Estranho o perfume
Do meu casaco emprestado
A outrem - bom por sinal -
Porém ausente de mim
Tão estranho como se a essência
Que me habita fugisse deste
Corpo literal feito de carne e de sangue
E então assim não seria eu
Que seria de mim sem o meu corpo?
Ser seria, certamente, mas não eu.
Talvez só a possibilidade de mim
Ou um eu mutilado de mim
E sorvo o cheiro a golos pequeninos
Por ser bom mas estranho-me
E percebo a possibilidade de ser
Apenas neste limite corporal que é o meu
E pergunto-me sobre o que será a morte
A finitude plena ou ensejo de alma que voa
E vejo Eça, Pessoa e Torga e Sophia e Saramago
E reconheço-lhes as palavras encerradas no rosto
Dos retratos que nos mostram os livros
Eles são as palavras e o corpo que não possuem
Mas são corpo e alma. Assim os vejo e os ouço.
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