A minha cidade
Certamente,
já foi pior. Antigamente, o planeamento e o ordenamento do território era coisa
de menor importância e a construção cresceu como cogumelos, onde quer que
fosse, e sem preocupações estéticas. Resultou numa série de mamarrachos, que
com o passar dos anos, ganham um aspeto velho e feio tal como muitas das
habitações. É curioso que a antiguidade nos tenha deixado belíssimas joias
arquitetónicas. Quem vai a Florença sai maravilhado, escusado será falar de
Paris, Londres, Viena de Áustria e até lugarejos bem mais pequenos e perdidos
nesses recantos, mas absolutamente pitorescos. A Ribeira e a Baixa recuperadas
do nosso Porto são belíssimas! Interrogo-me sobre o património arquitetónico
que deixaremos aos vindouros… Casas e prédios em betão. Construções que se
esqueceram da estética e que não é possível implodir, logicamente. Trata-se de
propriedade privada e do alojamento das pessoas, tantas vezes conseguido com
grande esforço. Deste modo, nas pequenas cidades com estas características, há
que saber retirar proveito do que a natureza de melhor nos oferece. Será esta o
melhor cartão de visita a oferecer aos forasteiros e aos seus habitantes.
Integramos a rota do românico, com o Mosteiro de S. Pedro de Ferreira, caso
único no românico português, por ser precedido por um nártex descoberto e
cercado por uma muralha (pelo que sei, só em Zamora se pode encontrar
arquitetura semelhante). Oferecemos uma das maiores citânias, onde podem ser
observados os vestígios da cultura castreja, na freguesia de Sanfins e também
podemos mostrar um dólmen, em Lamoso. Se quisermos referir capelas e cruzeiros,
abundam, pelo concelho. Porém, estes monumentos encontram-se dispersos pelas
várias freguesias concelhias e o que eu gostaria era de poder vir à baixa, já
que moro no alto da colina citadina, e ter um centro histórico pequenino e
acolhedor que consolasse os olhos. Não tenho e não há nada a fazer, pelo que me
congratulo com o cuidado maior que se tem tido com a preservação dos espaços
naturais.
Longe
de querer fazer campanha política e nem o texto deve ser assim entendido. Vivo
afastada desses meandros, mas agrada-me o que de bom se está a fazer. Também
não me questionem sobre as contas e gastos. Não sou frequentadora das
Assembleias Municipais, logo não sei. Observo apenas com muita satisfação o
alargamento do parque da cidade. Era pequeno e com a área que agora integra, com
outras voltitas pelo meio, já fui capaz de correr os meus dez quilómetros sem
repetir inúmeras vezes o mesmo trajeto. Quem faz distâncias não gosta de correr
sempre no mesmo percurso. É aborrecido e mentalmente cansativo. Parece que não
saímos do lugar e, por isso, optava pela estrada. O parque é mais seguro,
obviamente. Atrevo-me a sugerir um espelho de água com o aproveitamento do rio
Ferreira, que no local é ainda um riacho. Nem sei se será possível… A cereja no
topo do bolo é precisamente o curso do rio e a limpeza que fizeram até ao
limite da via do poder local. O local é idílico e fresco no verão. Ficamos
rodeados pelo verde das árvores imensas que parecem chegar ao céu e da
vegetação rasteira de fetos enormes e de outras plantas. Fica-se com a sensação
de estarmos numa floresta encantada, onde o bom silêncio abunda, quebrado só
pelo canto dos pássaros, pela brisa que passa e pela voz cristalina do riacho.
Antigamente, havia carreiro por onde as gentes de Ferreira atalhavam para
chegar mais rápido à vila, na época. Depois de tantos anos sem atividade
humana, os lameiros deram origem a um belo e virginal bosque. Perfeito para,
num dia de calor, na companhia de um bom livro, munidos de lanche e de uma
cadeira confortável passar uma tarde sossegada ou fazer, entretanto, uma
pequena e agradável caminhada. Espero que haja civismo e não conspurquem o
santo local. Não se deve sequer dar conta da frequência de humanos no local. Da
última vez que lá estive, percorri o trajeto quase na mais absoluta solidão e foi
tão bom que, certamente, repetirei muitas outras vezes.
Nina
M.
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