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sábado, 4 de outubro de 2025

Crónica de Maus Costumes 436

 

Democracia e Liberdade

               A semana tem decorrido com arruadas e debates, na disputa pelo executivo autárquico. Felicito todos os candidatos, e faço votos para que todos eles estejam na disposição de cumprirem com honra a missão para a qual vierem a ser eleitos.

               O tempo de campanha deve servir para o diálogo profícuo, a troca de ideias, a apresentação do projeto que se pretende desenvolver à frente da edilidade, com a comunidade e para ela. Seria tempo de diálogo sereno entre intervenientes que, eventualmente, se conhecem e se devem respeitar.

               As autárquicas têm uma característica particular : a maioria das pessoas já não olha aos partidos nem ao voto útil, mas ao candidato, de quem se espera a capacidade de fazer política de proximidade. Os futuros presidentes de câmara não se devem fechar nos gabinetes sem contactar com a realidade, para não padecerem do mesmo mal do governo central. O afastamento entre os políticos e o cidadão comum cava o fosso entre a população e a política, aumentando a perceção errónea e injusta de que a maioria dos políticos apenas se pretende servir a si mesmo e não os cidadãos. A perceção do país que habitamos parece-me distinta, quando se trata do político e do vulgar compatriota. Para o primeiro, o rosto de Portugal apresenta um rosto mais lavado, jovial e enérgico e para o segundo, um velho doente sem cura à vista. Entre uma visão e outra andará a realidade. Por essa razão, os autarcas são importantes.

A generalidade dos cidadãos talvez se preocupe mais com as faturas da água e dos resíduos que lhe chegam a casa, com a acessibilidade dos transportes, com a celeridade de licenças e outras diligências de que necessitam para a sua vida quotidiana e com os apoio para a revitalização de associações desportivas e culturais do que com a doideira dos líderes mundiais que insistem em fazer do mundo um lugar inóspito e pouco recomendável. Porém, é num pequeno canto em que vivemos e, por mais empático que se possa ser e também consciente, as nossas pequenas dores parecem sempre maiores do que as grandes dores de um mundo enorme e longínquo. Assim, o autarca deve conhecer bem a realidade dos seus munícipes e ser capaz de articular com as entidades que lhes prestam serviços e apoios, nomeadamente, as Juntas de Freguesia, a quem, em primeira instância, as pessoas se dirigem. É absolutamente essencial que todos os políticos e, em especial, os autárquicos, tenham respeito fundamental pela democracia e saibam ouvir em modo de escuta ativa o que os seus opositores têm a propor e a recomendar. Eles têm a representação que outros eleitores do mesmo município, igualmente merecedores de respeito, lhes confiaram. Assim, não é positivo quando o vencedor não sabe escutar nem consegue dialogar com verdadeiro espírito democrático e até encontrar convergências. Este é o principal problema da política : muitos advogam uma democracia que, depois, não praticam. Nunca serei capaz de entender e nem de relevar que não se chegue a consensos em matérias em que a visão estratégica não é, de todo, antagónica. Vislumbro apenas má-vontade, má-fé e sanha política. O vencedor não quer admitir que aproveitou a ideia de um adversário nem proporcionar a oportunidade para que este se vanglorie disso e este, por sua vez, não quer ceder a sua tão prezada ideia ao opositor, para a usar como troféu em debates e discussões. Enquanto duram estas guerras de alecrim e de manjerona, perde o cidadão.

Às vezes, acontecem situações deploráveis na política local : pessoas que recebem ameaças, pelo simples facto de se identificarem com outros ideais, perseguições e retaliações, com trejeitos de autoritarismo, porque alguém não cedeu a pressões do poder, assembleias em que o objetivo passa a ser o ataque usado como arma de arremesso em vez do diálogo construtor de pontes. Nunca ninguém faz tudo bem que não possa ser melhorado e nunca ninguém faz tudo mal que não possa ser emendado.

Tudo isto existe, tudo isto é triste e tudo isto poderá não ser fado, se o político quiser. Boa sorte para os candidatos. Vencerá aquele que os munícipes elegerem no sufrágio. Depois de fechadas as urnas e contados os votos, vença a democracia e a liberdade, trabalhem todos os eleitos em prol de ambas e dos seus conterrâneos. Se não forem capazes disso, saibam que não passam de fraudes travestidas de hipocrisia e, tal como Padre António Vieira, que sugere que se lance fora como inútil o pregador que não cumpre com a sua missão de servir a Cristo, não será diferente com nenhum outro ofício, principalmente, com o político que não cumpre com a missão de servir o cidadão, já que político vem de « politicus», aquele que tem por missão organizar a « polis », vulgo, cidade.

Dia 12 de outubro, os ventos da democracia cobrirão o país.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

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