Lembro-me da noite
Em que não quis mais
Em que não quis mais
Festejar aniversários
Era suficientemente nova e tenra
Era suficientemente nova e tenra
Mário de Sá-Carneiro na mão
Aos primeiros versos de Partida
(Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.)
Acontece a epifania.
A cada aniversário há um escoar de vida
E a vida como via perdeu a cor
Não se celebra a vida caducada de ontem
Nem o amanhã longínquo que
Ninguém sabe o que traz
Além da névoa fria e húmida...
O momento do canto sufoca
Ó cilício que aperta!
Olhares insistentemente pousados
sobre os olhos que não sabem fugir
E os lábios, autónomos, habituados
A sorrir, abrem-se, timidamente, em flor
Desconforto e estas mãos
Ninguém sabe o que fazer com elas
Cruzam e descruzam sobre os braços
hesitantes...Só à espera do sopro de vela
Que se apaga e leva vida com ela
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