Esse fardo denominado tempo...
Todos sabemos que vimos a este mundo
com prazo de validade. Só não sabemos exatamente qual a data da nossa
expiração. Também é comum falar-se sobre como aproveitamos o tempo e os
instantes junto daqueles a quem queremos muito. Todos sabemos que cometemos
erros e subaproveitamos o tempo que nos é dado e fazemos promessas de mudança,
mas a verdade é que tudo permanece igual!
Um dia destes, vi uma experiência
interessantíssima sobre o tempo que dedicamos aos que afirmamos amar. Juntaram
pais e filhos, amigos, familiares, enfim, pessoas com uma relação estreita, mas
que não têm um contacto diário. Após saberem o tempo que cada um dos pares
passava por semana ou por mês, fizeram uma estimativa sobre o tempo que eles teriam
juntos, tendo em conta uma determinada expetativa de vida. Os resultados foram
surpreendentes e desoladores. À maioria deles sobejava dias. Ninguém passaria um
ano sequer, ao longo da vida, com a pessoa que afirma amar! Se dúvidas houver,
basta que apliquemos o teste a nós mesmos. Verifiquemos: alguém com quarenta
anos e estimando uma esperança de vida nos oitenta, que veja um irmão uma vez
por semana, durante 5 horas, significa que irá vê-lo, no mês, 20 horas e, num
ano, 240, em quarenta anos, 9600 horas, o que representa cerca de 400 dias, ou
seja, cerca de um ano e um mês, em toda a sua vida! Viverá mais quarenta anos e
terá apenas um ano e um mês de convivência com o irmão! Façam as vossas contas…
Porém, aviso que o cenário desolador se irá repetir…
Temos de fazer algo. Pensamos.
Esqueçam, porque amanhã já não nos lembramos. Fruto da vida burguesa a que
sempre estivemos habituados e que nos põe a trabalhar que nem loucos para a
casa, para o carro, para as férias, para uma parafernália de coisas de que nem
precisaríamos. O tempo, sim, faz-nos falta, porque não é elástico e à medida
que passa, menos dias nos sobram para o que verdadeiramente gostamos e para
quem verdadeiramente queremos. Pelo que me resta concluir que devemos realizar
alguns dos nossos sonhos, para não sentirmos o sabor amargo causado pelo
remorso do que não foi feito. Já não iremos a tempo de emendar tudo, mas talvez
consigamos, pelo menos, aproveitar melhor e fazer com que que as míseras cinco
horas possam equivaler a dias pela sua intensidade. Temos de aprender a fazer
mais com menos, a pensar mais na qualidade, uma vez que a quantidade foge ao
nosso controlo. Talvez o segredo da felicidade esteja mais na qualidade e
intensidade do que na durabilidade. Viver excede o gesto mecânico de respirar.
Há que sorver cada instante vivido na companhia dos que queremos como oferenda
rara dos deuses e esperar que Chronos, deus do tempo, não nos pregue das suas.
Carpe diem.
Nina M.
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