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domingo, 2 de dezembro de 2018

Crónica de Maus Costumes 109


Esse fardo denominado tempo...


            Todos sabemos que vimos a este mundo com prazo de validade. Só não sabemos exatamente qual a data da nossa expiração. Também é comum falar-se sobre como aproveitamos o tempo e os instantes junto daqueles a quem queremos muito. Todos sabemos que cometemos erros e subaproveitamos o tempo que nos é dado e fazemos promessas de mudança, mas a verdade é que tudo permanece igual!

            Um dia destes, vi uma experiência interessantíssima sobre o tempo que dedicamos aos que afirmamos amar. Juntaram pais e filhos, amigos, familiares, enfim, pessoas com uma relação estreita, mas que não têm um contacto diário. Após saberem o tempo que cada um dos pares passava por semana ou por mês, fizeram uma estimativa sobre o tempo que eles teriam juntos, tendo em conta uma determinada expetativa de vida. Os resultados foram surpreendentes e desoladores. À maioria deles sobejava dias. Ninguém passaria um ano sequer, ao longo da vida, com a pessoa que afirma amar! Se dúvidas houver, basta que apliquemos o teste a nós mesmos. Verifiquemos: alguém com quarenta anos e estimando uma esperança de vida nos oitenta, que veja um irmão uma vez por semana, durante 5 horas, significa que irá vê-lo, no mês, 20 horas e, num ano, 240, em quarenta anos, 9600 horas, o que representa cerca de 400 dias, ou seja, cerca de um ano e um mês, em toda a sua vida! Viverá mais quarenta anos e terá apenas um ano e um mês de convivência com o irmão! Façam as vossas contas… Porém, aviso que o cenário desolador se irá repetir…

            Temos de fazer algo. Pensamos. Esqueçam, porque amanhã já não nos lembramos. Fruto da vida burguesa a que sempre estivemos habituados e que nos põe a trabalhar que nem loucos para a casa, para o carro, para as férias, para uma parafernália de coisas de que nem precisaríamos. O tempo, sim, faz-nos falta, porque não é elástico e à medida que passa, menos dias nos sobram para o que verdadeiramente gostamos e para quem verdadeiramente queremos. Pelo que me resta concluir que devemos realizar alguns dos nossos sonhos, para não sentirmos o sabor amargo causado pelo remorso do que não foi feito. Já não iremos a tempo de emendar tudo, mas talvez consigamos, pelo menos, aproveitar melhor e fazer com que que as míseras cinco horas possam equivaler a dias pela sua intensidade. Temos de aprender a fazer mais com menos, a pensar mais na qualidade, uma vez que a quantidade foge ao nosso controlo. Talvez o segredo da felicidade esteja mais na qualidade e intensidade do que na durabilidade. Viver excede o gesto mecânico de respirar. Há que sorver cada instante vivido na companhia dos que queremos como oferenda rara dos deuses e esperar que Chronos, deus do tempo, não nos pregue das suas.

Carpe diem.

Nina M.




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