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sábado, 6 de junho de 2020

Elegia

Não nasci para o lar
Antes para o ler
Não sou capaz de camas
Imaculadamente esticadas
A lembrar hotéis de luxo
Enquanto puxo o edredão
E o aliso automaticamente
Como um robot
Fazendo correr a mão no algodão
Sem reparar nas linhas desalinhadas
Recito versos de cor
Procuro palavras e sílabas
Corro ao encontro de um verso
Não nasci para o lar
Antes para amar
Em camas desfeitas e lassas
A sensualidade que me abraça
E sonhar com D. Quixotes e Dulcineias
Os Sanchos Pança da vida
Pragmáticos e metódicos insistem
Onde está a minha parceira?
Vem! És o meu par!
E os olhos abrem-se-me de espanto
Admirada pelo chamamento
De alguém que nunca vira antes
E sabem-me o nome e insistem
Arrancam-me ao meu mundo interior
De realidades paralelas 
E figuras imaginadas
E de faca e de cebola na mão
Quem pensa em contramão
cozinha como quem faz magia
Ingredientes transformados em poesia
Se ingeridos a alma estremece
A ver se a culinária não aborrece
Libertem-me de tarefas enfadonhas
Dessa coisa medonha
E deixem a minha mente livre
Distante ausente criar
Novos mundos e vidas
A arte e  a beleza celebrar
Não nasci para o lar
Antes para o ler...



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