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sábado, 22 de junho de 2019

Crónica de Maus Costumes 137


Obrigada, Miguel Duarte

 Durante a semana, poucos terão sido os que não viram o pedido de apoio de Miguel Duarte, nas redes sociais. O Miguel não cometeu qualquer erro nem pede ajuda por ser carenciado. O Miguel pede ajuda, porque salvou vidas. Imensas. Independentemente do ato heroico, O Miguel e os seus companheiros respondem perante a justiça italiana, acusados de promoverem a imigração ilegal. Estes cidadãos vulgares, iguais a tantos de nós, mas mais corajosos, pois largaram a suas vidas e dedicaram-se a salvar a de outros, são dignos de reconhecimento e de admiração, não de admoestação!
De minha parte, caramba, que inveja da sua valentia e predisposição para ajudar os mais desfavorecidos! Como gostaria de ser capaz de fazer o mesmo! No entanto, o Miguel, que fez o que qualquer pessoa de bem faria se pudesse, corre o risco de ficar preso durante vinte anos! Neste país, a pena máxima, por homicídio, é de vinte cinco anos de prisão. O Miguel sujeita-se a vinte, não por matar alguém, mas antes por salvar gente da morte certa! Se isto não é a maior inversão de valores humanistas e cristãos, então, eu já não sei em que mundo vivo, mas sei com toda a certeza de não querer pertencer a este!
A política e a justiça internacionais não podem ser tão cegas e cortar a eito sem olhar para toda a conjetura. Sabemos que a Europa não poderá comportar todo o êxodo que se tem feito sentir, porém, castigar quem salva a vida de pessoas perdidas no alto mar, não me parece a resposta mais lúcida. Os líderes europeus o que aconselham? Que se feche os olhos e se faça de conta que o problema não existe? Que se deixe morrer quem embarcou para fugir da guerra, também da miséria e da pobreza extrema? A Europa, incapaz de lidar com o problema da migração, opta por sancionar os cidadãos europeus que se recusam a ver morrer gente sem nada fazer. Eis os novos vendilhões do templo: as elites que afastam o cidadão comum da política por pressentirem o seu cheiro fétido! Fazemos questão de lembrar o horror que foi o Holocausto, mas permitimos que outros semelhantes aconteçam. Miguel Duarte e os seus companheiros escolheram dizer não à banalização do mal, revestida de legalidade. Merecem a minha profunda admiração pela coragem, pela audácia, pela generosidade e pelo coração imenso. É o amor que mora dentro desta gente que combate o horror presente no mundo. Quantas vezes teremos de recordar Auschewitz? Quantas vezes deveremos colocar a mão no peito e lastimar sobre o horror? Por que motivo percorreu o mundo a imagem do pequeno Aylan, de bruços e inerte, sobre a areia? Quantas crianças mais sofrerão os desmandos do poder?
Os cidadãos justos e de bem não se podem calar perante estas injustiças. Devem ter um papel ativo e a consciência de que a legalidade e a ética nem sempre andam abraçadas e sempre que o homem desrespeitar a lei em benefício de uma vida humana, deverá permanecer de consciência tranquila e com o sentimento de cumprimento do dever. Ou aceitamos a tese como verdadeira ou então abrimos portas à barbárie. Miguel escolheu o lado bom. Obrigada, Miguel!
Nina M.

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