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sábado, 2 de junho de 2018

Crónica de Maus Costumes 85




Sou mãe e como todas as mães vivo com o coração fora de mim, porque este se encontra com os meus filhos, onde quer que eles estejam.
É uma relação umbilical para a vida, uma dádiva intemporal e que nos obriga a ser melhores a cada dia. Abdicamos de inúmeras coisas em prol das criaturas mais dóceis, mas também mais endiabradas a que chamamos de filhos.
Sabemos que um dia vamos ter que os soltar e, provavelmente, sentiremos a ressaca do lar vazio. Ainda não o experienciei, porém, não me é difícil imaginar que seja assim, uma vez que, neste momento, não sou capaz de usufruir de um fim de semana tranquilo em companhia apenas do marido, sabendo que os filhos iriam gostar de estar ali connosco. Mesmo sabendo que ficariam bem, em segurança e até felizes. Sou engolida por uma culpa absurda sem explicação, como se os estivesse a privar de algo de que gostam muito.
 São essas saídas e esses divertimentos que estreitam laços entre pais, filhos e irmãos e são experiências que carregamos pela vida fora. Provavelmente, não se lembrarão de todos os brinquedos que tiveram, mas as férias ou os dias vividos de forma mais especial constituirão o tecido das suas boas memórias que os farão um dia sorrir, quando, já adultos, fecharem os olhos e viajarem num regresso ao passado. Serão surpreendidos por gargalhadas felizes e sorrirão deliciados, perdidos numa emoção, que não sabem sequer de onde surgiu. É desta forma que penso nas férias de verão da minha infância e tenra juventude ou nos passeios de carro, em périplos pelo país que, nessa altura, sendo um veículo de cinco lugares, conseguia albergar cinco adultos e três cachopos!
Se houvesse dúvida quanto à origem da alegria, ficaria percebido que esta vem de dentro e é feita de ternura e de mel que cultivamos nas relações com o outro. Não recordamos os bens materiais que ganhámos em dada altura, salvo raras e extraordinárias exceções ou a menos que eles façam parte das memórias de um coletivo feliz, como foi o caso da primeira televisão a cores lá de casa. No entanto, é inegável a memória impoluta de momentos vivenciados na companhia de familiares e amigos.
Ensinemos aos nossos descendentes a ser em vez de ter. Ensinemos que a verdadeira felicidade consiste em ver o irmão bem e feliz. Proporcionemos mais experiências e menos bens e sejamos todos mais alegres!


           

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