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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Estranho o perfume

Estranho o perfume

Do meu casaco emprestado

A outrem - bom por sinal -

Porém ausente de mim

Tão estranho como se a essência

Que me habita fugisse deste

Corpo literal feito de carne e de sangue

E então assim não seria eu

Que seria de mim sem o meu corpo?

Ser seria, certamente, mas não eu. 

Talvez só a possibilidade de mim

Ou um eu mutilado de mim

E sorvo o cheiro a golos pequeninos

Por ser bom mas estranho-me 

E percebo a possibilidade de ser

Apenas neste limite corporal que é o meu

E pergunto-me sobre o que será a morte

A finitude plena ou ensejo de alma que voa

E vejo Eça, Pessoa e Torga e Sophia e Saramago 

E reconheço-lhes as palavras encerradas no rosto

Dos retratos que nos mostram os livros

Eles são as palavras e o corpo que não possuem

Mas são corpo e alma. Assim os vejo e os ouço.

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