo.
Quantas vezes teremos de recordar Auschewitz? Quantas vezes deveremos colocar a
mão no peito e lastimar sobre o horror? Por que motivo percorreu o mundo a
imagem do pequeno Aylan, de bruços e inerte, sobre a areia? Quantas crianças
mais sofrerão os desmandos do poder?
Os
cidadãos justos e de bem não se podem calar perante estas injustiças. Devem ter
um papel ativo e a consciência de que a legalidade e a ética nem sempre andam
abraçadas e sempre que o homem desrespeitar a lei em benefício de uma vida humana,
deverá permanecer de consciência tranquila e com o sentimento de cumprimento do
dever. Ou aceitamos a tese como verdadeira ou então abrimos portas à barbárie. Miguel
escolheu o lado bom. Obrigada, Miguel!
Nina
M.
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