Cansaços de final de período
Esta semana, soube que uma colega
estava gravemente doente. Descobriu-o numa consulta e com exames de rotina. Sem
esperar e sem qualquer aviso prévio, entrou no hospital a 25 de novembro e
ainda lá continua.
O
coração adoeceu e cedeu. O cansaço era desvalorizado e atribuído à idade, que
apesar de não ser ainda muita, começa a pesar. Felizmente, há muita coisa que
se conserta com a medicina e ao ouvi-la falar, antes da sua longa cirurgia,
parecia que estávamos a conversar sobre o carro que vai ao mecânico, porque
precisa de válvulas novas. O coração dela também precisou de algo novo, modelo
exclusivo e feito à medida, o que explicou o tempo que permaneceu no hospital
sem visitas até à data da cirurgia e assim continua. Oxalá não as possa ter,
porque na situação atual, as visitas existem apenas para os familiares se
despedirem dos que partem. Venham rapidamente as vacinas para que as vidas de
tantos possam voltar às rotinas pré-covid. Esta minha colega convenceu-me a
participar no programa da AFS e assim proporcionou-me a oportunidade de
conhecermos a nossa italianinha, a nossa Gaia, com nome de deusa, que significa
a Terra mãe. Com receio do que este ano nos pudesse reservar, decidimos não
acolher ninguém. Seria uma responsabilidade terrível e a precaução venceu,
porém, a Fátima, destemida, tinha uma italiana em casa… Depois, a vida, que tem
tanto de surpreendente quanto de terrível, trouxe-lhe uma italianinha com um
pai cirurgião, que fez questão de falar com os colegas portugueses para
partilharem conhecimentos e opiniões. Este episódio é tão extraordinário e tão
ternurento, apesar do momento difícil, que as famílias jamais o esquecerão. A
menina, que já regressou ao seu país natal, pôde despedir-se de quem tão bem a
acolheu, com todas as precauções e cuidados, obviamente. Motivo para felicitar
o humanismo do gesto, que possibilitou a despedida a ambas. Histórias como esta
lembram-nos a nossa fragilidade e as circunstâncias que vivemos tornam tudo
mais difícil! A minha colega passou por uma cirurgia de onze ou doze horas sem
o conforto presencial dos que ama. Tinha o telemóvel, mas nunca é a mesma coisa
e eu que a senti esperançosa, mas assustada, por saber da delicadeza do arranjo
da máquina, dou comigo a pensar na matéria perecível e fraca de que somos
feitos…
Surge
um cansaço… A moléstia de final de período, mas que me deixou particularmente
exausta, este ano (eu, normalmente enérgica e que não o costumo acusar desta
forma)! A necessidade e a vontade extrema de me desligar de uma boa parte do
mundo, preferencialmente, sem confinamento e fora de casa, que me começam a
moer, que me obrigam a adiar planos e visitas que gostaria de realizar, porque
o tempo é um bem precioso a não desperdiçar e a única coisa que poderei comportar
comigo é a sabedoria e o acervo de experiências... A primeira não é muita, sempre
aquém do desejável e a segunda, difícil de concretizar, nos tempos em que vivemos.
O aborrecimento de ver os motivos que me levam a trabalhar muito adiados,
porque sem isso a correria não faz grande sentido e só me rouba tempo para mim
e aos meus… Cronos. Sempre Cronos, esse deus implacável que não se compadece
das urgências dos mortais… Deve ser da idade e do tempo que aflora a
irritabilidade, mas a ausência dos que amamos e dos seus afetos transtornam-nos
o espírito. É necessário aguentar, mas a ausência e os adiamentos são uma fadiga
contínua.
Fátima,
espero que recuperes rapidamente e que possas regressar aos teus. Se tiver que ser
ainda em confinamento, que o seja em tua casa.
Nina
M.
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