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sábado, 10 de abril de 2021

Crónica de Maus Costumes 227

 

Indignação, pessimismo e resignação

            O final do dia de ontem e o dia de hoje foram marcados pela ira e pela impotência ao sentir que vilipendiam o país. Nada que não esperasse. Por fim, a montanha pariu um rato e o mesmo sucederá com os restantes casos.

            A (in)justiça portuguesa é uma vergonha! Nem é cega e a balança está desequilibrada, pois pende sempre para o lado do poder. Não sou jurista nem sei nada de leis e não significa que não admita que o Senhor Meritíssimo Juiz não tenha efetivamente feito cumprir a lei, mediante os pressupostos que ela exige. Não sei se o senhor doutor fez uma interpretação alargada do espírito da lei ou se efetivamente a seguiu à risca. Dura lex sed lex. Isto, porque independentemente dos factos provados ou por provar, das prescrições e dos erros processuais que tornam as provas inválidas, só significa uma coisa: a Justiça em Portugal não condena gente poderosa. Desde Gil Vicente que o sabemos. Quem redige as leis que nos regulam? Com que interesses, omissões e linguagem pouco clara são redigidas? Como poderemos alguma vez confiar na justiça e acreditar na efetiva separação de poderes? A quem interessa um Ministério Público incompetente por falta de meios humanos e materiais? A quem interessa uma Justiça que emperra nos megaprocessos e deixa prescrever crimes? A quem interessa uma Justiça que não vê má-fé nem corrupção em nada? Foi assim com Sócrates (nem admito chamar-lhe engenheiro, porque ninguém faz cadeiras a um domingo), com o Oliveira Costa, com o Joe Berardo e assim será também com o Ricardo Salgado. A ironia suprema será ainda o país ter de pagar uma indemnização choruda a esse grande animal político (confirma-se a sua autodefinição) e vê-lo ainda a rir-se descaradamente na cara dos portugueses, tal como fez já o Berardo.

Estas injustiças apoderam-se do meu espírito e transtornam-me verdadeiramente. Conseguem perturbar a minha paz de espírito e, por mais que o tente evitar, retiram-me o sossego. Fervem-me as entranhas e geram-me uma irritação tamanha, fazendo-me vociferar impropérios e soltar o que de pior tenho. O que eu mais desejo a estes senhores, que escapam das malhas da justiça como as enguias por entre os dedos molhados, é que sejam apupados, verdadeiramente enxovalhados em praça pública. Estimo que uma vez na vida os portugueses mostrem nervo, se indignem e sobretudo que não esqueçam! Como pode a desfaçatez chegar a tanto?

Temos gente a viver miseravelmente neste país. Gente com pensões de miséria e que trabalharam honestamente uma vida inteira para estes vendilhões do templo tomarem o país a saque. Felicito-os a todos, porque acabam de carregar a arma Ventura com extraordinárias munições! Apetece-me esbofeteá-los até à exaustão!

Sinto a alma ferida com um tiro de morte. A inocência e a ilusão que nos são devassadas e o nosso ser que sangra. Para os escroques nada importa o sangue dos outros. Tento inutilmente livrar-me desta lucidez agreste que angustia. Olho para trás e sei que sempre foi assim e não vejo melhor futuro. A política portuguesa está tomada pelas oligarquias de certas famílias. Vivemos numa república com vícios antigos de monarquia… Hoje, os pais, amanhã, os filhos e sobrinhos e netos... Gente que não sabe o valor do trabalho, mas sabe o preço de tudo, o deles inclusive.

Perco-me na biografia do senhor Nabeiro, do senhor Rui, e a sua alma generosa parece-me ainda maior. Noventa anos de bom exemplo e de boa gestão. Noventa anos de amor à sua terra e às pessoas. Sempre o sorriso e o otimismo… Noventa anos de humanismo. O verdadeiro socialista (como faz questão de afirmar). Ele pode efetivamente afirmá-lo.

Ponham os olhos, vermes sanguinários! Ah! Quanto ofertaria pela inconsciência – a garantia da tranquilidade – mas a maldita lucidez não o permite e o pessimismo penetra nas veias como veneno célere. Traz a cólera e o cinismo ao qual não me quero render. O que fazer com a raiva que nos consome? Invariavelmente, tudo termina em tinta sobre o papel. E percebo porque escrevo. Em última instância para tornar o mundo mais suportável. Eu, que paradoxalmente, sou munida de alegria e de gosto pela vida… Eu que procuro o melhor lado das coisas… Hoje, fui vencida e reinou a ira. Um país que mereceria melhor gente…

E ao longe dos anos vejo o largo oceano com uma imensidão de verde nas costas sob a abóbada azul celeste e penso que poderá ser o último refúgio para terminar os dias longe desta doença numa feliz resignação…

Um dia sem morte, pedia o Tribuno romano, um dia sem morte…

Nina M.

           

 

               

 

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