Matei-te dentro de mim
Como a mulher má da infância
Fazia aos gatos ainda cegos e feios
Amarrados num saco e atirados ao poço
Poupados à dor da vida, a dor maior
Morreste-me, desgosto, devagar
Em asfixia lenta
Com mãos invisíveis a apertarem-me a garganta
Até não sentir a carne nem as vértebras
Até não sentir nada
Só o cinismo sobejava
A cada silêncio ou ausência de palavra
Era a minha voz que se afastava
Longínqua e nada nela perdurou
E no desgosto enraizado
A dor se calcinou
Não se lhe permite o corpo, o pranto
Nem pungentes gemidos
Uma alma que já morreu outrora
Fica cega, muda e doente dos ouvidos
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