Mudanças necessárias
O meu “aborrescente”
predileto enfrentou a mudança e o desafio e saiu vencedor. Fiquei muito feliz e
orgulhosa, porque conseguiu superar o obstáculo. No final do segundo período,
mudou de escola, de colegas, de professores e de ambiente. Teve de ser, porque
o Rodrigo não era feliz há quase dois anos e a família sentia o seu mal-estar
diariamente e ressentia-se com isso. A mudança para o secundário foi-lhe
penosa, dada a sua imaturidade e desmotivação. Conseguiu colocar-se numa
situação difícil e eu digo-lhe que oitenta por cento da responsabilidade lhe
pertence. Ele sabe disso. Não o desresponsabilizo no que lhe compete, mas os
restantes vinte não lhe podem ser atribuídos.
Quando quis correr, verdadeiramente, atrás do prejuízo, as portas já não
se abriam. Tentou até à última, já com um prazo como ultimato, e teve de mudar.
A situação era-lhe tão desfavorável que só a mudança prefigurava um bom
augúrio, mas sempre incerto. Largar os colegas e a escola que há muito
frequentava não foi fácil, mas diz o ditado que quando Deus fecha uma porta
abre uma janela e o meu filho pulou e soube aproveitar a nova oportunidade. Vai
para o décimo segundo ano, com aproveitamento em todas as disciplinas e já com o
arrependimento de não ter mudado mais cedo, porque os seus resultados teriam
sido melhores. Agora, compreende que tinha dois períodos que lhe foram
prejudiciais. Cresceu com a experiência e já diz que o próximo ano vai ser
melhor. Pude voltar a perguntar-lhe se os testes ou os trabalhos tinham corrido
bem, sem que me dissesse, irritadíssimo, que não queria falar de escola!
Foi muito bem recebido por professores e colegas. No final da
primeira semana, já me dizia que a turma era muito “fixe” e que os professores
eram diferentes… Por diferentes, ele queria dizer mais próximos e pasmava com o
bom relacionamento e o à-vontade com que dialogavam. De alguma forma, a
aprendizagem passou a ser mais descontraída e mais empática. Há quem ainda não
compreenda o valor da empatia na aprendizagem. Teve fichas de avaliação, fez
trabalhos, gravou vídeos, fez um podcast, fez apresentações orais, teve
questões-aula, enfim, aprendeu de forma variada e holística, como consignado no
PASEO (Perfil do aluno à saída do ensino obrigatório) e que todos os
professores têm a obrigação de conhecer, tal como devem conhecer os
decretos-lei nº 54 e 55 de 6 de julho de 2018 e reconhecer os espírito da lei,
quer esta agrade ou não: “dura lex sed lex”. O professor tem a obrigação,
porque antes de qualquer outra coisa, está estipulado na legislação, mas tem
sobretudo o dever ético de fazer o que está ao seu alcance para trabalhar com
todos os alunos e tentar recuperar os mais fracos, adaptando o currículo às
necessidades deles. Nos tempos atuais é inadmissível que ainda haja escolas que
avaliem os alunos quase exclusivamente pelos testes, porque os noventa por
cento dedicados ao saber são avaliados por um ou dois testes, muitas vezes, sem
“feedback” de qualidade, repetindo-se exaustivamente a avaliação de matérias que
não ficaram sabidas e nunca haveriam de ficar, porque ao longo do ano não há
tempo para retomas constantes, dada a extensão dos programas. Fazer apenas testes
globais onde se valoriza tanto ou mais o que já ficou para trás como o que se
avalia no momento prejudica o aluno, especialmente, os que mais têm
dificuldade, não lhe dando oportunidade de melhorar. Não perceber que a escola,
hoje, é diferente da escola de há 30 anos é ser mau profissional. A escola é de todos, para todos e obrigatória. Não
compreender que as competências exigidas e que devem ser treinadas estão para
além de uma prova escrita é não saber o que se anda a fazer.
Quem muda Deus ajuda, diz o adágio. O
Rodrigo mudou e para melhor. Não posso deixar de dirigir uma palavra de
gratidão à escola básica e secundária D. António Taipa e aos seus professores que
receberam, acolheram, responsabilizaram e fizeram o Rodrigo trabalhar com mais
motivação.
Obrigada por
acreditarem no seu potencial. Obrigada por lhe devolverem a alegria. Obrigada
pelo facto de a escola cumprir bem com o seu papel.
Nina M.
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