Seguidores

sábado, 5 de junho de 2021

Crónica de Maus Costumes 235

 

A minha cidade

                 A minha pequena cidade está cada vez mais agradável. Não digo bonita, porque lhe falta um centro histórico que nunca existiu nem poderá existir e falta-lhe também um crescimento ordenado.

Certamente, já foi pior. Antigamente, o planeamento e o ordenamento do território era coisa de menor importância e a construção cresceu como cogumelos, onde quer que fosse, e sem preocupações estéticas. Resultou numa série de mamarrachos, que com o passar dos anos, ganham um aspeto velho e feio tal como muitas das habitações. É curioso que a antiguidade nos tenha deixado belíssimas joias arquitetónicas. Quem vai a Florença sai maravilhado, escusado será falar de Paris, Londres, Viena de Áustria e até lugarejos bem mais pequenos e perdidos nesses recantos, mas absolutamente pitorescos. A Ribeira e a Baixa recuperadas do nosso Porto são belíssimas! Interrogo-me sobre o património arquitetónico que deixaremos aos vindouros… Casas e prédios em betão. Construções que se esqueceram da estética e que não é possível implodir, logicamente. Trata-se de propriedade privada e do alojamento das pessoas, tantas vezes conseguido com grande esforço. Deste modo, nas pequenas cidades com estas características, há que saber retirar proveito do que a natureza de melhor nos oferece. Será esta o melhor cartão de visita a oferecer aos forasteiros e aos seus habitantes. Integramos a rota do românico, com o Mosteiro de S. Pedro de Ferreira, caso único no românico português, por ser precedido por um nártex descoberto e cercado por uma muralha (pelo que sei, só em Zamora se pode encontrar arquitetura semelhante). Oferecemos uma das maiores citânias, onde podem ser observados os vestígios da cultura castreja, na freguesia de Sanfins e também podemos mostrar um dólmen, em Lamoso. Se quisermos referir capelas e cruzeiros, abundam, pelo concelho. Porém, estes monumentos encontram-se dispersos pelas várias freguesias concelhias e o que eu gostaria era de poder vir à baixa, já que moro no alto da colina citadina, e ter um centro histórico pequenino e acolhedor que consolasse os olhos. Não tenho e não há nada a fazer, pelo que me congratulo com o cuidado maior que se tem tido com a preservação dos espaços naturais.

Longe de querer fazer campanha política e nem o texto deve ser assim entendido. Vivo afastada desses meandros, mas agrada-me o que de bom se está a fazer. Também não me questionem sobre as contas e gastos. Não sou frequentadora das Assembleias Municipais, logo não sei. Observo apenas com muita satisfação o alargamento do parque da cidade. Era pequeno e com a área que agora integra, com outras voltitas pelo meio, já fui capaz de correr os meus dez quilómetros sem repetir inúmeras vezes o mesmo trajeto. Quem faz distâncias não gosta de correr sempre no mesmo percurso. É aborrecido e mentalmente cansativo. Parece que não saímos do lugar e, por isso, optava pela estrada. O parque é mais seguro, obviamente. Atrevo-me a sugerir um espelho de água com o aproveitamento do rio Ferreira, que no local é ainda um riacho. Nem sei se será possível… A cereja no topo do bolo é precisamente o curso do rio e a limpeza que fizeram até ao limite da via do poder local. O local é idílico e fresco no verão. Ficamos rodeados pelo verde das árvores imensas que parecem chegar ao céu e da vegetação rasteira de fetos enormes e de outras plantas. Fica-se com a sensação de estarmos numa floresta encantada, onde o bom silêncio abunda, quebrado só pelo canto dos pássaros, pela brisa que passa e pela voz cristalina do riacho. Antigamente, havia carreiro por onde as gentes de Ferreira atalhavam para chegar mais rápido à vila, na época. Depois de tantos anos sem atividade humana, os lameiros deram origem a um belo e virginal bosque. Perfeito para, num dia de calor, na companhia de um bom livro, munidos de lanche e de uma cadeira confortável passar uma tarde sossegada ou fazer, entretanto, uma pequena e agradável caminhada. Espero que haja civismo e não conspurquem o santo local. Não se deve sequer dar conta da frequência de humanos no local. Da última vez que lá estive, percorri o trajeto quase na mais absoluta solidão e foi tão bom que, certamente, repetirei muitas outras vezes.

 

Nina M.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário