Novo
momento de luta para os professores. Deveria ser para uma sociedade inteira.
Não só em relação aos professores, mas também relativamente a outros grupos
profissionais.
Que
país é este que parece sacudir apenas com desvarios futebolísticos e que nada
mais o abala?!
Que
país subserviente é este que se cala aos desmandos de uma elite política, que
aparentemente se submete a interesses económicos de grandes grupos, com vista a
engrossar a carteira e a ter lugar certo depois de terminarem a sua carreira
governativa?! Que esquece facilmente os milhões que saem do bolso dos
contribuintes para engordarem os bolsos dos banqueiros imorais que se
salvaguardam com os milhões em offshores ou nas contas da esposa e dos filhos,
para nada terem de seu que possa ser penhorado?
Talvez
se pudesse deixar falir os bancos dos desmandos se os bens dos prevaricadores fossem
confiscados e usados para ressarcir os clientes que fossem prejudicados. Num
país justo, talvez as coisas se passassem dessa forma. Num país justo e
democrático, os corruptos incautos seriam efetivamente castigados, haveria
meios verdadeiramente eficazes de fiscalizarem determinados comportamentos para
se evitar prejuízos maiores de terceiros. Num país justo e democrático, a res publica seria cuidada e não haveria
desperdício. Uns não teriam todas regalias em detrimento de outros. Haveria
real preocupação com o estado social e uma tentativa séria de promover condições
para que todos pudessem viver condignamente com o fruto do seu trabalho. Isso
não significa que todos tenham que ter os mesmos rendimentos ou que não possa
existir uma economia de mercado, mas significa que haveria uma classe média
realmente com poder de compra, que as assimetrias não seriam gigantescas e que
não seria precisamente essa classe média e os pobres a suportar os desmandos
dos poderosos.
Seria
uma sociedade que valorizaria os seus professores, que lhes proporcionaria boas
condições de trabalho: salas com menos alunos, verdadeiras saídas profissionais
para os que não querem prosseguir estudos, onde a prática se sobreporia à teoria
e, como tal, haveria salas que seriam autênticas oficinas de mecânica, de
computação, de eletricidade, de construção, etc.
Não
obstante, nada disto existe e quando se analisam os resultados que medem o
sucesso e insucesso dos alunos, a fórmula de solução é sempre a mesma: os
professores precisam de mais formação!
Estou
cansada. Os senhores precisam de ouvir quem está dentro da sala de aula:
professores e alunos. Não se deveriam tirar conclusões a partir de opiniões,
que são, naturalmente, legítimas, mas que carecem de consubstanciação empírica.
Passem umas semanas na escola para lhe sentirem o pulsar. Disfarcem-se de
professores e encarem as turmas de vinte e oito alunos olhos nos olhos. Já
agora, não escolham as escolas de cidade, frequentadas por meninos com
expetativas para o futuro, procurem aquelas em que os alunos nos dizem muito
frontalmente que querem sair da escola, porque estão fartos, porque não gostam
de estudar, apesar do “professor cumprir muito bem com o seu papel e até
explicar bem, mas eu é que não me interesso”. Falem-lhes de um percurso
alternativo, os vulgares CEF, para depois os castigarem com mais teoria para a
qual eles não têm disponibilidade. Pois, mas tem de ser, porque equipar e
transformar escolas em verdadeiros centros do saber prático e experimental custa
dinheiro e não há!
Num
país democrático, justo e que quer evoluir, a educação não seria encarada como
despesa, mas como investimento.
Podem
continuar a enxovalhar, num ato cobarde e ignóbil a imagem do professor, podem
conseguir enganar muitos, mas não todos e os professores, na sua maioria, não
enganam com certeza. Sucessivos governos têm delapidado a escola pública sem dó
nem piedade, porque não querem uma sociedade pensadora e crítica que conteste e
questione a ação governativa. Assim, a escola e os professores são perigosos,
porquanto teimam, por todas as vias, formar futuros adultos inquietos,
perspicazes e que exijam a quem os governa transparência, honestidade e o zelo
pelo bem comum.
Neste raciocínio perverso, maléfico,
tenta-se quebrar, ano após ano, os professores, cansando-os, levando-os à
exaustão. Exige-se-lhes que sejam docentes, pais, psicólogos, amigos, gestores
emocionais, mas sem lhes contarem para a progressão nas carreiras, muito lenta,
ao contrário do que querem fazer crer os que nada percebem da temática, os
referidos nove anos e, veja-se lá a injustiça, que foram efetivamente
trabalhados!
Nina M.
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