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sábado, 19 de junho de 2021

Crónica de Maus Costumes 237

 

CR7 e a coca-cola

                Começo por fazer uma declaração de intenções: não sou especial fã do Ronaldo. Reconheço-lhe o tremendo mérito que tem, o esforço e o comprometimento com a profissão que escolheu e todos os seus gestos de extrema generosidade. Gravou o seu nome nas páginas do futebol mundial e é um embaixador do nosso país, pelo que representa. Admiro-o e felicito-o, nesse sentido. Leva o nome de Portugal a todo o mundo.

            Tem outras características que não aprecio tanto… Desde logo a sua falta de cordialidade e de simpatia para com o meu FCP e, depois, porque apesar dos seus abdominais trabalhados e bastante atraentes, nunca me entusiasmou, enquanto representante do sexo oposto. Não aprecio o estilo e não sei sobre o que poderia conversar com o Ronaldo… Sei lá… Sempre fui mais apreciadora de um Baía ou um Capucho, nos tempos áureos (também não é difícil, já que revelam melhor gosto clubístico, diga-se). No entanto, também nunca fui de grandes idolatrias. Quer dizer, na infância, lembro-me de gostar muito, mas mesmo muito, do nosso Bibota (Fernando Gomes). Ao ponto de achar que o cabelo compridito não o favorecia, mas que ele seria tão ocupado que não tinha tempo para o cortar… Coisas de miúda entre os oito e os dez anos. E nem o achava bonito, mas era um número nove tremendo! O FCP deu-me um desgosto terrível quando o deixou ir para o Sporting…

Há seres que admiro profundamente e seria um privilégio poder ter cinco minutos de conversa com eles (talvez mais monólogo, porque iria ouvir mais do que falar), no entanto, admiração não significa idolatria e o Ronaldo não está entre os eleitos. Alguns, eu teria que os ressuscitar, porque, infelizmente, já não estão por cá. Serve a declaração de interesses para demonstrar que não tenho nenhum interesse particular em defender o CR7 e nem ele precisa que eu o faça, porém, custa-me ver e aceitar calada certos factos. Será o meu mau feitio, certamente…

Ora, a propósito do comentário do Ronaldo e do seu comportamento, na conferência de imprensa, em que afasta as garrafas de cola (marca patrocinadora) e nos aconselha a beber água, já se gastaram as caixas de comentários nas redes sociais. Uns a favor outros contra. Uns consideram que ele foi um palerma mal-educado e outros que ele teve coragem para desafiar a grande marca e que fez muito bem, pois acabou por dar o exemplo aos miúdos. O Ronaldo poderia ter simplesmente pegado na água e bebido em frente às câmaras e a sua escolha estaria feita, porém, decidiu ser mais incisivo e aconselhou a bebermos água. Não compreendo o desagrado. Seria grave se ele fizesse o inverso: se agarrasse na cola e aconselhasse o seu consumo! Todos sabemos a quantidade de açúcar e de outras substâncias prejudiciais à nossa saúde que a bebida contém. Não será à toa que em minha casa refrigerantes (todos eles) só têm entrada em dia de festa ou de visitas. Excetuando estas situações, água “del cano” que dura para todo o ano. É boa. Refresca e mata a sede. Abrem-se exceções para os adultos que estão autorizados ao seu copinho de vinho, apenas durante as refeições, normalmente maduro tinto de inverno e branco (verde ou maduro) de verão. Considero que a ação do Ronaldo foi importante para a aquisição de hábitos saudáveis. Talvez ele tenha mais impacto com este gesto do que uma centena de médicos a dizer o mesmo!

Não faltaram, obviamente, imagens do mesmo Ronaldo, com vinte e três anos, a fazer publicidade à coca-cola, como quem expõe uma grande hipocrisia e incoerência. De facto, numa primeira análise apressada, e pouco tolerante poderemos pensá-lo, não obstante, se refletirmos um pouco, constatamos facilmente que o CR7 aos trinta e seis anos é um CR7 diferente do que foi aos vinte e três. Parece-me óbvio! Está mais velho, mais consciente e mais rico. Se em determinada altura aceitou fazer essa publicidade pelo dinheiro, naturalmente, foi a sua escolha. Neste momento, atendendo à sua situação financeira, sendo mais consciente e também pai, parece-me que esteve muito bem. Certamente, o CR7 não bebe cola ou beberá muito esporadicamente, tal como tem um rigor e um cuidado enormes com a sua alimentação. Também não se alimenta a hambúrgueres, de momento. Porém, até já agradeceu à senhora que trabalhava numa hamburgueria e que lhos guardava para lhos dar fora de horas, quando ele ainda estava na academia do Sporting… O tempo passa e as pessoas amadurecem, felizmente. Todos nós mudamos ao longo dos anos e todos nós já tivemos comportamentos de que não nos orgulhamos… Faz parte das dores do crescimento. De modo que não entendo esta má vontade. Como se uma publicidade antiga lhe retirasse o direito de manifestar a sua opinião e o que a sua consciência lhe diz para fazer, atualmente, à luz do que ele é hoje! Naturalmente, teria sido estupendo se há anos o futebolista tivesse revelado maturidade para ser tocado pela ética e tivesse recusado os milhares da coca-cola, mas adivinhe-se: os heróis também têm pés de barro e o CR7 é apenas um homem como qualquer comum dos mortais, com as suas virtudes e os seus defeitos. Erra como toda a gente. Fico siderada com os julgamentos e comentários maldosos e com a exigência que lhe é imputada, talvez por parte de pessoas que não se dão ao trabalho de se verem ao espelho! A todos esses aconselharia a leitura do poema “Linha Reta”, de Álvaro de Campos. Pediria que olhassem para quem já foram e para os seus comportamentos e se, de facto, tiverem uma folha limpíssima e lustrosa, sem mácula ou indício de incoerência, eu faço, desde já, a minha vénia… Eu assumo as minhas falhas e olho-me e bato-me todos os dias por manter a coerência e nem sempre é fácil conjugar o pensamento com as ações. Absolutamente falível me confesso, por isso, a ti, Ronaldo, também não te exijo a perfeição, apenas que faças o melhor que conseguires ao serviço da seleção.

Se puderes, aconselha novamente a água, a alimentação saudável, apela à recusa do tabaco e de drogas e, já agora, sugere a prática de algum exercício físico, porque o sedentarismo vigente e as doenças cardiovasculares são um problema. A Organização Mundial de Saúde, certamente, agradece. Bem-haja!

Nina M.

 

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