Revisitação
Durante esta semana, por
motivos profissionais, regressei à casa que me formou. Apreciei mais o
belíssimo espaço onde se concentra o campus universitário e apreciei-lhe as
diferenças. Agora, todos os cursos se concentram na quinta, pelo que o Ex-DRM,
local de estudo durante os meus primeiros três anos e o CIFOP deixaram de ter
serventia. Mesmo o curso de enfermagem passou para o campus. Há edifícios recentes
e outros em fase de construção. Há novos projetos.
Fomos recebidos pela provedora
dos estudantes e pelo senhor reitor. No tempo em que lá estudei, o senhor reitor
teria mais o que fazer do que receber miúdos do secundário, em dia aberto, para
lhes dirigir umas palavras e a figura do provedor do estudante não existia. Sinais
dos tempos. Também as universidades se adaptam à evolução, com maior ou menor
dificuldade.
Curiosamente, tinha lido,
durante essa semana, um queixume da Raquel Varela, que indignada, dava conta
das reclamações que os pais dos alunos e os próprios faziam chegar às
reitorias. Umas descabidas, pois com certeza e outras nem tanto. Mostrava-se
chocada pelo facto de, nalguns casos, a reitoria não sugerir, delicadamente, aos
pais que fossem dar uma voltinha ao bilhar grande. Contava a professora
universitária que os encarregados de educação (figura que não existe na
universidade pelo facto de os alunos serem de maioridade) lamentavam e
questionavam os currículos e a pertinência das matérias abordadas pelas
cadeiras, modernamente apelidadas de unidades curriculares. Quando li sobre o
atrevimento, um sorriso escapou-se-me dos lábios. Os comportamentos
manifestados na base da pirâmide, começam a chegar ao topo e os professores
universitários, que se veriam intocáveis, ficam perplexos com o atrevimento
destes encarregados de educação. Dá o que pensar. Habituem-se. Tanto se quis
promover a presença da comunidade na escola, que inevitavelmente, a situação
resvalou para o ridículo de todos se acharem no direito de palpitar sobre o
ensino, como se fossem especialistas. Há anos que a escola se vê demasiadas
vezes afrontada por gente irresponsável que não sabe do que fala, mesmo que
pertençam a organizações com ligação à escola. A CONFAP é disso exemplo. Não
consigo parar de rir ao imaginar que certas situações que acontecem amiúde nas
escolas secundárias se estão a reproduzir no ensino universitário.
Este comportamento
mostra-nos duas coisas: por um lado, finalmente, o povo português reclama mais,
mesmo que com pouco critério. O tempo do “come e cala” começa a esgotar-se; por
outro lado, a superproteção que os pais atuais dão aos filhos começa a
tornar-se ridícula. Obviamente, quando
se trata de assuntos sérios como os escândalos de assédio de que se ouviu
falar, os pais têm e devem mesmo agir, no entanto, quando os queixumes são
sobre a quantidade de matéria a estudar para a frequência ou o comentário mais
rude do professor, que do alto da sua cátedra, não hesita em fornecer um banho
de humildade ao aluno, provando-lhe que ele pouco sabe da matéria e nada sabe
sobre a vida, pelo que deve estudar, se quiser fazer a cadeira, é tão somente
deplorável!
Ao que parece, na UTAD, a
senhora provedora tem tido muitas queixas de alunos. Alguns deles lamentam-se
da rudeza dos seus professores, que não os tratam como príncipes nem génios. Eu
já tenho parado para pensar se a minha geração seria, porventura, intelectualmente
desprovida. Não se viam dezoitos a rodos como agora e ninguém era brilhante.
Aceitávamos humildemente a nossa condição de aprendizes sem reclamar. Eu entendo que os professores devem refletir
sobre a sua prática e os docentes universitários não são exceção, porque se os encontrei
excelentes, também é um facto que encontrei os que pedagogicamente eram uma
nulidade e, tal como outros, devem exercer o seu ofício com competência, porém,
haverá que pôr freio a jovens que, nalguns casos, serão pouco ou nada aplicados
e que viveram uma vida a sacudir a responsabilidade de cima dos ombros, porque
é mais fácil a vitimização do que assumir as consequências da sua escolha. Na
verdade, ao longo do percurso, fizeram-no acreditar que as coisas se conseguiam
sem esforço. Essa cultura enraizou-se e começa a frutificar.
Assim, do lugar mítico que
frequentei, apenas sobra o espaço, atualmente, ocupado por seres que não eram
os meus. Cheguei com saudade e com ela vim, sem resgatar o passado e sem poder
trazê-lo no bolso. Tudo me pareceu distinto e desigual. A minha universidade fica
no mesmo espaço físico, mas já só existe na minha memória.
Perante os factos, resta
concluir que o regresso a um lugar de saudade fora do que já foi não será
sinónimo de felicidade. Não se volta ao lugar onde já se foi feliz, dizem.
Nina M.
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