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sábado, 8 de junho de 2024

Crónica de Maus Costumes 377

 

Mudanças necessárias

             O ser humano é um pouco avesso a mudanças. Elas implicam sair da zona de conforto, sair do que se conhece e ao qual já se está habituado, por isso, quando a vida nos parece estagnada, mas não nos é absolutamente desconfortável, normalmente, não se tomam decisões drásticas de mudança. Vai-se vivendo com o que se tem, analisam-se as circunstâncias, pesam-se os prós e os contras e pondera-se muito bem a situação. Se esta for terrível, talvez haja mudança, caso contrário, talvez ganhe o que se conhece. O desconhecido pode ser assustador. Se isto é difícil para um adulto, imagine-se para um adolescente, especialmente, se for alguém mais reservado e mais tímido.

            O meu “aborrescente” predileto enfrentou a mudança e o desafio e saiu vencedor. Fiquei muito feliz e orgulhosa, porque conseguiu superar o obstáculo. No final do segundo período, mudou de escola, de colegas, de professores e de ambiente. Teve de ser, porque o Rodrigo não era feliz há quase dois anos e a família sentia o seu mal-estar diariamente e ressentia-se com isso. A mudança para o secundário foi-lhe penosa, dada a sua imaturidade e desmotivação. Conseguiu colocar-se numa situação difícil e eu digo-lhe que oitenta por cento da responsabilidade lhe pertence. Ele sabe disso. Não o desresponsabilizo no que lhe compete, mas os restantes vinte não lhe podem ser atribuídos.  Quando quis correr, verdadeiramente, atrás do prejuízo, as portas já não se abriam. Tentou até à última, já com um prazo como ultimato, e teve de mudar. A situação era-lhe tão desfavorável que só a mudança prefigurava um bom augúrio, mas sempre incerto. Largar os colegas e a escola que há muito frequentava não foi fácil, mas diz o ditado que quando Deus fecha uma porta abre uma janela e o meu filho pulou e soube aproveitar a nova oportunidade. Vai para o décimo segundo ano, com aproveitamento em todas as disciplinas e já com o arrependimento de não ter mudado mais cedo, porque os seus resultados teriam sido melhores. Agora, compreende que tinha dois períodos que lhe foram prejudiciais. Cresceu com a experiência e já diz que o próximo ano vai ser melhor. Pude voltar a perguntar-lhe se os testes ou os trabalhos tinham corrido bem, sem que me dissesse, irritadíssimo, que não queria falar de escola!

Foi muito bem recebido por professores e colegas. No final da primeira semana, já me dizia que a turma era muito “fixe” e que os professores eram diferentes… Por diferentes, ele queria dizer mais próximos e pasmava com o bom relacionamento e o à-vontade com que dialogavam. De alguma forma, a aprendizagem passou a ser mais descontraída e mais empática. Há quem ainda não compreenda o valor da empatia na aprendizagem. Teve fichas de avaliação, fez trabalhos, gravou vídeos, fez um podcast, fez apresentações orais, teve questões-aula, enfim, aprendeu de forma variada e holística, como consignado no PASEO (Perfil do aluno à saída do ensino obrigatório) e que todos os professores têm a obrigação de conhecer, tal como devem conhecer os decretos-lei nº 54 e 55 de 6 de julho de 2018 e reconhecer os espírito da lei, quer esta agrade ou não: “dura lex sed lex”. O professor tem a obrigação, porque antes de qualquer outra coisa, está estipulado na legislação, mas tem sobretudo o dever ético de fazer o que está ao seu alcance para trabalhar com todos os alunos e tentar recuperar os mais fracos, adaptando o currículo às necessidades deles. Nos tempos atuais é inadmissível que ainda haja escolas que avaliem os alunos quase exclusivamente pelos testes, porque os noventa por cento dedicados ao saber são avaliados por um ou dois testes, muitas vezes, sem “feedback” de qualidade, repetindo-se exaustivamente a avaliação de matérias que não ficaram sabidas e nunca haveriam de ficar, porque ao longo do ano não há tempo para retomas constantes, dada a extensão dos programas. Fazer apenas testes globais onde se valoriza tanto ou mais o que já ficou para trás como o que se avalia no momento prejudica o aluno, especialmente, os que mais têm dificuldade, não lhe dando oportunidade de melhorar. Não perceber que a escola, hoje, é diferente da escola de há 30 anos é ser mau profissional. A escola é de todos, para todos e obrigatória. Não compreender que as competências exigidas e que devem ser treinadas estão para além de uma prova escrita é não saber o que se anda a fazer.

            Quem muda Deus ajuda, diz o adágio. O Rodrigo mudou e para melhor. Não posso deixar de dirigir uma palavra de gratidão à escola básica e secundária D. António Taipa e aos seus professores que receberam, acolheram, responsabilizaram e fizeram o Rodrigo trabalhar com mais motivação.

            Obrigada por acreditarem no seu potencial. Obrigada por lhe devolverem a alegria. Obrigada pelo facto de a escola cumprir bem com o seu papel.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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