Seguidores

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Presente Sem Futuro

Talvez fosse melhor
O ser estilhaçar-se de um jato
Rebentar com a esperança 
Do que não tem solução
Só a pulsão pela vida
Pode assim sustentar
Uma vida que é morta
Que erra por ermos fechados
Mesmo quando bate à porta
E nos sentimos errados
Trancados no nosso avesso
Sem a chave no tempo perdida
É saber-nos tristes e sós
É soar a despedida
Cada olhar cada afeto
Cada ausência que é sentida
Nem os universos dos livros
As mil vidas que vivemos
Parecem suficientes
Vivemos o que não temos
Acabe-se de uma vez
Esta agonia derradeira
Construir sobre os escombros
Poderá ser de outra maneira
Erguemo-nos tantas vezes
Sem a alegria de outrora
A vida sempre nos vence
Desde o romper da aurora
Só não a podemos sorver
Bebericamos aos golinhos
Ela sempre nos faz doer
Não é rosa sem espinho
Vivemos num outro mundo
A ficção da realidade
Escondidos numa tela
Assemelha-se vida de verdade
Sobra a alienação um brincar
Ao faz de conta
Não tenhamos ilusão
Perdemos tempo de monta
Experiências que se adiam
Talvez até nunca mais
Traçam-se linhas e planos
Sem saber para onde é o cais
Tudo é difuso e disperso
Chão de areia movediça
Caminhar nesta incerteza
Torna a alma irritadiça
Vive-se com o que é 
Com a vida em suspensão
Sem fazer contas a danos
Seguramos com a mão
Um futuro tão incerto
Parece daqui agouro
Oxalá seja um engano
E Possa ser nosso tesouro

Sem comentários:

Enviar um comentário