O
MEC e as suas diatribes
Gostaria
muito de poder evitar este assunto, mas continua na ordem do dia e os
disparates que vou ouvindo e lendo são tantos que a paciência esgota-se…
Sou
frequentemente acusada, cá em casa, de não ter meio-termo. Ou tudo ou nada! Ou
oito ou oitenta! Talvez nalguns assuntos assim seja, mas noutros vejo-me
bastante ponderada e racional! É como a questão de ser faladora: depende dos
dias, da companhia e da vontade, que não é sempre a mesma… Aliás, depois de
muito observar, constato que afinal, nem sou tanto assim!...
Nestes
dias, quem percorre as redes sociais assiste a dois tipos de neurose dos
profissionais de educação, que é como quem diz professores: ou se desfazem em lamúrias
devido à exaustão psicológica e emocional pela situação em que se encontram e
quase nos parecem uns desvalidos sem sorte na vida ou colocam-se nos antípodas
disto e vangloriam-se pela sua modernidade e facilidade de adaptação aos novos
tempos e oportunidade para colocar em prática a tão desejada flexibilidade,
apesar de ninguém saber muito bem como fazê-lo, principalmente nesta situação!
Depois, vem a tutela, com a suas habituais mãos: a esquerda cheia de nada e a
direita vazia!
Quanto
ao primeiro caso, caros colegas, compreendo o vosso cansaço. Também gostaria de
pisar a minha sala de aula (talvez haja uma que eu dispensasse, pensando bem…)
mas de todas as outras tenho saudade! Gostaria imenso de poder abraçar e dar um
beijinho e um abraço apertado a muitos dos meus colegas (escuso de vos
referenciar… Sabeis muito bem quem sois!), também passo boa parte dos dias a
escrever e-mails, enviar e-mails, preparar tarefas, corrigir tarefas, corrigir
testes (tive tempo de dar os que estavam previstos), conferenciar com os alunos,
com os colegas, enfim… fazer o trabalho o melhor que posso nesta fase difícil e
completamente inesperada, tal como todos vós! Acresce que também sou mãe e
também tenho de controlar os e-mails, que chegam até à exaustão, com fichas e
tarefas!
_ Ó
mãe, mãe, mãe, mãe! Como faço para enviar isto? E agora esta ficha… O que é
para fazer nesta pergunta?!
_
Calma! Irra! Que me gastam o nome e eu sou só uma e também estou a trabalhar!
Continuo
a ser inteiramente professora em casa e não consigo despir a farda! Cansa. Como
cansa!… No entanto, não sou mulher de muitas lamúrias. Como ter a desfaçatez de
me lamentar perante os milhares que têm que enfrentar o maldito vírus de
frente, sempre preocupados com os que deixam em casa, com receio de lhes poder
trazer a doença para dentro de portas?! Ah! Quase esquecia… Há alguém nessas
condições em minha casa! Como lamentar-me sabendo das doze ou catorze horas que
os profissionais de saúde fazem, muitos deles sem irem a casa para estarem com
os seus?! Pensando nisto, a gritaria dos meus quase me parece melodia afinada!
Depois,
penso no segundo grupo, que também me consegue encolerizar, os profissionais
que adoram expor evidências, ufanos da sua competência, profissionalismo e
modernidade!
-
Ah! Os meus alunos estão a adorar esta modalidade!
Aqueles
para quem o ensino à distância é a oitava maravilha e tecem rasgados elogios à
potencialidade dos recursos tecnológicos como estratégia a utilizar no ensino!
Para esses só me apetece gritar:
-
Eu quero a minha sala de aula! Quero o relacionamento interpessoal e poder
olhar os alunos nos olhos! Por boa que seja a ferramenta, nada substitui o calor
humano! Pobres de espírito os que ainda não aprenderam nada com a covid-19! Vai
para a sala e usa a tecnologia e então assim é que te vais sentir o máximo!
Ufa!...
Finalmente,
a tutela! Tanto tempo para esboçar um documento com diretrizes de ensino à
distância?! Francamente, meus senhores, quase tudo o que escreveram, as escolas
já estão a implementar sem a vossa colaboração! Na aflição, as escolas, na
figura dos seus diretores e com a colaboração dos seus profissionais docentes e
não docentes trataram de minimizar o impacto desta crise! A tutela assistiu de
cadeira, soube enviar o recadinho de que ninguém estava de férias, observou e
aplaudiu o empenho, que normalmente caracteriza a classe nestas ocasiões. Às
vezes até há quem seja mais papista do que o Papa! Na verdade, o que nós
precisamos de saber ainda não sabemos: como vai funcionar exatamente o terceiro
período? Haverá seleção de matérias para os anos sujeitos a exames? Haverá
prolongamento de datas para realização dos exames? O terceiro período será
alargado? Garantem todas as condições de equidade para que os alunos possam
acompanhar o ensino à distância?! Ah! Nem todos os meninos têm computador!
Alguns nem Internet têm! O que diz a tutela? Resolva a escola, estabeleça
parcerias com as autarquias, como quem diz, nós fazemos como Pilatos e lavamos
as mãos (bem que é preciso esse cuidado de higiene nos dias que correm)! A
maioria dos meninos tem telemóvel… Já se desenrasca e todos sabemos como o
português é extremamente célere no desenrascanço e na boa vontade! Contudo, já
agora… À tutela já lhe ocorreu estabelecer parcerias com os prestadores de
serviço da Internet para que os alunos possam ter pacotes de acesso ilimitado,
por exemplo?! Não?! Quem o deverá fazer? São também as escolas?! Talvez isso
não interesse para nada e o fundamental seja criar mais uma equipa de
monotorização e avaliação de boas práticas, que no final do ano letivo elabore
mais um relatório, mais um papel, para que o MEC fique com a evidência de como
correu tudo bem, apesar de alguns constrangimentos… Afinal, a tutela coordena
extraordinariamente bem sem grande esforço, lá diz o ditado: “Vale mais um bom
mandador do que um bom trabalhador!” Comprovadíssimo, meus caros senhores!
Finalmente,
passada esta histeria coletiva ensandecida, que tenhamos a sorte de olhar à
nossa volta, para os nossos lares, e podermos concluir que a tragédia da morte
não nos atingiu! E assim, talvez todos os relatórios e preocupações
desmesuradas com o que é importante, mas apenas secundário, possam fazer algum
sentido! Há quem possa ter três ou quatro meses da vida suspensa e há os que
podem perder a vida definitivamente…
Pela
vossa saúde e dos outros, permaneçam em casa!
Nina
M.
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