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sábado, 8 de junho de 2019

Crónica de Maus Costumes 135


Vida, cinismo e limões

O axioma dita que quando a vida nos dá limões, devemos fazer uma limonada. Eu, que tento escolher sempre o otimismo, apesar de não ser inconsciente ou de reconhecer os doze trabalhos de Hércules com que vamos tropeçando amiúde, não posso deixar de observar que há limões amargos como o diabo e que exigem enormes quantidades de açúcar para tornar a limonada bebível! Ora é verdade que a solução foi encontrada, mas não sem efeitos secundários, porque todos sabemos que o excesso de açúcar pode provocar a diabetes, que por sua vez espoleta inúmeros problemas, entre os quais, a cegueira.
No entanto, a vida não se compadece de nada nem de ninguém e parecendo que é sábia, vai-nos colocando desafios, normalmente bem difíceis de resolver. Às vezes, sabemos a solução, reconhecemos o caminho incontornável, mas mediante a teimosia estúpida (em certos casos) ou determinação comovente em muitos outros, vai-se contornando a questão, num exercício de malabarismo habilidoso e esgotante.
Sabemos que os limões amargos e pecos estão para chegar, mas não queremos reconhecer. Recusamo-nos a contrariar a vontade, porque deveríamos poder decidir mais em conformidade com o que desejamos. Infelizmente ou felizmente nem sempre o que se deseja pode ser (já dizia o Woody Allen: cuidado com o que se deseja, porque se pode realizar). Não poucas vezes, a vida macaca traz-nos o que queremos ou quisemos um dia, mas fora de prazo, desfasado do tempo e das circunstâncias, num cinismo absurdo que dói. Perante isto, ou se vê o copo meio cheio ou meio vazio, ou seja, o que veio foi extemporâneo, mas o essencial chegou e ficamos a conhecê-lo e o saldo da experiência é positivo ou então olhamos para tudo como vítimas inocentes de um destino implacável (talvez a maioria das vezes não o sejamos) e passamos a vida a lamentar-nos.
Gosto pouco de lamentos. Tenho direito a eles como toda a gente, mas não gosto de levar muito tempo a lamber feridas. Já me aconteceu como a toda a gente e por isso sei que não gosto. O tempo é demasiado precioso para ser gasto com agastamentos desnecessários. Nem sempre os conseguimos evitar e muitos são profundos, tiranos e violentos, no entanto, se não conseguirmos a limonada, façamos compota de aproveitamento do limão. Nada se desperdiça e tudo se transforma. Gastemos o tempo em atividades prazenteiras e espremamos os limões devagarinho e com jeito, porque no final sempre se consegue algum sumo.

Nina M.






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