Stayaway from me, maldito vírus !
A app mais
falada do momento está a dividir opiniões. Como toda a tecnologia, a app em si nem é boa nem é má, já o uso
que dela se pode fazer será outra história.
Assumo que não instalei nem
instalarei a Stayaway covid. Mesmo
que seja imperativo legal, o que não acredito que venha a acontecer, dada a
inconstitucionalidade do propósito. O Governo cairia no ridículo e contrariaria
todas as indicações da Comissão Europeia e do que até agora defendeu: o seu
caráter voluntário. Um dos argumentos utilizados pelos defensores do uso da app é a parca privacidade que já temos
pelo facto de sermos utilizadores da Internet, de múltiplas redes sociais e
outras aplicações que guardam religiosamente todas as nossas informações. É
verdade. O facebook sabe mais das
minhas preferências e interesses do que qualquer familiar meu, incluindo os
mais próximos. Devo dizer que, apesar de o saber, não gosto. Não me agrada. Não
preciso que me sejam impingidas uma catadupa de páginas sobre um assunto, após
ter pesquisado sobre o mesmo. Foi precisamente esse aspeto que me manteve
afastada de redes sociais uma data de anos e de apenas ter aderido à moda em
2015, após insistência de algumas pessoas. Ao fazê-lo assumi as consequências,
mas foi uma escolha ponderada e refletida (da qual já houve ocasiões em que me
arrependi), porém, nada me foi despoticamente imposto! Eu tenho o direito e a
liberdade de instalar ou não o que quiser no meu telemóvel, inteiramente pago
por mim! E não me venham com o argumento bem-intencionado, mas absolutamente
falacioso da sobreposição do bem comum ao bem individual. Quem me conhece
saberá que também o defendo, mas não tão cegamente nem a qualquer preço!
Vejamos: a app só me avisará de que
estive na proximidade de alguém portador do vírus se essa pessoa decidir
inserir o código, após saber que está contaminada. Se porventura tiver a “fica
longe covid” instalada, mas não se der ao trabalho de avisar que está infetada,
inserindo o seu código, a aplicação já não terá qualquer interesse. Na verdade,
continuo, como agora, dependente do comportamento cívico de cada cidadão e essa
é a melhor proteção que cada um de nós poderá ter! Quero lá saber que me avisem
de que estive em contacto com alguém infetado no supermercado ou na rua! Por
acaso a app também me dirá se essa
pessoa estava de máscara ou se mexeu em alguma coisa em que eu também tenha tocado
a posteriori?
Realmente
gostaria muito que as pessoas se preocupassem mais com os seus comportamentos
do que com a instalação de uma aplicação que não resolve coisa nenhuma. Se eu e
a DGS soubermos que estive em contacto com alguém infetado por mais de quinze
minutos, é condição suficiente para ser testada? Ou pretendem que em pânico e
por imperativo de consciência vá fazer o teste e o pague a minhas expensas? É
uma forma de testar sem despesa para o Estado, mas os meus impostos deveriam
servir para isto e não para capitalizações sucessivas da banca! Não preciso de
qualquer aplicação para saber que estou em contacto com gente portadora do
vírus! Ser professora é condição suficiente para isso! Vivo assustada? Não. Na
sala bato-me pelo cumprimento das regras de segurança e de higiene e seja o que
Deus quiser! Desconfio bem que muitos dos que se apressaram a instalar a
bendita aplicação não se coíbem de bater perna nos centros comerciais, ao
domingo, sem necessidade, e de continuarem a frequentar cafés! Não estou a
apelar para que deixem de ir ao café ou ao restaurante, porque as pessoas têm
de viver, mas que tenham o civismo de entrarem com a máscara, de retirá-la
apenas para comerem ou beberem e de voltarem a colocá-la o quanto antes e,
preferencialmente, não façam sala em demasia!
São
estes comportamentos que amenizarão o problema e não a milagrosa aplicação. Se
o povo português tivesse esta decência, eu seria mais feliz. Parecem-me mais
razoáveis o impedimento de ajuntamentos, por muito que nos custe! Separar agora
para poder reunir mais tarde ou correremos o risco de não voltar a reunir com
alguns. Desta forma, quando há um elevado número de gente a circular nas ruas,
ao ar livre, a máscara deve ser de uso obrigatório, sim! Efetivamente, nesta
situação, pelo bem de todos. E também não venham alegar que nos transportes e
nas escolas o distanciamento não existe. É verdade. Não existe, mas também não
há muito que se possa fazer, neste momento. Num país rico, haveria mais
transpores públicos e mais salas e menos alunos por turma, nós cosemo-nos com as
linhas que temos no momento, gostemos ou não. Expor-me nos transportes pode ser
quase obrigatório, porque temos de trabalhar, mas expor-me por vontade própria
e sem necessidade, só porque me apetece confraternizar à vontade e sem máscara
é apenas parvoíce, egoísmo e falta de respeito para com o outro!
Não
abdico, portanto, da minha liberdade quando não vislumbro nisso qualquer
vantagem efetiva. Mais: não se pode comprometer assim os direitos democráticos
consignados na constituição sob pena de um dia nos serem retirados de mansinho
e sem aviso. Uma ditadura nunca surge de um momento para o outro e a melhor
forma de a instituir é sempre através do medo. Quem leu George Orwell sabe-o perfeitamente. Para os chineses é
normal que o Estado saiba com quem estiveram, que conversas tiveram no
telemóvel e com quem, se são partidários ou opositores do sistema vigente… Isto
é apenas mais um grão de areia. Na Europa, é impensável, seria um atropelo às liberdades
individuais que tanto custaram a conquistar!
Lembro
que tal imposição, além de absolutamente idiota, é impossível de controlar por parte
das forças de segurança. Ninguém é obrigado a mostrar o seu telemóvel e a polícia
não o pode exigir! “Senhor condutor, os seus documentos e o seu telemóvel, por favor!”
Deixem-me rir!
A suprema
ironia reside no facto de serem precisamente os que enchem a boca para falar de
abril, os que não se coibiram de fazer as celebrações de abril numa época complicada
a proporem tamanho disparate!
Eu não
aderi nem aderirei ao stayaway covid,
mas comprometo-me com os meus concidadãos a manter um comportamento adequado aos
tempos que vivemos e isto é tudo o que preciso de fazer para ficar de consciência
tranquila. Façam o mesmo por mim e pelos outros e tudo será menos grave.
Nina
M.
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