Democracia e Liberdade
A semana tem decorrido
com arruadas e debates, na disputa pelo executivo autárquico. Felicito todos os
candidatos, e faço votos para que todos eles estejam na disposição de cumprirem
com honra a missão para a qual vierem a ser eleitos.
O tempo de campanha
deve servir para o diálogo profícuo, a troca de ideias, a apresentação do
projeto que se pretende desenvolver à frente da edilidade, com a comunidade e
para ela. Seria tempo de diálogo sereno entre intervenientes que,
eventualmente, se conhecem e se devem respeitar.
As autárquicas têm uma
característica particular : a maioria das pessoas já não olha aos partidos
nem ao voto útil, mas ao candidato, de quem se espera a capacidade de fazer
política de proximidade. Os futuros presidentes de câmara não se devem fechar
nos gabinetes sem contactar com a realidade, para não padecerem do mesmo mal do
governo central. O afastamento entre os políticos e o cidadão comum cava o
fosso entre a população e a política, aumentando a perceção errónea e injusta
de que a maioria dos políticos apenas se pretende servir a si mesmo e não os
cidadãos. A perceção do país que habitamos parece-me distinta, quando se trata
do político e do vulgar compatriota. Para o primeiro, o rosto de Portugal apresenta
um rosto mais lavado, jovial e enérgico e para o segundo, um velho doente sem
cura à vista. Entre uma visão e outra andará a realidade. Por essa razão, os
autarcas são importantes.
A generalidade dos cidadãos talvez se preocupe
mais com as faturas da água e dos resíduos que lhe chegam a casa, com a
acessibilidade dos transportes, com a celeridade de licenças e outras
diligências de que necessitam para a sua vida quotidiana e com os apoio para a
revitalização de associações desportivas e culturais do que com a doideira dos
líderes mundiais que insistem em fazer do mundo um lugar inóspito e pouco
recomendável. Porém, é num pequeno canto em que vivemos e, por mais empático
que se possa ser e também consciente, as nossas pequenas dores parecem sempre maiores
do que as grandes dores de um mundo enorme e longínquo. Assim, o autarca deve
conhecer bem a realidade dos seus munícipes e ser capaz de articular com as
entidades que lhes prestam serviços e apoios, nomeadamente, as Juntas de
Freguesia, a quem, em primeira instância, as pessoas se dirigem. É absolutamente
essencial que todos os políticos e, em especial, os autárquicos, tenham
respeito fundamental pela democracia e saibam ouvir em modo de escuta ativa o
que os seus opositores têm a propor e a recomendar. Eles têm a representação
que outros eleitores do mesmo município, igualmente merecedores de respeito,
lhes confiaram. Assim, não é positivo quando o vencedor não sabe escutar nem
consegue dialogar com verdadeiro espírito democrático e até encontrar
convergências. Este é o principal problema da política : muitos advogam
uma democracia que, depois, não praticam. Nunca serei capaz de entender e nem
de relevar que não se chegue a consensos em matérias em que a visão estratégica
não é, de todo, antagónica. Vislumbro apenas má-vontade, má-fé e sanha
política. O vencedor não quer admitir que aproveitou a ideia de um adversário nem
proporcionar a oportunidade para que este se vanglorie disso e este, por sua
vez, não quer ceder a sua tão prezada ideia ao opositor, para a usar como
troféu em debates e discussões. Enquanto duram estas guerras de alecrim e de
manjerona, perde o cidadão.
Às vezes, acontecem situações deploráveis na
política local : pessoas que recebem ameaças, pelo simples facto de se
identificarem com outros ideais, perseguições e retaliações, com trejeitos de
autoritarismo, porque alguém não cedeu a pressões do poder, assembleias em que
o objetivo passa a ser o ataque usado como arma de arremesso em vez do diálogo
construtor de pontes. Nunca ninguém faz tudo bem que não possa ser melhorado e
nunca ninguém faz tudo mal que não possa ser emendado.
Tudo isto existe, tudo isto é triste e tudo isto poderá
não ser fado, se o político quiser. Boa sorte para os candidatos. Vencerá
aquele que os munícipes elegerem no sufrágio. Depois de fechadas as urnas e
contados os votos, vença a democracia e a liberdade, trabalhem todos os eleitos
em prol de ambas e dos seus conterrâneos. Se não forem capazes disso, saibam
que não passam de fraudes travestidas de hipocrisia e, tal como Padre António
Vieira, que sugere que se lance fora como inútil o pregador que não cumpre com
a sua missão de servir a Cristo, não será diferente com nenhum outro ofício,
principalmente, com o político que não cumpre com a missão de servir o cidadão,
já que político vem de « politicus», aquele que tem por missão organizar a
« polis », vulgo, cidade.
Dia 12 de outubro, os ventos da democracia cobrirão
o país.
Nina M.
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