Vivências e processos
O meu aborrescente decidiu lembrar-me
do meu afazer habitual de sábado à noite, ao jantar. “Tens de escrever a tua crónica”,
alerta-me. Respondo que sim, mas que ainda nem sabia sobre o que ia escrever… É
então que do alto da sua sapiência me diz:
- Ai, ainda não sabes?! Olha, ficas a
saber que se queres ser bem-sucedida nisso, tens de fazer um plano… Não é assim…
Os outros fazem planos, com tempo…
Estive dois segundos boquiaberta para
lhe responder de seguida que… Sim senhor… Vindo dele era um conselho
absolutamente extraordinário!… Não fosse o ditado “olha para o que eu digo e
não para o que eu faço”, até estaria muito certo…
- Ficas a saber – responde - que eu
faço planos para os meus dias… Só que às vezes eles correm mal… por isso
detesto quando já tenho tudo pensado no que vou fazer e vocês me vêm inquietar
para eu fazer isto ou aquilo…
- Meu menino, digo-lhe, foram muitos
anos a ter de te responsabilizar… Como não partilhas os teus planos e não
sabemos para o que te vai dar, estamos sempre a alertar-te… Não vás esquecer do
que tens de fazer…
A conversa ficou por aqui e como me
manda escrever, mas não lê uma linha, nem imagina as vezes que é referenciado…
Acabei por lhe dizer que se ele desistir da ideia de engenharia informática
pode sempre enveredar por um caminho na comédia… Porém, ficava absolutamente mais tranquila,
porque, finalmente, o meu filho já faz planos, mesmo que saiam gorados, de vez
em quando…
A irmã, mais metódica e organizada,
olha para ele, encolhe os ombros e abana a cabeça como quem diz que o irmão não
tem remédio… Planos já faz ela há muito… Quando não lhe diz que não fosse a
idade e o conhecimento das matérias, sente que está mais preparada para ir para
a Universidade do que ele, apontando-lhe tudo o que já é capaz de cozinhar…
Eu, que pari estes dois seres tão
distintos, vou olhando para ambos com o mesmo amor, a tentar descortinar o que
sairá dali. Ela mais pragmática, ansiosa, mexida e briosa; ele mais relaxado,
com um sentido de humor peculiar, sem angústias e sem pressas… Ela diz não
querer medicina, mas quer algo na área da saúde; ele, para já fala na
engenharia informática, mas tem saídas mais artísticas…
No outro dia, fez questão de me dizer
que tinha feito uma boa ação que me teria deixado orgulhosa… Já nem me lembro
do que foi… Sei que foi prestativo ou que ajudou alguém e lá lhe respondi que
esperava que os ensinamentos colhessem os seus frutos…
Olho-os. Ela, sempre mais adulta e
despachada. Desde sempre. A Matilde é a menina que aos seis ou sete anos era
capaz de preparar o seu pequeno-almoço e o lanche para a escola. A menina que
assume as suas responsabilidades e que detesta falhar. Ele, o que se esquecia
de todos os recados… Ele… agora mais crescido, mais responsável, mas com tanto
para amadurecer ainda…
Eu, aqui, a ampará-los para que possam
ser o que quiserem, para voarem em direção ao seu destino, de asa aberta para
os receber a cada regresso a casa.
Nina M.
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