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sábado, 19 de dezembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 211

 

Cansaços de final de período

                Esta semana, soube que uma colega estava gravemente doente. Descobriu-o numa consulta e com exames de rotina. Sem esperar e sem qualquer aviso prévio, entrou no hospital a 25 de novembro e ainda lá continua.

O coração adoeceu e cedeu. O cansaço era desvalorizado e atribuído à idade, que apesar de não ser ainda muita, começa a pesar. Felizmente, há muita coisa que se conserta com a medicina e ao ouvi-la falar, antes da sua longa cirurgia, parecia que estávamos a conversar sobre o carro que vai ao mecânico, porque precisa de válvulas novas. O coração dela também precisou de algo novo, modelo exclusivo e feito à medida, o que explicou o tempo que permaneceu no hospital sem visitas até à data da cirurgia e assim continua. Oxalá não as possa ter, porque na situação atual, as visitas existem apenas para os familiares se despedirem dos que partem. Venham rapidamente as vacinas para que as vidas de tantos possam voltar às rotinas pré-covid. Esta minha colega convenceu-me a participar no programa da AFS e assim proporcionou-me a oportunidade de conhecermos a nossa italianinha, a nossa Gaia, com nome de deusa, que significa a Terra mãe. Com receio do que este ano nos pudesse reservar, decidimos não acolher ninguém. Seria uma responsabilidade terrível e a precaução venceu, porém, a Fátima, destemida, tinha uma italiana em casa… Depois, a vida, que tem tanto de surpreendente quanto de terrível, trouxe-lhe uma italianinha com um pai cirurgião, que fez questão de falar com os colegas portugueses para partilharem conhecimentos e opiniões. Este episódio é tão extraordinário e tão ternurento, apesar do momento difícil, que as famílias jamais o esquecerão. A menina, que já regressou ao seu país natal, pôde despedir-se de quem tão bem a acolheu, com todas as precauções e cuidados, obviamente. Motivo para felicitar o humanismo do gesto, que possibilitou a despedida a ambas. Histórias como esta lembram-nos a nossa fragilidade e as circunstâncias que vivemos tornam tudo mais difícil! A minha colega passou por uma cirurgia de onze ou doze horas sem o conforto presencial dos que ama. Tinha o telemóvel, mas nunca é a mesma coisa e eu que a senti esperançosa, mas assustada, por saber da delicadeza do arranjo da máquina, dou comigo a pensar na matéria perecível e fraca de que somos feitos…

Surge um cansaço… A moléstia de final de período, mas que me deixou particularmente exausta, este ano (eu, normalmente enérgica e que não o costumo acusar desta forma)! A necessidade e a vontade extrema de me desligar de uma boa parte do mundo, preferencialmente, sem confinamento e fora de casa, que me começam a moer, que me obrigam a adiar planos e visitas que gostaria de realizar, porque o tempo é um bem precioso a não desperdiçar e a única coisa que poderei comportar comigo é a sabedoria e o acervo de experiências... A primeira não é muita, sempre aquém do desejável e a segunda, difícil de concretizar, nos tempos em que vivemos. O aborrecimento de ver os motivos que me levam a trabalhar muito adiados, porque sem isso a correria não faz grande sentido e só me rouba tempo para mim e aos meus… Cronos. Sempre Cronos, esse deus implacável que não se compadece das urgências dos mortais… Deve ser da idade e do tempo que aflora a irritabilidade, mas a ausência dos que amamos e dos seus afetos transtornam-nos o espírito. É necessário aguentar, mas a ausência e os adiamentos são uma fadiga contínua.

Fátima, espero que recuperes rapidamente e que possas regressar aos teus. Se tiver que ser ainda em confinamento, que o seja em tua casa.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

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