Viajar de autocarro
Amanhã,
repetirei a insanidade que cometi em 2009 com um grupo de amigas, noutra escola:
ir a Paris de autocarro com muitos alunos a reboque.
Nessa
altura, apenas existia o Rodrigo. Era um bebé de vinte meses e eu era mãe de
primeira viagem, que o deixava pela primeira vez, durante uma semana, e de
coração contrito. Ele sempre teve o seu génio e teimosia, mesmo pequenino. Aos
vinte meses, o Rodrigo já falava bem, mas os cinco dias que por lá andei, ele recusou-se
a falar comigo por telefone. Tinha um bebé de vinte meses, que dia após dia,
zangado com a mãe ausente, recusava falar-lhe! Eu dizia incrédula às colegas: “o
meu filho não me quer falar”! Felizmente, numa atividade destas a ocupação é
sempre muita, mas a cada anoitecer interrogava-me se ele falaria comigo, nesse
dia… Eu… Mortinha de saudades… Nada. Zero. Irredutível.
Quando cheguei, só queria pegar nele
ao colo, encostá-lo a mim e enchê-lo de beijos. Fi-lo com dificuldade… Não me
queria! O meu filho castigava-me pela minha ausência! Pacientemente, tive de
comprá-lo com o carro de bombeiros que lhe tinha trazido de uma loja da Disney,
depois de muito o namorar…
Desta vez, o castigo não se repetirá.
Já são dois filhos e ambos mais crescidinhos e, como tal, já não se apoquentam
tanto com as ausências maternas. Também não vai uma Lurdes Martins, a mulher
que dorme “super bem” (palavras suas) em autocarros e que levou panados para
uma semana inteira, pelo que insistia em oferecê-los a cada refeição, para ver
se os arrumava de uma vez, mas já ninguém os podia ver à frente!... Como vês,
Lurdes, a viagem ainda nem começou e já me lembro de ti… Desgraçadamente,
apesar da idade, ainda não aprendi a dormir bem em bancos de transportes
coletivos pouco ou nada reclináveis… Se pensar muito nisso, fico a achar que
sou pouco ajuizada…
Porém, Paris é sempre Paris! A cada
regresso é um maravilhamento! Uma cidade que nos deixa arrebatados pela sua
beleza, pela sua sumptuosidade, pela sua cultura. A cidade para onde rumavam os
intelectuais do princípios e meados do século XX. Não havia quem não passasse
por Paris! Nem tudo era fácil, no entanto. Muitos deles viviam numa certa indigência,
passavam fome, vivam em pequenos quartos, em bairros miseráveis e levavam uma
vida boémia e bastante promíscua. Oscar Wilde, Gertrude Stein, Ernest
Hemingway, Guilherme S. Burroughs, Henry Miller, Anaïs Nin, James Joyce, Samuel
Beckett, Julio Cortázar, Vladimir Nabokov, Edith Wharton e Eugène Ionesco, Picasso,
Ducham, Klein, Chagall, Modigliani, são alguns dos grandes que por lá passaram.
Referir também o nosso Eça de Queirós, que lá morou, enquanto cônsul português.
Voltar à bela Paris é ficar imbuído
deste espírito, desta efervescência e deste pasmo, ainda que um pouco tomada
pelos vendedores ambulantes (o preço da modernidade) não desiludirá, certamente.
Diz-se que não há duas sem três, cá vai a minha terceira vez, mas Paris é
sempre lugar onde se deseja voltar.
Nina M.
Sem comentários:
Enviar um comentário