Os Rankings da desvalorização
Hoje, saíram os rankings que posicionam as escolas
no que diz respeito aos resultados dos exames nacionais. Quem está bem posicionado
fica feliz e quem não se encontra nos lugares cimeiros compreende que esses
resultados dependem de muitos fatores externos à escola.
Começo por felicitar todos os alunos que
contribuíram para o sucesso das suas escolas e também, obviamente, os professores
que os acompanharam e com eles trabalharam. Certamente, os bons resultados
permitem o cumprimento dos objetivos dos alunos. No entanto, há muito a dizer
sobre esta lista de escolas que induzem muitos em erro. O esforço dos
alunos e dos professores é meritório e justamente reconhecido, porém, não é a
média obtida em exames que define a pouca ou muita qualidade de um estabelecimento
de ensino. Uma palavra de apreço ao senhor Secretário da Educação, João Costa,
cujas sinapses parecem funcionar e reconhece precisamente esta falsa impressão
que os rankings podem gerar.
Todos os anos, os colégios privados aparecem nos
lugares cimeiros. Este ano, a escola pública com os melhores resultados aparece
em 34º lugar. O que levará a que tal aconteça? Desde logo, a principal diferença:
os alunos que as frequentam. As expetativas que eles e os próprios pais têm em
relação ao seu futuro, a valorização do papel da escola, o meio socioeconómico
e o investimento que fazem no estudo, estabelecem toda a diferença. Os colégios
têm um público-cliente diferenciado e quase escolhido. Muitas vezes,
desconhecem a palavra inclusão e, depois, os alunos não respiram e os seus
professores também não, numa luta desenfreada, cruel e patética até, pela
mediazinha que pouco diz do aluno enquanto ser humano e futuro profissional.
Uma das melhores professoras de Português que conheço, de uma escola Secundária
que não vem ao caso, coloca os seus alunos a trabalharem que nem doidos… Eles
resmoneiam e os pais também, porque os exames que vão fazer este ano são outros
que não o de Português e, no entanto, o que esta docente faz comparado com a
carga exaustiva de trabalhos dos colégios até é suave… Portanto, o segredo
parece residir no empenho e na ajudinha extra, que muitos alunos têm. Não que
eu desvalorize os resultados (defeito de profissão e que o digam os meus
filhos), mas quando vejo alunos a esgadanharem-se e a desesperarem-se para
melhorarem umas décimas de uma média que já de si é brilhante, interrogo-me
para onde caminhamos… De que vale uma média altíssima se depois falham outras
capacidades? Se depois até se desiste de algo que se estava a fazer longe de
casa, porque faltam os pais e o copinho de leite antes jantar? Se depois falham
as competências sociais e a inteligência emocional?
A classificação é importante, mas não é tudo.
Aliás, as Universidades Públicas servem, mais tarde, para garantir o banho de
humildade necessário e os alunos lá se vão interrogando para onde vão as
belíssimas classificações do secundário, pois parece que, de repente, tiveram
uma qualquer paralisia cerebral. Não acontece, mas a instituição zeladora pelo
saber trata de nos mostrar que somos apenas um pequeno ponto neste imenso
universo e que alguns dos mais conhecedores sentam-se na sua cátedra, à nossa
frente, com um mísero olhar entre o desdém e a comiseração. É a vida… Há que
aprender a resiliência e saber lidar com a frustração. Quem anda habituado aos
dezassetes não gosta dos dozes e dos trezes que hão de vir, mas tudo se
aprende, porque o Homem é um animal de hábitos e desvanece-se a vaidade.
Desta forma, a melhor média obtida pelos alunos em
certas escolas não as tornam melhores do que outras. Deve-se atender ao meio
socioeconómico em que a escola está inserida e ao perfil dos alunos que as frequentam.
O esforço que um aluno de catorze faz para chegar ao dezassete é meritório, mas
não mais do que o empenho que o aluno de cinco faz para chegar ao dez! De igual
modo, as escolas de meios mais desfavorecidos, onde as famílias desestruturadas
abundam, onde a escola não é entendida como elevador social e nem o saber e a
cultura são valorizados, porque não faltam doutores desempregados por aí e
porque para ganhar dinheiro não é preciso estudar, já cumprem com excelência o
seu papel quando conseguem reduzir o abandono escolar, através da sua oferta
educativa, quando conseguem colocar miúdos no mercado de trabalho com
capacidades para virem a ser bons profissionais, quando está a incluir e não a
excluir. Quando consegue que meninos condenados a priori venham a ser cidadãos de primeira! Por estas razões,
lamento que o Ministério não faça um investimento sério no equipamento de
escolas para cursos profissionais, a iniciar logo nos sétimos anos de
escolaridade. Talvez a desmotivação e o insucesso fossem evitáveis! E pensassem
também em adequar os programas para estes alunos, porque por muito que eu goste
e me entusiasme com Camões e Eça e Pessoa, quem gosta de maquinaria está a
borrifar-se para a beleza e grandeza dos versos: “Valeu a pena? /Tudo vale a
pena/ Se a alma não é pequena/ (…) Deus ao mar o perigo e o abismo deu/Mas nele
é que espelhou o céu”.
Só para mim continua a fazer sentido ano após ano recitá-los
com ânsia de contágio… Ou resta-me fazer como dizia Saramago, que considerava que
tentar convencer o outro de alguma coisa só revela intolerância…
Nina
M.
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