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sábado, 22 de dezembro de 2018

Crónica de Maus Costumes 112


A Insustentável leveza do ser


Há almas que excedem o ser e o tornam demasiado ambicioso, inquieto e questionador. Normalmente não é fácil conviver-se com esta forma de sentir tudo de todas as maneiras, em busca do que completa na perfeição e na exigência que se coloca.
A vida pode ser bastante cínica e irónica com estes seres, porque para falhar basta existir e a autoconsciência da falha é difícil de carregar, principalmente, para os que exigem a si mesmos o cumprimento impoluto. Viver nesse paradigma traz angústias e agonias e não será para todos. É um estado de alerta constante que aceita breves momentos de leveza, mas que se forem em demasia se tornam insustentáveis, porém, o peso é um fardo difícil de suportar…
 É preciso um equilíbrio entre a leveza e o peso, difícil de conseguir, para não se viver nem subjugado pela carga nem na superficialidade, sem saber o sabor das entranhas do ser.
Quando a existência e as circunstâncias o permitem, tudo se torna mais fácil de conciliar e a alegria chega e instala-se ufana, mas de forma lúcida, porque veio do reconhecimento do espírito e da alma. Às vezes, surge porque se encontrou outra alma congénere e nada pode desfazer a sintonia.
Segundo Sartre, a existência precede a essência. Talvez seja uma janela de oportunidade para que cada um construa a sua história, com a angústia que a liberdade traz. Seremos livres, mediante determinadas circunstâncias, de fazer uma escolha que pode ou não ser a que mais se deseja, mas a que se oferece como mais razoável aos nossos olhos, porém, depois, é preciso saber viver sem rede com as consequências que daí advierem, boas ou más. A noção de que se está entregue a si mesmo, eleva a responsabilidade. O que se escolhe ser perante as circunstâncias que nos rodeiam é uma decisão individual que é necessário assumir. Muitas vezes, plena de conflitos interiores que parecem não ter solução. Quando a alma é grande e profunda, o ser deseja esventrá-la e revirá-la, vê-la do avesso para ver se se reconhece, empenhando-se numa busca necessária que se espera também que seja suficiente, correndo sempre o risco de que nunca nada chegue, nem o saber, nem a ânsia e nem a vida. Tudo parece muito curto, afunilado e castrador.
Vistas as coisas por este prisma, o Homem estaria condenado ao pessimismo e talvez se deixasse corroer pelo cinismo, que é necessário combater. Procurem-se dois remédios infalíveis: a esperança e o amor. Os ingredientes capazes de conferirem algum alívio às angústias de cada um.
Nina M.



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