Cartazes, lamúrias e artimanhas.
A semana
foi marcada pelos famosos cartazes que foram erguidos para vaiar o senhor
primeiro-ministro, António Costa, que não gostou e os apelidou de racistas.
Vejamos: pessoalmente, não os empunharia. São de mau
gosto; são agressivos e são desnecessários. São tudo isso, mas não são
racistas, como os apelidou António Costa! O facto de estar representado no
cartaz com o nariz do animal não tem a ver com a sua origem goesa, mas antes
com o seu comportamento relativamente à classe docente.
O senhor
António Costa é o agressor da classe, mas numa jogada manhosa e de mestre,
tenta passar-se por vítima, enquanto mostra a Portugal os professores que os
filhos têm, esses selvagens, que merecem tudo o que lhes tem vindo a ser feito
pelos inúmeros governos socialistas e um que afirmava ser social-democrata, mas
que afinava a pauta por um neoliberalismo voraz.
Ao invés
de discutir a justiça das reivindicações da classe, que se arrastam há meses, o
senhor primeiro-ministro preferiu a tática da artimanha e da virgem ofendida.
Poderia ter optado por fazer uma leitura mais didática e pedagógica do cartaz e
associá-lo ao Triunfo dos Porcos, de George Orwell, que escreveu o livro
desencantado com o estalinismo, numa altura em que a imprensa e os intelectuais
não ousaram criticá-lo. Tal ousadia fez com que tivesse de esperar anos para
ver o livro cá fora, mas também foi uma espécie de ensaio para o 1984, que põe
a nu as ideologias e os métodos usados para a conservação de um regime
totalitário.
Os
professores estão cansados da retórica vã de sua excelência e mais do que
porco, quiseram chamá-lo de ditador. Sabe como terminam todas as ditaduras? Com
os porcos gordos que dominam o sistema bem cevados e os restantes à míngua. O
regime democrático que alberga o capitalismo selvagem não é muito diferente,
dirão alguns... Ainda é, apesar de tudo. Na democracia, as instituições
reguladoras devem funcionar com imparcialidade e sem medo, para que o bem comum
prevaleça. No regime democrático, os professores até podem fazer cartazes de
mau gosto! O problema não está na deselegância das ilustrações, mas na mensagem
cristalina que elas passam.
Está na hora de colocar as mãos na consciência, de
deixar de ser ardiloso e de cuidar dos temas fraturantes. A educação é um
deles.
Nina M.
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