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sábado, 26 de dezembro de 2020

Natividade e Requiem

Nasci ainda agora

Na flor desabrochada

No sol que rompeu por

Entre os novelos de algodão

Ou na espuma leve das ondas 

Desfeita ao oscular a areia

A marcá-la com a sua seiva

E morri tantas outras outras vezes

Em derrotas indesejadas

Em vitórias fracassadas

Por nunca serem as da minha escolha

Morri ao ver-te partir

Ao acenar do teu braço longínquo

E renasci a cada madrugada

Em que a preguiça me visita

E me toma conta do corpo

Cheio de viço e de projetos

Arrasto-me na lassidão quente dos lençóis

E sei-me viva e renascida

Para morrer de seguida

A cada voltar de página do jornal

Que se esquece pousado em qualquer banco

A todo o instante em que se liga o botão

De contar a história do homem e a sua podridão

E vivo novamente nas páginas de um livro

Escolhido ao acaso ou oferenda de alguém

E se é oferta consola e renasço duplamente

Na poesia esquecida ou no filme que dela fala

E que é ela transformada em coisa de se ver

Sou vida e morte a passar pelos dias

Como qualquer simples mortal

Quem louco terá julgado nascer e morrer apenas uma vez?

Nasço e morro nos teus braços

Nasço e morro no meio de cansaços

Nasço e morro sempre outra vez

Até ao requiem final 

Escolha que alguém fez

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