Será que ainda me verás no futuro?
Mesmo velha e um pouco engelhada
Ainda procurarás o encantamento
No meu olhar?...
Mais pardo quem sabe...
Menos esperançoso no brilho...
Será que ainda nos reconheceremos assim
Imperfeitos e tão perfeitos para o outro
Ainda nos veremos os mesmos
Ou seremos estranhos enfiados
Num corpo usado e gasto e velho...
Ainda me contarás histórias
E dirás: "sempre gostas de histórias"...
Ou me pedirás ainda restos de escrita por ler...
Seremos ainda amantes na confidência
De um ombro dado depois do amor
E restará ainda o olhar aceso que
Poisa sobre o fulvo amanhecer outonal
Ou sobre o rosáceo céu a despedir-se do sol...
Vejo sempre a partida
Como um ocaso que se tarda de tão belo
[E as minhas mãos vazias do que não tive]
Um desejo de repouso como quem cansa da vida
e se despede com atrevida elegância
Uma figura ao longe que se afasta devagarinho...
sem dor nem espanto...
Como quem entra naturalmente em casa
Como quem pisa um paraíso qualquer
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