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sábado, 9 de dezembro de 2023

Crónica de Maus Costumes 351

 

Presunção e água benta, cada um toma a que quer

A Joana Marques diz que lhe dá especial prazer brincar com as pessoas de egos inflados, que se levam tão a sério e se acham tão perfeitas e tão especiais que caem no ridículo. Aliás, apenas caem no ridículo por não perceberem a dimensão da ignorância humana! Ora, todos somos ridículos de vez em quando, ainda que em mim o receio do ridículo seja avassalador e impeditivo de algumas coisas, pois é um barómetro castrador. Certo é que todos temos sempre muito a aprender e é precisamente a consciência de que sabemos pouco (mesmo quando se sabe alguma coisa) que nos conduz à aprendizagem, que naturalmente não se esgota na escola nem na relação com os outros. Quem gosta de aprender fá-lo-á ao longo da vida, através de leituras, de filmes e de documentários que vai vendo, dos outros que vai ouvindo e, depois, naturalmente, fará uma depuração cuidada da informação.

Muitas das personalidades com quem a Joana brinca não têm qualquer relevância para a sociedade. Qualquer ser humano é um ponto na imensidão do Universo e como escreveu Caeiro, “Quando vier a Primavera, /Se eu já estiver morto, /As flores florirão da mesma maneira”. Por outras palavras, nenhum ser humano fica para a semente e o desaparecimento ou o nascimento de um de nós não tem qualquer importância para as leis que regem o Universo. Sou, agora, obrigada a citar Sebastião da Gama: “Quando eu nasci, /Ficou tudo como estava/Nem homens cortaram veias, /nem o Sol escureceu, /nem houve Estrelas a mais... / Somente, / esquecida das dores, /a minha Mãe sorriu e agradeceu”. Parece-me que os poetas esclareceram tudo de forma simples. Sempre eles, a avançar o óbvio com beleza! Basta haver esta consciência para que qualquer um de nós, por mais instruído e culto que possa ser, por mais rico e poderoso, por mais famoso ou influente, compreenda o seu verdadeiro lugar no Universo: condenado a tornar-se pó até ser reduzido a átomos invisíveis.

Genericamente e de forma abstrata, esta ideia é verdadeira. Particularmente, entendo haver pessoas mais indispensáveis do que outras e, normalmente, nesta categoria, não há lugar para os indivíduos com quem a Joana Marques brinca. Portanto, quando esta gente se vê ridicularizada e confrontada com o seu real valor entra em colapso. Paciência… Até pode doer, mas nem todos podem ser um Einstein, um Mandela, uma Marie Curie, um Pessoa, um Saramago, um Beethoven, um Mozart, uma Sophia ou uma Natália, uma Lispector ou Cecília Meireles… É a vida… Isto só para citar meia-dúzia de exemplos. Se recorresse a todos os prémio Nobel, nas mais diversas áreas ou até cientistas e outros trabalhadores anónimos que tanto contribuem para a sociedade, a lista seria interminável! Assim, quando algumas personalidades se sentem ofendidas por serem vítimas das piadas da Joana, deveriam ver-se um bocadinho ao espelho e pensar-se. Deixaram-nos alguma sinfonia? Deixaram-nos alguma obra arquitetónica que nos arrebata? Deixaram um legado pelo exemplo que foram ou uma obra literária? Deixaram-nos conhecimentos que permitem a evolução da tecnologia e um avanço na compreensão do Universo? Deixaram a cura para alguma doença? Não! Têm seguidores e são reconhecidos por um público que consome certos programas e vídeos! Só o nome seguidores me arrepia, porque parece estarmos perante uma espécie de uma qualquer seita! Imagino alguém sempre a seguir-nos os passos e a observar os nossos movimentos numa voracidade execrável! Que horror!

 Dispam a vaidade para que a verdade crua possa aparecer e depressa perceberão que o ser humano, na generalidade, não é muito apreciável e que todos nós somos feitos mais de misérias do que de achados…

A Joana, simpaticamente, referiu-se a essa gente como pessoas dotadas de uma autoestima inabalável e que ela, Joana, não tinha essa segurança toda e, como tal, era inevitável brincar um pouco.

Ó Joana! Autoestima?! Não me parece. Pura vaidade e ego agigantado sem matéria sólida que o possa preencher e, depois, quando analisas as pérolas, a jactância torna-se numa massa mole que se liquefaz…

Como diz o povo, “presunção e água benta, cada um toma a que quer”. Não há limite para a soberba, mas deveria haver (digo eu) …

Nina M.

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