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sábado, 24 de junho de 2023

Crónica de Maus Costumes 330

 

Cartazes, lamúrias e artimanhas.

 

A semana foi marcada pelos famosos cartazes que foram erguidos para vaiar o senhor primeiro-ministro, António Costa, que não gostou e os apelidou de racistas.

Vejamos: pessoalmente, não os empunharia. São de mau gosto; são agressivos e são desnecessários. São tudo isso, mas não são racistas, como os apelidou António Costa! O facto de estar representado no cartaz com o nariz do animal não tem a ver com a sua origem goesa, mas antes com o seu comportamento relativamente à classe docente.

O senhor António Costa é o agressor da classe, mas numa jogada manhosa e de mestre, tenta passar-se por vítima, enquanto mostra a Portugal os professores que os filhos têm, esses selvagens, que merecem tudo o que lhes tem vindo a ser feito pelos inúmeros governos socialistas e um que afirmava ser social-democrata, mas que afinava a pauta por um neoliberalismo voraz.

Ao invés de discutir a justiça das reivindicações da classe, que se arrastam há meses, o senhor primeiro-ministro preferiu a tática da artimanha e da virgem ofendida. Poderia ter optado por fazer uma leitura mais didática e pedagógica do cartaz e associá-lo ao Triunfo dos Porcos, de George Orwell, que escreveu o livro desencantado com o estalinismo, numa altura em que a imprensa e os intelectuais não ousaram criticá-lo. Tal ousadia fez com que tivesse de esperar anos para ver o livro cá fora, mas também foi uma espécie de ensaio para o 1984, que põe a nu as ideologias e os métodos usados para a conservação de um regime totalitário.

Os professores estão cansados da retórica vã de sua excelência e mais do que porco, quiseram chamá-lo de ditador. Sabe como terminam todas as ditaduras? Com os porcos gordos que dominam o sistema bem cevados e os restantes à míngua. O regime democrático que alberga o capitalismo selvagem não é muito diferente, dirão alguns... Ainda é, apesar de tudo. Na democracia, as instituições reguladoras devem funcionar com imparcialidade e sem medo, para que o bem comum prevaleça. No regime democrático, os professores até podem fazer cartazes de mau gosto! O problema não está na deselegância das ilustrações, mas na mensagem cristalina que elas passam.

Está na hora de colocar as mãos na consciência, de deixar de ser ardiloso e de cuidar dos temas fraturantes. A educação é um deles.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

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