Haja Esperança!
Enquanto houver vida há esperança ou
será exatamente o inverso, haverá vida, porque há esperança ?
Parece-me que o sentimento de
esperança é fundamental ao ser humano. Tão fundamental quanto o amor. Serão os
dois pilares que conseguem manter o Homem equilibrado e que lhe permitirão,
quem sabe, aceder ao caminho da felicidade.
A frase com que Dante Alighieri se
depara, antes de entrar no inferno é bastante sugestiva: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança.”
É
um vaticínio claro de perda da vida para todo o sempre. Aqui a esperança
representa a vida eterna que é negada, após passar aquela fronteira. Na
realidade, os condenados ao inferno morreriam pela segunda vez. Tiveram a morte
física da vida terrena e chegados ali, morrem uma segunda vez. Neste contexto,
esperança poderá ser sinónimo de vida.
Não
raramente, penso no fenómeno do Holocausto e dos seus sobreviventes e há sempre
uma pergunta que me ronda o espírito e que poderá ter possíveis respostas: O
que terá permitido que alguns conseguissem sobreviver ao horror, desumanização
e desprovimento do ser, para além de uma condição e robustez física invejável?
Sobreviver ao frio extremo, fome, falta de higiene, doenças contagiosas e
torturas infligidas, só com uma saúde de ferro e muita sorte à mistura! Isto,
sob o ponto de vista físico, porém, o Homem é também espírito e para manter a
vida em determinadas circunstâncias é preciso almejá-la! O que levaria alguém a
querer conservar a vida naquelas condições? O instinto de sobrevivência
parece-me manifestamente pouco! Em certas situações, a desistência poderá ser
pragmatismo.
Encontro
apenas duas respostas que se poderão fundir numa só e que a meus olhos é a
única via: o amor e a esperança! O amor a alguém, pela família, pelos filhos,
por uma causa maior e a esperança de que o degredo vivido terá um fim, por se
acreditar que a humanidade impediria tamanho horror! A esperança, o acreditar
que esse dia há de chegar, permite conservar a dignidade, identidade do ser e a
vontade de viver. A esperança de que um dia a luz triunfe sobre as trevas e o
bem vença o mal.
A
esperança, acredito, terá sido o móbil para a sobrevivência. Não a esperança
vã, fútil ou caprichosa que se desvanece após se ver cumprida, porquanto se
deseja o que não se alcança, mas aquela que depois de encontrada não se
desvanece mais e sabe ganhar novos contornos que permitem responder aos novos
desafios colocados. Depois da sobrevivência garantida, a esperança teve que se
renovar para enfrentar demónios infindáveis: descobrir, muitas vezes, ser o
único sobrevivente da família, ultrapassar os traumas que uma vivência dessas
impõe, refazer a vida, começando do nada, reencontrar-se com uma identidade
perdida e descobrir o seu novo ser. Ninguém passa por uma experiência dessas e
permanece o mesmo!
Viktor
Frankl, após ter adoecido no campo de concentração, consegue manter-se vivo, por
força das notas para o seu livro. Buscava o sentido para a existência que acreditava
poder ser encontrado, mesmo nas situações mais abjetas. A esperança de ser possível
encontrar o sentido para vida e não se deixar abater pelo vazio existencial e pessimismo,
salvou-o, trazendo uma nova perspetiva à psicanálise.
Quem
se ausenta da esperança perde, portanto, a vida ainda que viva.
Nina
M.
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