Nasci ainda agora
Na flor desabrochada
No sol que rompeu por
Entre os novelos de algodão
Ou na espuma leve das ondas
Desfeita ao oscular a areia
A marcá-la com a sua seiva
E morri tantas outras outras vezes
Em derrotas indesejadas
Em vitórias fracassadas
Por nunca serem as da minha escolha
Morri ao ver-te partir
Ao acenar do teu braço longínquo
E renasci a cada madrugada
Em que a preguiça me visita
E me toma conta do corpo
Cheio de viço e de projetos
Arrasto-me na lassidão quente dos lençóis
E sei-me viva e renascida
Para morrer de seguida
A cada voltar de página do jornal
Que se esquece pousado em qualquer banco
A todo o instante em que se liga o botão
De contar a história do homem e a sua podridão
E vivo novamente nas páginas de um livro
Escolhido ao acaso ou oferenda de alguém
E se é oferta consola e renasço duplamente
Na poesia esquecida ou no filme que dela fala
E que é ela transformada em coisa de se ver
Sou vida e morte a passar pelos dias
Como qualquer simples mortal
Quem louco terá julgado nascer e morrer apenas uma vez?
Nasço e morro nos teus braços
Nasço e morro no meio de cansaços
Nasço e morro sempre outra vez
Até ao requiem final
Escolha que alguém fez
Sem comentários:
Enviar um comentário