A Insustentável leveza do ser
Há almas que excedem o ser e o tornam demasiado
ambicioso, inquieto e questionador. Normalmente não é fácil conviver-se com
esta forma de sentir tudo de todas as maneiras, em busca do que completa na
perfeição e na exigência que se coloca.
A vida pode ser bastante cínica e irónica com estes
seres, porque para falhar basta existir e a autoconsciência da falha é difícil
de carregar, principalmente, para os que exigem a si mesmos o cumprimento
impoluto. Viver nesse paradigma traz angústias e agonias e não será para todos.
É um estado de alerta constante que aceita breves momentos de leveza, mas que
se forem em demasia se tornam insustentáveis, porém, o peso é um fardo difícil
de suportar…
É preciso um
equilíbrio entre a leveza e o peso, difícil de conseguir, para não se viver nem
subjugado pela carga nem na superficialidade, sem saber o sabor das entranhas
do ser.
Quando a existência e as circunstâncias o permitem,
tudo se torna mais fácil de conciliar e a alegria chega e instala-se ufana, mas
de forma lúcida, porque veio do reconhecimento do espírito e da alma. Às vezes,
surge porque se encontrou outra alma congénere e nada pode desfazer a sintonia.
Segundo Sartre, a existência precede a essência. Talvez
seja uma janela de oportunidade para que cada um construa a sua história, com a
angústia que a liberdade traz. Seremos livres, mediante determinadas circunstâncias,
de fazer uma escolha que pode ou não ser a que mais se deseja, mas a que se
oferece como mais razoável aos nossos olhos, porém, depois, é preciso saber viver
sem rede com as consequências que daí advierem, boas ou más. A noção de que se
está entregue a si mesmo, eleva a responsabilidade. O que se escolhe ser
perante as circunstâncias que nos rodeiam é uma decisão individual que é necessário
assumir. Muitas vezes, plena de conflitos interiores que parecem não ter solução.
Quando a alma é grande e profunda, o ser deseja esventrá-la e revirá-la, vê-la
do avesso para ver se se reconhece, empenhando-se numa busca necessária que se
espera também que seja suficiente, correndo sempre o risco de que nunca nada
chegue, nem o saber, nem a ânsia e nem a vida. Tudo parece muito curto,
afunilado e castrador.
Vistas as coisas por este prisma, o Homem estaria
condenado ao pessimismo e talvez se deixasse corroer pelo cinismo, que é necessário
combater. Procurem-se dois remédios infalíveis: a esperança e o amor. Os ingredientes
capazes de conferirem algum alívio às angústias de cada um.
Nina M.
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