Vida, cinismo e limões
O
axioma dita que quando a vida nos dá limões, devemos fazer uma limonada. Eu,
que tento escolher sempre o otimismo, apesar de não ser inconsciente ou de
reconhecer os doze trabalhos de Hércules com que vamos tropeçando amiúde, não
posso deixar de observar que há limões amargos como o diabo e que exigem
enormes quantidades de açúcar para tornar a limonada bebível! Ora é verdade que
a solução foi encontrada, mas não sem efeitos secundários, porque todos sabemos
que o excesso de açúcar pode provocar a diabetes, que por sua vez espoleta
inúmeros problemas, entre os quais, a cegueira.
No
entanto, a vida não se compadece de nada nem de ninguém e parecendo que é
sábia, vai-nos colocando desafios, normalmente bem difíceis de resolver. Às
vezes, sabemos a solução, reconhecemos o caminho incontornável, mas mediante a
teimosia estúpida (em certos casos) ou determinação comovente em muitos outros,
vai-se contornando a questão, num exercício de malabarismo habilidoso e
esgotante.
Sabemos
que os limões amargos e pecos estão para chegar, mas não queremos reconhecer.
Recusamo-nos a contrariar a vontade, porque deveríamos poder decidir mais em
conformidade com o que desejamos. Infelizmente ou felizmente nem sempre o que
se deseja pode ser (já dizia o Woody Allen: cuidado com o que se deseja, porque
se pode realizar). Não poucas vezes, a vida macaca traz-nos o que queremos ou
quisemos um dia, mas fora de prazo, desfasado do tempo e das circunstâncias,
num cinismo absurdo que dói. Perante isto, ou se vê o copo meio cheio ou meio vazio,
ou seja, o que veio foi extemporâneo, mas o essencial chegou e ficamos a conhecê-lo
e o saldo da experiência é positivo ou então olhamos para tudo como vítimas inocentes
de um destino implacável (talvez a maioria das vezes não o sejamos) e passamos a
vida a lamentar-nos.
Gosto
pouco de lamentos. Tenho direito a eles como toda a gente, mas não gosto de levar
muito tempo a lamber feridas. Já me aconteceu como a toda a gente e por isso sei
que não gosto. O tempo é demasiado precioso para ser gasto com agastamentos desnecessários.
Nem sempre os conseguimos evitar e muitos são profundos, tiranos e violentos, no
entanto, se não conseguirmos a limonada, façamos compota de aproveitamento do limão.
Nada se desperdiça e tudo se transforma. Gastemos o tempo em atividades prazenteiras
e espremamos os limões devagarinho e com jeito, porque no final sempre se consegue
algum sumo.
Nina
M.
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