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sábado, 2 de outubro de 2021

Desgosto

 Matei-te dentro de mim

Como a mulher má da infância 

Fazia aos gatos ainda cegos e feios

Amarrados num saco e atirados ao poço 

Poupados à dor da vida, a dor maior


Morreste-me, desgosto, devagar

Em asfixia lenta

Com mãos invisíveis a apertarem-me a garganta

Até não sentir a carne nem as vértebras 

Até não sentir nada 

Só o cinismo sobejava


A cada silêncio ou ausência de palavra

Era a minha voz que se afastava

Longínqua e nada nela perdurou

E no desgosto enraizado

A dor se calcinou 


Não se lhe permite o corpo, o pranto

Nem pungentes gemidos

Uma alma que já  morreu outrora

Fica cega, muda e doente dos ouvidos






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