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sábado, 11 de novembro de 2023

Crónica de Maus Costumes 346

 

Se não fosse trágico seria cómico

             Amanhã, tentarei não me esquecer de ver o Isto é gozar com quem trabalha. A semana foi quente e a equipa que escreve os guiões teve bom material para poder trabalhar. Começo a pensar que os política portuguesa e os seus meandros facilitam muito o trabalho dos humoristas. Quando não souberem que temas deverão tratar, basta estar atento às novidades do Governo e da Assembleia. Nunca falha!

            Apesar de ser crítica das muitas das posições deste Governo, especialmente, no que diz respeito à área da saúde e da educação, não fiquei radiante com os factos ocorridos. Compreendo que quem esteja cansado dos desmandos deste Governo tenha soltado uns foguetes e até brindado com espumante português (os salários não permitem beber Dom Pérignon. O Moët & Chandon é mais acessível, mas mesmo assim, o preço ainda arrepia a alma). No entanto, a situação não é para celebração. Mais uma vez se vê o país atolado no lamaçal que alguns membros deste Governo insistem em criar. Ter um primeiro-ministro, detentor de uma maioria absoluta, a pedir a demissão por força das trapalhadas e dos indícios de corrupção do seu Governo, para além de também ele estar sob suspeita, deve ser caso único na Europa! Os restantes países europeus devem rir-se tremendamente destas cenas políticas à portuguesa! Só podem ridicularizar-nos e achar que esta nação não tem solução. Só podem entender que está fadado ao fracasso pela sociedade medíocre, na sua generalidade, que permite que políticos sem estrutura moral alcancem o poder, se enredem e se ceguem nele. O problema é que quem conhece e lê os autores portugueses, ao longo dos séculos, percebe nitidamente que o diagnóstico se mantém desde sempre e que as críticas tecidas outrora podem ser feitas agora. Camões já denunciava a corrupção a que o vil metal sujeita. Eça já narrava jocosamente episódios inusitados dos políticos, da falta de competência destes e da sua falta de cultura. Desde a era Sócrates que nos habituamos aos espetáculos deploráveis com que o partido socialista, sem honra e sem pudor, decide presentear os portugueses. Os sucessivos escândalos de demissões motivadas por comportamentos que, se não são propriamente ilegais, são no mínimo vergonhosos e no máximo inaceitáveis a quem exerce cargos de responsabilidade pública, minam a democracia. Queira-se ou não e contribui para que as pessoas percam a confiança nas instituições. Não adianta entender que se deve olhar para o panorama e verificar que, apesar de tudo, a democracia está em funcionamento. Ainda vai funcionando, mas a cada corruptela, ela vai padecendo e adoecendo. A mixórdia foi tal e tanta que culminou na demissão de António Costa, por suspeição de poder estar envolvido em negociatas. No meio disto, o maior artista, o Galamba, depois do lítio, depois do computador que o levou a acionar o SIS e a demitir o funcionário, depois de o Presidente ter pedido a sua cabeça numa bandeja, permanece de pedra e cal: não se demite nem é demitido! O Galamba ainda corre o risco de ser o homem do ano! Aquele que vive em cima do arame, mas que se equilibra sempre bem. O senhor António Costa exonera (e bem) aquele que guardava o dinheiro no gabinete, demite-se, mas não demite o Galamba! Um Governo sem rei nem roque e que sem Costa rebenta pelas costuras. Não sobrou outra alternativa ao senhor presidente: dissolveu a assembleia e bem. No final, fica-se a saber que o Pedro Nuno Santos, esse mesmo, o da trapalhada da TAP, se apressou a anunciar que é candidato a secretário-geral do partido. Pois… A sua consciência de nada o acusa, a não ser de generosidade extrema, porque quem consente uma indemnização de quinhentos mil euros, que saem dos bolsos dos contribuintes, só pode ser muito generoso! Não percebo por que razão não arranjo chefias destas! Vá lá… Vais ser demitida, mas, pronto, para compensar os danos morais, toma lá quinhentos mil euros! Bem, acho que poderia pedir um milhão, devido ao tempo de serviço acumulado! Os deuses devem estar loucos! Porém, o senhor apenas se demitiu porque "face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados em torno deste caso", entendeu, neste contexto, "assumir a responsabilidade política" e apresentar a sua demissão ao primeiro-ministro. Atenção! O indivíduo não cometeu qualquer insanidade! O problema está na perceção pública! Eu gostaria muito, para bem do partido socialista e para bem da democracia portuguesa, que este senhor não chegasse a líder ou adivinha-se a perpetuação do descalabro. Os nossos políticos têm uma habilidade especial: premiar a incompetência e ainda fazer disso gáudio.

            Certo é que, para bem da democracia portuguesa e do desenvolvimento do país, seria bom que os partidos fossem capazes de encontrar gente escorreita, competente e honesta. Portanto, não regozijo nada com a situação. Entendo que o país não precisa disto e espero que os partidos, todos eles, sejam mais criteriosos na seleção de pessoas. Ainda assim, se o escrutínio falhar, deveria ser o próprio partido a envergonhar-se dessa gente e a correr com eles de lá para fora. O serviço público deve ser exercido com sentido de Estado.

Padre António Vieira, no “Sermão de Santo António aos Peixes” questionava o que se deveria fazer ao sal que não salga ou ao pregador que não prega a boa doutrina e a resposta era clara: lançá-lo fora. Assim se deveria fazer aos que conspurcam a política.

Curiosamente, a vida tem destas ironias, a Geringonça, presa por arames, foi mais sólida do que uma maioria absoluta que apodreceu por dentro!

No dia dez de março, sem desculpas, cumpram o vosso dever cívico. Acorram às urnas e votem em consciência. Não olheis unicamente para o vosso quintal, para os que supostamente irão envergar o espírito messiânico e qual D. Sebastião descer à terra e salvar os professores, os médicos e enfermeiros. Tentai saber se a gente vos inspira confiança e se há uma linha de atuação para o país, se há um plano que ponha isto a funcionar dentro de uma normalidade que permita resolver os tantos problemas que afetam os cidadãos, com dignidade e respeito. O bodo aos pobres enfurece-me!

 

Nina M.

 

 

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