Caminhar e aprender
A semana foi imensamente corrida.
Desde quarta-feira acompanho alunos em visita de estudo. Primeiro, ao teatro;
depois, nos dois dias seguintes, a Lisboa. Gosto de proporcionar estas
experiências aos miúdos, se entendo que eles são merecedores e, talvez, para
alguns, fique a experiência de uma vida.
Para muitos, foi a primeira vez que
foram a Mafra e a Lisboa e puderam ver ao vivo e a cores alguns dos monumentos
mais emblemáticos do país. Visitaram o Convento de Mafra, a começar na basílica
e a terminar no palácio, puderam percorrer os corredores com séculos de
História, os mesmos que foram percorridos por alguns reis e rainhas do país e
apreciar a sua grandeza.
Gosto particularmente das saídas que
aliam a descontração à aprendizagem e percorrer a cidade de Lisboa em busca dos
locais já referenciados no século XIX, n’Os Maias, pisar o mesmo chão
que Fernando Pessoa, ver alguns dos seus objetos pessoais e manuscritos é um
privilégio. Talvez eu aprecie mais a atividade do que os próprios alunos, mas
seja como for, tenta-se que aprendam de forma mais lúdica. Viram representada a
peça Memorial do Convento e que lhes fornece um bom resumo do que é a
obra. Os momentos representados em palco são os mais importantes e também
objeto de análise na sala de aula. Já vi três obras-primas de Saramago em palco
e é importante observar como os caminhos da arte se cruzam. A literatura a
originar a representação, mas poderia ser canto ou bailado ou uma amálgama de
tudo isso. Nos passeios literários pela capital, os miúdos relembraram a grande
obra de Eça, já estudada no ano anterior, até porque o guia foi muito preciso e
competente. Talvez até tenha pecado um pouco por excesso, dado o cansaço que os
alunos revelavam. Seja como for, foram dois dias de aprendizagem e de
consolidação de conteúdos, de forma mais descontraída e atrativa.
Na Casa Fernando Pessoa, o guia
mostrava-se algo espantado com o facto de os alunos fazerem tantos quilómetros
para usufruírem destas experiências, sobretudo quando ficou a saber que a
visita era paga pelos próprios. Esclareci que para alguns encarregados de
educação, a visita constituía um esforço financeiro. Parecia incrédulo e
felicitou-nos pela iniciativa. Respondi que tentávamos que eles aprendessem de
maneira diferente, que tentávamos proporcionar-lhes atividades culturais às
quais, de outra forma, não teriam acesso, enfim, tentávamos dar-lhes um pouco
de mundo, porque a escola também serve para dar mundo. Olhou-me sério, nos
olhos, sorriu e respondeu: “sem dúvida”.
A primeira vez que fui a Lisboa
também foi numa visita de estudo, na disciplina de História, e nunca mais
esqueci. Estive nos Jerónimos, na Torre de Belém e na Assembleia da República.
Faltou palmilhar pela baixa lisboeta, mas a experiência foi marcante, tal como
será para muitos alunos que agora levei. Quem sabe não ficam contagiados pelo
bichinho e passam a valorizar o turismo cultural.
Depois, o Agrupamento de Escolas Dr.
Mário Fonseca tem alunos que sabem estar à altura de cada vez que saem. No
Museu Soares dos Reis, os responsáveis pelas salas sorriam ao verificar o
interesse dos garotos bem como a sua postura. Quando assim é, tudo é mais fácil
e aprazível. Pelo meio, ainda se vivem algumas aventuras. Creio que jamais
esquecerão que tiveram de agarrar num carro a pulso para o estacionar
devidamente e, assim, o autocarro conseguir passar. Lembrarão também a pousada
com vista sobre o tejo, a maluqueira do professor que os desafiou a irem ver o
nascer do sol, junto ao Cristo-Rei, de Almada. Nascer do sol pouco viram e ao
Cristo não puderam subir… Não esquecerão os quilómetros que fizeram a caminhar,
nem o autocarro que quase arrancou um sinal, e levou uma esplanada, rebentando
o para-choques! Eu e a minha colega Cidália devemos ter qualquer sexto sentido com
os motoristas, quando organizamos as visitas. Este senhor conhecia minimamente
os trajetos e era desenrascado, mas consegue ser mil vezes pior do que eu a
gerir o tempo e quase nos fazia perder a peça de teatro. Só não deu para chegar
à meta e no regresso, os últimos cem metros tiveram de ser feitos a pé, porque
mais um minuto de caminho poderiam representar seiscentos euros de multa. Há
que retirar malas e terminar o trajeto em fila indiana, até chegarmos à escola.
Aprendizagem com situações inusitadas
à mistura, mas como diz o ditado: tudo fica bem quando termina bem e, como
disse aos meus alunos de décimo segundo, esta terá sido a última visita que
lhes organizei.
Aos colegas que nos acompanharam, um
enorme bem-haja pela excelente companhia!
Nina M.
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