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sábado, 23 de junho de 2018

Crónica de Maus Costumes 87


Um amigo especial, com quem tenho conversas profundas que me fazem pensar, e portanto, crescer e evoluir, sugeriu-me como tema para a crónica a crueldade imposta às crianças, a propósito do que se vem passando nos Estados-Unidos da América. Os imigrantes ilegais veem-se afastados dos seus filhos, independentemente da idade que estes possam ter, e assistem ao seu enjaulamento como se se tratassem de animais amestrados, a quem se garante o direito a alimentação e pouco mais. Se tal tratamento não é admissível com um animal, o que dizer com crianças?!
Reconheci a minha dificuldade em abordar tais questões, pela minha particular sensibilidade ao tema. Se a sonegação dos direitos fundamentais a qualquer ser humano me indigna, quando se trata de crianças, seres indefesos e sem capacidade para avaliar ou sequer compreender a situação em que se encontram envolvidos, fico estarrecida, revoltada, irada e vulnerável à dor que me causa insónias, retira o sossego e me cria uma sensação de vazio deixado pela minha impotência objetiva. Infalivelmente, comovo-me e sinto as gotas de orvalho morno a lavar-me o rosto, sempre que leio, ouço e vejo relatos de comportamentos ignóbeis e cobardes. De forma egoísta, vou-me protegendo, evitando o assunto que me incomoda terrivelmente.
Hoje, não poderá ser, porque mesmo tendo resistido num primeiro impulso, várias pessoas me lembraram dos factos ao longo do dia. Sirva, pelo menos, para minha catarse.
Começo então por lembrar alguns dos direitos fundamentais da criança, aprovados pela ONU, em 1959, catorze anos após o Holocausto.
1-      Todas as crianças, independentemente de cor, sexo, língua, religião ou opinião, têm os direitos a seguir garantidos.
2-      A criança será protegida e terá desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social adequados.
6- A criança precisa de amor e compreensão.

7- Toda criança terá proteção contra atos de discriminação.
       
Parecem-me todos de fácil interpretação. Assim, sendo o país do Sr.Trump um dos membros da ONU e o principal responsável pela sua criação e cuja sede primeira se situa em Manhattan, Nova Iorque, como pode ele desrespeitar, em primeiro lugar as crianças, mas também a memória do seu antecessor e promotor da organização “Franklin Roosevelt?” Como pode o Sr. Trump fazer desrespeitar todos os direitos acima citados sem se interrogar o motivo pelo qual eles foram criados? Será que o Presidente dos Estados-Unidos é cínico além de louco?!
Não pode valer tudo na proteção das fronteiras, na tentativa de evitar a imigração ilegal! Concedo-lhe o direito de proteger o seu país do excesso de imigrantes ilegais, mas não de forma grosseira, desumanizada e vil. Um país que não sabe guardar nem proteger a inocência de qualquer criança, independentemente da sua cor, sexo, língua, religião ou opinião, não merece o epíteto de estado de direito, quando tudo vai torto!
Terá esse senhor consciência dos danos psicológicos causados às famílias, mas especialmente às crianças, que não compreendendo o que se passa, julgam-se abandonadas pelos progenitores?!
Poupem-me, por favor, ao argumento fácil e torpe que se lê nas redes sociais a culparem os pais destes meninos por os terem colocado nessa situação, sabendo o que acontece no caso de serem apanhados! Eu não posso, em consciência, condenar alguém que busca melhores condições de vida!
Olho inevitavelmente para trás e vejo o mesmo semblante aterrorizado, de incompreensão e de dignidade perdida dos judeus do Holocausto. Auschwitz não terminou, continua vivo e exposto aos olhos do mundo! É isto a civilização?! A bruteza e adormecimento dos sentidos? Onde estão os restantes estados-membros da ONU para exigirem bom senso e correção?!
A hipocrisia do mundo é absolutamente insuportável! Criam-se regulamentos e direitos para que possam ser quebrados ao sabor arbitrário dos que mandam nos desígnios de um país. Enquanto assim for, as crianças do Congo continuarão a extrair o cobalto, nos países assolados pela guerra, continuarão a existir crianças-soldados, continuarão a casar meninas com velhos repugnantes ou a usá-las para fins de turismo sexual, continuarão a ser privadas de educação e forçadas a trabalho escravo, enfim… Continuarão a ser exploradas, sem o direito de serem apenas o que são: crianças!
Se isto não é o fim de uma civilização, deverá estar muito próximo. É precisa boa vontade para humanizar a humanidade e se não é motivo para que todos sintamos náuseas, então, eu sou a grande deslocada deste mundo!

Nina M.


               

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