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sábado, 17 de outubro de 2020

Crónica de Maus Costumes 202

 

Stayaway from me, maldito vírus !

                A app mais falada do momento está a dividir opiniões. Como toda a tecnologia, a app em si nem é boa nem é má, já o uso que dela se pode fazer será outra história.

            Assumo que não instalei nem instalarei a Stayaway covid. Mesmo que seja imperativo legal, o que não acredito que venha a acontecer, dada a inconstitucionalidade do propósito. O Governo cairia no ridículo e contrariaria todas as indicações da Comissão Europeia e do que até agora defendeu: o seu caráter voluntário. Um dos argumentos utilizados pelos defensores do uso da app é a parca privacidade que já temos pelo facto de sermos utilizadores da Internet, de múltiplas redes sociais e outras aplicações que guardam religiosamente todas as nossas informações. É verdade. O facebook sabe mais das minhas preferências e interesses do que qualquer familiar meu, incluindo os mais próximos. Devo dizer que, apesar de o saber, não gosto. Não me agrada. Não preciso que me sejam impingidas uma catadupa de páginas sobre um assunto, após ter pesquisado sobre o mesmo. Foi precisamente esse aspeto que me manteve afastada de redes sociais uma data de anos e de apenas ter aderido à moda em 2015, após insistência de algumas pessoas. Ao fazê-lo assumi as consequências, mas foi uma escolha ponderada e refletida (da qual já houve ocasiões em que me arrependi), porém, nada me foi despoticamente imposto! Eu tenho o direito e a liberdade de instalar ou não o que quiser no meu telemóvel, inteiramente pago por mim! E não me venham com o argumento bem-intencionado, mas absolutamente falacioso da sobreposição do bem comum ao bem individual. Quem me conhece saberá que também o defendo, mas não tão cegamente nem a qualquer preço! Vejamos: a app só me avisará de que estive na proximidade de alguém portador do vírus se essa pessoa decidir inserir o código, após saber que está contaminada. Se porventura tiver a “fica longe covid” instalada, mas não se der ao trabalho de avisar que está infetada, inserindo o seu código, a aplicação já não terá qualquer interesse. Na verdade, continuo, como agora, dependente do comportamento cívico de cada cidadão e essa é a melhor proteção que cada um de nós poderá ter! Quero lá saber que me avisem de que estive em contacto com alguém infetado no supermercado ou na rua! Por acaso a app também me dirá se essa pessoa estava de máscara ou se mexeu em alguma coisa em que eu também tenha tocado a posteriori?

Realmente gostaria muito que as pessoas se preocupassem mais com os seus comportamentos do que com a instalação de uma aplicação que não resolve coisa nenhuma. Se eu e a DGS soubermos que estive em contacto com alguém infetado por mais de quinze minutos, é condição suficiente para ser testada? Ou pretendem que em pânico e por imperativo de consciência vá fazer o teste e o pague a minhas expensas? É uma forma de testar sem despesa para o Estado, mas os meus impostos deveriam servir para isto e não para capitalizações sucessivas da banca! Não preciso de qualquer aplicação para saber que estou em contacto com gente portadora do vírus! Ser professora é condição suficiente para isso! Vivo assustada? Não. Na sala bato-me pelo cumprimento das regras de segurança e de higiene e seja o que Deus quiser! Desconfio bem que muitos dos que se apressaram a instalar a bendita aplicação não se coíbem de bater perna nos centros comerciais, ao domingo, sem necessidade, e de continuarem a frequentar cafés! Não estou a apelar para que deixem de ir ao café ou ao restaurante, porque as pessoas têm de viver, mas que tenham o civismo de entrarem com a máscara, de retirá-la apenas para comerem ou beberem e de voltarem a colocá-la o quanto antes e, preferencialmente, não façam sala em demasia!

São estes comportamentos que amenizarão o problema e não a milagrosa aplicação. Se o povo português tivesse esta decência, eu seria mais feliz. Parecem-me mais razoáveis o impedimento de ajuntamentos, por muito que nos custe! Separar agora para poder reunir mais tarde ou correremos o risco de não voltar a reunir com alguns. Desta forma, quando há um elevado número de gente a circular nas ruas, ao ar livre, a máscara deve ser de uso obrigatório, sim! Efetivamente, nesta situação, pelo bem de todos. E também não venham alegar que nos transportes e nas escolas o distanciamento não existe. É verdade. Não existe, mas também não há muito que se possa fazer, neste momento. Num país rico, haveria mais transpores públicos e mais salas e menos alunos por turma, nós cosemo-nos com as linhas que temos no momento, gostemos ou não. Expor-me nos transportes pode ser quase obrigatório, porque temos de trabalhar, mas expor-me por vontade própria e sem necessidade, só porque me apetece confraternizar à vontade e sem máscara é apenas parvoíce, egoísmo e falta de respeito para com o outro!

Não abdico, portanto, da minha liberdade quando não vislumbro nisso qualquer vantagem efetiva. Mais: não se pode comprometer assim os direitos democráticos consignados na constituição sob pena de um dia nos serem retirados de mansinho e sem aviso. Uma ditadura nunca surge de um momento para o outro e a melhor forma de a instituir é sempre através do medo. Quem leu George Orwell   sabe-o perfeitamente. Para os chineses é normal que o Estado saiba com quem estiveram, que conversas tiveram no telemóvel e com quem, se são partidários ou opositores do sistema vigente… Isto é apenas mais um grão de areia. Na Europa, é impensável, seria um atropelo às liberdades individuais que tanto custaram a conquistar!

Lembro que tal imposição, além de absolutamente idiota, é impossível de controlar por parte das forças de segurança. Ninguém é obrigado a mostrar o seu telemóvel e a polícia não o pode exigir! “Senhor condutor, os seus documentos e o seu telemóvel, por favor!” Deixem-me rir!

A suprema ironia reside no facto de serem precisamente os que enchem a boca para falar de abril, os que não se coibiram de fazer as celebrações de abril numa época complicada a proporem tamanho disparate!

Eu não aderi nem aderirei ao stayaway covid, mas comprometo-me com os meus concidadãos a manter um comportamento adequado aos tempos que vivemos e isto é tudo o que preciso de fazer para ficar de consciência tranquila. Façam o mesmo por mim e pelos outros e tudo será menos grave.

 

Nina M.

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