Sou mãe e como todas as mães vivo com
o coração fora de mim, porque este se encontra com os meus filhos, onde quer
que eles estejam.
É uma relação umbilical para a vida,
uma dádiva intemporal e que nos obriga a ser melhores a cada dia. Abdicamos de
inúmeras coisas em prol das criaturas mais dóceis, mas também mais endiabradas
a que chamamos de filhos.
Sabemos que um dia vamos ter que os
soltar e, provavelmente, sentiremos a ressaca do lar vazio. Ainda não o
experienciei, porém, não me é difícil imaginar que seja assim, uma vez que,
neste momento, não sou capaz de usufruir de um fim de semana tranquilo em
companhia apenas do marido, sabendo que os filhos iriam gostar de estar ali
connosco. Mesmo sabendo que ficariam bem, em segurança e até felizes. Sou
engolida por uma culpa absurda sem explicação, como se os estivesse a privar de
algo de que gostam muito.
São essas saídas e esses divertimentos que
estreitam laços entre pais, filhos e irmãos e são experiências que carregamos
pela vida fora. Provavelmente, não se lembrarão de todos os brinquedos que
tiveram, mas as férias ou os dias vividos de forma mais especial constituirão o
tecido das suas boas memórias que os farão um dia sorrir, quando, já adultos,
fecharem os olhos e viajarem num regresso ao passado. Serão surpreendidos por
gargalhadas felizes e sorrirão deliciados, perdidos numa emoção, que não sabem sequer
de onde surgiu. É desta forma que penso nas férias de verão da minha infância e
tenra juventude ou nos passeios de carro, em périplos pelo país que, nessa
altura, sendo um veículo de cinco lugares, conseguia albergar cinco adultos e
três cachopos!
Se houvesse dúvida quanto à origem da
alegria, ficaria percebido que esta vem de dentro e é feita de ternura e de mel
que cultivamos nas relações com o outro. Não recordamos os bens materiais que
ganhámos em dada altura, salvo raras e extraordinárias exceções ou a menos que
eles façam parte das memórias de um coletivo feliz, como foi o caso da primeira
televisão a cores lá de casa. No entanto, é inegável a memória impoluta de momentos
vivenciados na companhia de familiares e amigos.
Ensinemos aos nossos descendentes a
ser em vez de ter. Ensinemos que a verdadeira felicidade consiste em ver o
irmão bem e feliz. Proporcionemos mais experiências e menos bens e sejamos
todos mais alegres!
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