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sábado, 18 de novembro de 2023

Crónica de Maus Costumes 347

 

Sempre Porto

               A semana foi pródiga em acontecimentos e, pelos piores motivos, vi, tal como os restantes adeptos e sócios, a situação deplorável que aconteceu na Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto.

               Não sou sócia, sou apenas adepta, mas a violência gratuita a que assisti não me representa nem representa a grande maioria dos portistas, tal como se percebe pelos vários grupos que povoam as redes sociais afetos ao clube.

               O Futebol Clube do Porto é uma instituição que se sobrepõe a todo e qualquer adepto, sócio ou dirigente. O clube maior e que tantas vezes representa Portugal em competições europeias e que, não só marca presença como é o melhor clube português a fazê-lo, não pode nem deve abrigar acontecimentos destes. Espero que a SAD tome, efetivamente, as medidas necessárias e adequadas, no sentido de punir os prevaricadores.

               Sopram ventos de mudança na administração portista, com André Villas-Boas a assumir-se candidato. Há uma enorme franja de portistas que questionam a situação financeira do clube, acreditando que os dirigentes são os principais responsáveis pelas contas pouco recomendáveis que vão sendo apresentadas, apesar da contenção no investimento dos plantéis dos últimos anos e das participações sucessivas do Porto nas competições europeias, onde salvo raras exceções, consegue fazer bom encaixe financeiro, devido aos seus resultados. Os sócios querem compreender o que se passa e com toda a legitimidade para isso. Eu, que assisto apenas ao que vai sendo noticiado, parece-me evidente que o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa já não tem nem a força moral nem a força física para fazer face a determinadas situações. Não significa que o presidente não esteja lúcido como sempre foi, mas a idade avança e não perdoa. Creio que o mal na estrutura do Futebol Clube do Porto será mais dos que rodeiam o presidente e integram a SAD, talvez, mais dispostos a servirem-se do clube do que a servir a instituição. Ao que parece, segundo se fala nas redes sociais, uma das alterações aos estatutos previa a permissão de familiares que trabalham no clube poderem fazer negócios, o que à luz dos estatutos atuais não é permitido. Ora, os portistas sabem que, noutros tempos, Pinto da Costa e o filho Alexandre não se falavam. Andaram de costas voltadas imensos anos e, pelo que consta, estaria na origem da zanga a recusa de o presidente acolher negócios liderados pelo seu primogénito, colocando sempre os interesses do FCP à frente de qualquer outra coisa, inclusive dos interesses do filho. Consta que o problema será semelhante, mas ao que parece, desta vez, o presidente parece sucumbir perante tais pretensões. Obviamente, tudo é suposição, porque só quem está no convento sabe o que lá vai dentro.

               O facto de se propor as alterações não significa que elas fossem aprovadas. Seria necessário que a votação democrática dos sócios a validassem. É aqui que o caso se complica, envergonhando a maioria dos portistas. Quando um dos sócios do clube exprime a sua opinião e que é contrária à da estrutura, o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, decide agredir o associado, numa clara falta de respeito, quer pelo sócio que tem o pleno direito de se manifestar quer pela instituição FCP. Também há quem considere que o Madureira, vendo a aproximar-se o fim da era de Pinto da Costa tem medo de perder as suas regalias, optando pelo modus operandi que lhe é conhecido: a intimidação e a coação. Pelos vistos, tudo tem valido: mensagens de retaliação e ameaças. A casa de André Villas-Boas já foi visada. Sei que também já chegou a circular uma petição para destituir o Madureira da qualidade de sócio do clube, mas quem a lançou já a removeu, tal como alguém responsável por uma página de reflexões e afeto ao clube, já veio anunciar o fecho da mesma. Logicamente, só vejo uma explicação: receio de uma possível retaliação. Eu espero que, se efetivamente houver ameaças através de mensagens escritas, haja a coragem de denunciar os meliantes. Infelizmente, nesta situação, quando alguém se inscreve sócio, ninguém lhe pergunta pelo registo criminal, mas talvez devesse ser obrigatório.

               Acredito que este comportamento inaceitável do Madureira só ajudará a oposição à atual SAD, porque pelo que vou vendo e lendo, a maioria dos portistas pede a sua punição e a demissão dos administradores. O Macaco, como é conhecido, até pode conseguir intimidar, mas há algo que nunca conseguirá fazer: impedir que os portistas votem livremente no candidato da sua preferência, seja ele Pinto da Costa ou outro. Portanto, um energúmeno a ser energúmeno.

                Eu gostaria que o presidente mais titulado de sempre reconhecesse que talvez esteja na hora de ceder o lugar a outro, numa transição calma e sólida, a bem do seu amado clube e que sempre soube pôr acima de tudo o resto. Para os adeptos e sócios, o Pinto da Costa será sempre o presidente honorário do Futebol Clube do Porto, aquele que sempre teve e continua a ter o maior respeito e a gratidão de todos. O Presidente que pôs o FCP nos palcos internacionais, que fez do clube um dos melhores da Europa, que lhe retirou o epíteto de clube regional. Queremos (a nação portista) que o Presidente saiba sair em apoteose e aclamado por todos, fazendo-se ecoar o seu nome no estádio, como tantas outras vezes.

               Olho para o futebol e encontro semelhanças com a política. Quer num lado quer no outro são necessárias pessoas com certa estrutura ética. Não se pede seres perfeitos e irreais e que não falham, mas gente que não se deixe corromper, gente que acredite na função de servir o país ou a instituição e que zele por eles como se zela pela própria casa. Acredito que ainda haja gente desta, de verdade e que causa admiração, mas escondem-se e não se querem envolver nos meandros dos pequenos poderes. Nada há de mais detestável do que ver o abuso de pequenos poderes nos vários organismos. ver aquele que se acha superior e que pode agir como um déspota, apenas porque lhe é confiado determinado cargo. Aquele que manipula e mina o ambiente à sua volta para obter benefícios próprios, na mais pequena coisa, porque até acha que merece, afinal trabalha e exerce uma cargo de chefia e, como tal, merece mais do que os outros. O vaidoso que é tão pobre e tão vazio que só se pode valorizar pelo pequeníssimo poder que exerce e, então, oprime e humilha, para se sentir superior. Não passa de alguém detentor de uma fraquíssima autoestima que tenta, a todo o custo, ocultar. Esta suposta meritocracia subvertida enoja-me e voto aqueles que a praticam ao meu mais profundo desprezo. Infelizmente, estes seres povoam as instituições políticas, públicas e sociais. Se queremos perceber o caráter de alguém, basta atentar na atitude que manifesta com quem lhe é inferior e com quem não lhe pode ser uma mais-valia. Esclarece muita coisa.

A pessoa digna, competente e que tanta falta faz para o desempenho destas funções, muitas vezes, afasta-se destes meandros. Não tem qualquer sede de poder nem ambiciona nada, além da sua paz de espírito e espera que nunca se lembrem dela para tal ofício. Vive noutra esfera, num mundo que lhe é próprio e do qual lhe custa cada vez mais sair. Quem assim é precisa de se proteger para não correr o risco de ser conspurcado, por isso, afasta-se e recolhe-se. É a explicação que encontro para este fenómeno e não posso recriminar quem assim age.

Ocorre-me que, talvez, as melhores pessoas para exercerem certas funções serão, precisamente, aquelas que não as ambicionam. Quando o Papa Francisco soube que seria um dos elegíveis e que havia uma forte possibilidade de o seu nome ser escolhido, ele recusava, afirmando que nunca foi a sua ambição. Por isso mesmo, ter-lhe-ão dito, por nunca teres pensado em tal e por não o desejares, és a pessoa ideal para o lugar.

Quanto ao Futebol Clube do Porto, só posso esperar que se saiba renovar com a tranquilidade necessária para continuar a somar vitórias e dar alegrias aos seus adeptos.

Saudações portistas.

Nina M.

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