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domingo, 10 de fevereiro de 2019

Quando a velhice vier

Quando a velhice vier
(há de vir a seu tempo)
A neve cobrirá os cabelos
E as mãos descarnadas
Continuarão a afagar docemente
O amor caído no regaço
As valas que cobrem o rosto
Serão histórias mortas, mil vidas e cansaços
Os pequenos, sempre pequenos aos meus olhos
Terão largado e voado nas asas de suas escolhas
Olharei as minhas mãos descarnadas
E o meu olhar abraçará o tempo 
Em busca da eternidade perdida
As minhas veias salientes e azuis
(Nunca tive veias salientes senão na velhice...)
Afirmam a longa existência
Talvez, amor, a tua sofreguidão por mim acabe...
Talvez a tua firme certeza
De que serei linda mesmo velhinha se extinga
Talvez o meu olhar não seja mais chama inquieta nem vontade
Talvez sobeje somente o descanso de quem viveu tudo
E o olhar pacífico de quem já nada mais deseja
Veja Caronte que aguarda o óbolo para a travessia
No epitáfio, lê-se: Viveu o que pôde livremente.


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