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sábado, 9 de junho de 2018

Crónica de Maus Costumes 86



Novo momento de luta para os professores. Deveria ser para uma sociedade inteira. Não só em relação aos professores, mas também relativamente a outros grupos profissionais.
Que país é este que parece sacudir apenas com desvarios futebolísticos e que nada mais o abala?! 
Que país subserviente é este que se cala aos desmandos de uma elite política, que aparentemente se submete a interesses económicos de grandes grupos, com vista a engrossar a carteira e a ter lugar certo depois de terminarem a sua carreira governativa?! Que esquece facilmente os milhões que saem do bolso dos contribuintes para engordarem os bolsos dos banqueiros imorais que se salvaguardam com os milhões em offshores ou nas contas da esposa e dos filhos, para nada terem de seu que possa ser penhorado?
Talvez se pudesse deixar falir os bancos dos desmandos se os bens dos prevaricadores fossem confiscados e usados para ressarcir os clientes que fossem prejudicados. Num país justo, talvez as coisas se passassem dessa forma. Num país justo e democrático, os corruptos incautos seriam efetivamente castigados, haveria meios verdadeiramente eficazes de fiscalizarem determinados comportamentos para se evitar prejuízos maiores de terceiros. Num país justo e democrático, a res publica seria cuidada e não haveria desperdício. Uns não teriam todas regalias em detrimento de outros. Haveria real preocupação com o estado social e uma tentativa séria de promover condições para que todos pudessem viver condignamente com o fruto do seu trabalho. Isso não significa que todos tenham que ter os mesmos rendimentos ou que não possa existir uma economia de mercado, mas significa que haveria uma classe média realmente com poder de compra, que as assimetrias não seriam gigantescas e que não seria precisamente essa classe média e os pobres a suportar os desmandos dos poderosos.
Seria uma sociedade que valorizaria os seus professores, que lhes proporcionaria boas condições de trabalho: salas com menos alunos, verdadeiras saídas profissionais para os que não querem prosseguir estudos, onde a prática se sobreporia à teoria e, como tal, haveria salas que seriam autênticas oficinas de mecânica, de computação, de eletricidade, de construção, etc.
Não obstante, nada disto existe e quando se analisam os resultados que medem o sucesso e insucesso dos alunos, a fórmula de solução é sempre a mesma: os professores precisam de mais formação!
Estou cansada. Os senhores precisam de ouvir quem está dentro da sala de aula: professores e alunos. Não se deveriam tirar conclusões a partir de opiniões, que são, naturalmente, legítimas, mas que carecem de consubstanciação empírica. Passem umas semanas na escola para lhe sentirem o pulsar. Disfarcem-se de professores e encarem as turmas de vinte e oito alunos olhos nos olhos. Já agora, não escolham as escolas de cidade, frequentadas por meninos com expetativas para o futuro, procurem aquelas em que os alunos nos dizem muito frontalmente que querem sair da escola, porque estão fartos, porque não gostam de estudar, apesar do “professor cumprir muito bem com o seu papel e até explicar bem, mas eu é que não me interesso”. Falem-lhes de um percurso alternativo, os vulgares CEF, para depois os castigarem com mais teoria para a qual eles não têm disponibilidade. Pois, mas tem de ser, porque equipar e transformar escolas em verdadeiros centros do saber prático e experimental custa dinheiro e não há!
Num país democrático, justo e que quer evoluir, a educação não seria encarada como despesa, mas como investimento.
Podem continuar a enxovalhar, num ato cobarde e ignóbil a imagem do professor, podem conseguir enganar muitos, mas não todos e os professores, na sua maioria, não enganam com certeza. Sucessivos governos têm delapidado a escola pública sem dó nem piedade, porque não querem uma sociedade pensadora e crítica que conteste e questione a ação governativa. Assim, a escola e os professores são perigosos, porquanto teimam, por todas as vias, formar futuros adultos inquietos, perspicazes e que exijam a quem os governa transparência, honestidade e o zelo pelo bem comum.
            Neste raciocínio perverso, maléfico, tenta-se quebrar, ano após ano, os professores, cansando-os, levando-os à exaustão. Exige-se-lhes que sejam docentes, pais, psicólogos, amigos, gestores emocionais, mas sem lhes contarem para a progressão nas carreiras, muito lenta, ao contrário do que querem fazer crer os que nada percebem da temática, os referidos nove anos e, veja-se lá a injustiça, que foram efetivamente trabalhados!

Nina M.
           

                                                                     



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