Portugal ficou arredado do Mundial. Ainda
não foi desta vez que conseguimos ir mais longe. Resta a satisfação de sairmos
de cabeça erguida. O melhor jogo que fizemos foi exatamente o que perdemos.
Ironias com que a vida gosta de
brindar as suas personagens…
A
realidade consegue superar a ficção, talvez porque esta não passe de uma réplica
inconsciente que o autor faz da vida, convencido de que é original. Na realidade,
expõe o que sorve, o que ouve, vê e experiencia, ao longo da sua existência,
conferindo-lhe uma nova roupagem e, por isso, ufano, exibe a sua ignorância
quando se julga original. Poderia ser o guião de um filme, a exaltação do
esforço e do empenho de uma equipa que tenta superar-se a cada jogo e morre
inadvertidamente, exatamente quando não deveria. A derrota torna-se mais
pungente porquanto maior foi a entrega e melhor a qualidade de jogo. Digere-se
a derrota com sabor a injustiça, que não se consegue inverter. Sobeja a consciência
tranquila e o sentido do dever cumprido. Sobeja a honra dos que morrem de pé,
mostrando bravura e caráter.
Muitas
vezes, o mais importante não é o resultado, mas o trajeto feito e a sabedoria
ganha durante o percurso. Hoje foi assim. O cinismo venceu, porém, não sairá
sempre vencedor. Haverá mais campeonatos e mais jogos, novas oportunidades para
reverter a tristeza e o azedume que sempre fica quando se perde.
Foi
apenas um jogo de futebol, porém, a história da vida de cada um pode ser
verdadeiramente cínica. O que dizer quando um ginecologista competente e
reputado, preocupadíssimo e cuidadoso com as suas pacientes, perde uma filha
que deixa órfãos uma criança de três anos e outra de seis meses, por causa de
um cancro de mama galopante?! Não foi falta de conhecimento nem de acompanhamento,
foi uma partida de mau gosto. Acredito que se o meu médico já era consciente e
zeloso, a partir deste momento, quererá salvar a filha em cada mulher que tiver
que tratar.
Viver
é bom, no entanto, muitas vezes, a vida é de uma ingratidão avassaladora e
dilacerante.
Que cada um de nós se lembre desta
faceta mais áspera da existência e nos sintamos agradecidos pelas boas marés
com que vamos sendo presenteados, pois nunca se sabe bem quando a sorte irá
mudar.
Nina M.
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